segunda-feira, 17 de março de 2008

Uma Blognovela Patética

.
Qualqué coisa: liga nóis!

Estrelando: Robson Véio
Com: Ricardo Soares e Morcego do Sistema
Participação Especial: Peugeot do DJ Edilson
Interferências gráficas: Peace Turbilhão Urbano
Pretexto Sem Direção: Nelson Maca
Trilha sonora: Lumpen
Inspiração: Contos Celulares de Pensamentos Vadios
Patrocínio: Estopim Records
Uma produção: BEP: Blackitude Entretenimentos Periculosos
.


Cena 1 - Cabeça de Gelo


- Alô.. - Fala, ladrão! - Hã!? - Faaala, tru!!! - É do 9999.........
- Fala duma veiz, Jão! Cê qué o quê?
- Olha, me desculpe, mas eu acho que esse celular é meu... - Sim, e daí?
- Pô, amigo, eu preciso dele. Taí toda minha agenda. Dependo dela pra trabalhar.
- Sinto muito, véi, agora já quebrô a guia! - Pôxa!
- Ô, barão, nada contra o senhor, não. Sabe comé, né?
- Mas, meu, eu sou um coitado, não tenho nada. Você já ficou c’os trocado da carteira, sacou meu dinheiro do banco. Até minha aliança vocês pegaram...
- Pra ver, né tiu. A coisa tá pegando pra todo mundo. Se a situação tivesse melhor até que a gente dava uma estia pr’ocê. Mas, infelizmente, a coisa não tá boa pra nóis, tiu... tamo tudo no bico do corvo... u barato tá sinistro!
- Pra mim também tá foda - É, eu percebi, só vintão na carteira... e uma onça no banco...
- Onça? - Esquece, tiu!
- Pra vê a injustiça. Por que vocês não escolheram alguém com mais grana?
- Pô, né, tiu, tu é pé-rapado que nem nóis, mais bota mó marra, né!? - Como é? Não entendi.
- Se qué o quê, tiu, nesta pinta toda, pagando de fofinho, té parece que tem bosta no cu!
- Calma! - Tô calmo, tiu. Tô cabeça de gelo!


Cena 2: Pagando de Gatão

. - Sério... por que logo eu? - Pô, Jão, cê tá pagando de otário caquele pejô: prata, rodão, som no talo, braço pra fora, qué o quê?
- Nada disso, cara... porra, num paguei nem metade do carro ainda... falta vinte e oito prestações de quase seiscentos conto. Dois anos e poucos de consórcio.
- Paciência, Jão, agora fudeu. Já foi! Aí, ó, troca por uma barca mais favela. Um voyage, sei lá! Se liga, viu: se uns chapa quente enquadra você pagando de gatão por aí num tem volta não, nêgo.
- Sei... tá bom... mas... pôxa, cara... devolve pelo menos o celular, vai... preciso dele pra trampá. - Cê’acredita em deus, Patrão?
- Por quê? - Pois devia, tá ligado!? Cê devia era dar graças, tio... devia erguê as mão pro céu! - Eu já agradeci. Graças a Deus, vocês não levaram o carro, só os cds e o som.
- Pra vê, tiu, aliviamu a barra pro’cê.
- Mas levaram meu celular... - Cê preferia o quê, Jão, qu’eu te cortasse no aço...
(silêncio constrangedor)


Cena 3: Sistema do Vampiro

.
- Tá certo, cês me deixaram vivo. - Te demo um mole, Jão. Cê deu mó boi que nóis num tava bolado. - O quê? - Esquece, tiu!
- Não sei o que eu fiz pra merece isso. - Nem nóis, nêgo. Na real memo, nóis também é vítima! - Vítima!? Vocês? Como assim? - Do sistema, tiu!! - Do sistema!!?
- Sim. A culpa é do sistema capitalista! Todo mundo só se liga nas coisa material. Só consumo só consumo... É como diz o régue: sistema do vampiro.
- Do vampiro!!? - É... que anda sugando nóis tudo... o povo.
- Ãã!... - Pode crê, o rastamã dá uma idéia reta no barato. - Ah... tá... tá... tá bom.
- Pra vê, né, nêgo, o que o sistema faiz com nóis.
- E aí? - E aí o quê, Jão? - Meu celular... - Sinto muito, tiu, já foi. Dançô.


Cena 4: Jabuticaba Minha Cor!

. - Pô, minha cor, cê tá desconsiderando o irmão.
- Comé, barão!? Minha cor o quê?
- Pô, cara, eu sou preto igual a você. Vai desconsiderá?
- Óia só...! Té você, Jão? - Que que tem eu, amigo?
- Com esse papo de cor. Qual’é, barão? Ce é abestaiado, é? Irmão de cu é rola!
- Pô, negão, nós somos discriminados do mesmo jeito.
- Aonde!... é bem capaiz... só se for! Tá me tirando, coroa!?
- Vai negar que somos iguais? - Ce tá dizendo isso por que o bicho pegô pro seu lado, tiu. Se não, tava me tratando que nem zé-povinho.
- Pô cara, considere...
- Ói, tru: nêgo jabuticaba eu conheço de longe. Quem gosta de pardo é certidão de nascimento e IBGE. Se ligue, mon! É só o bicho pegá que lá vem os irmão! Vai na manha, coroa. Fique dando boi, não!


Epílogo: Liga Nóis!

.
- Então, tá... - Já era!
- Tem certeza que não vai considerá? - Nem dá ... nem qu’eu quisesse, mon.... o frete já tá encomendado.
- É isso mesmo? - Só! - Então tá. - Tá!

- Até logo, então? - A gente se vê, barão!
- Tá!
- Qualqué coisa, liga nóis!



..........................................
- A FIRMA:

* Publiquei este conto no livro organizado pelo Alessandro Buzo: Suburbano Convicto: Pelas Periferias do Brasil (http://www.suburbanoconvicto.blogger.com.br/). Há uma cara, penso em postá-lo aqui no Gramática... Depois de ler os “loucos” Contos Celulares de Sérgio Vaz (http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/), senti-me inspirado.
Buzo, Vaz: é tudo nosso!

*Lumpen - Hardcore - Metal:
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=55863320
.
*Peace - Graffiti:
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=154307190

*Estopim
Records
http://www.estopimrecords.com.br/estopim/index2.html

* DJ Edilson
http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=182269963

Todo Respeito e Amor aos Parceiros ao Lado!!!!



Nenhum comentário: