quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

ENTREVISTA / JEF - OQUADRO (ILHÉUS)

.JEF com graffiti de Peace e Limpo
oquadro,
grupo de rap de Ilhéus de grande talento, faz apresentação imperdível em Salvador (leia abaixo) ao lado do pernambucano Buguinha (Dub). Na primeira vez que assisti oquadro, confesso que fiquei impressionado. O grupo já havia se apresentado antes em Salvador, no Quilombo Cecília, mas minha primeira audição foi no Fora de Órbita Hip Hop em pleno dia das mães de 2005. Na ocasião, escrevi um texto sobre a festa para o site Bocada Forte (em breve, republicarei aqui). O que primeiro me chamou a atenção (vejam o preconceito...) foi o fato dele ser do interior. Eu, que achava que a capital dominava “naturalmente” a cena baiana, tive que engolir, porém com alegria, mais essa verdade: não existe centro nem capital para o talento e a criação. Baixei a bola e curti um dos melhores shows de rap que tive a oportunidade de estar até hoje. oquadro é de fato uma banda criativa, capaz e efetiva... além de afetiva, é lógico!! O trabalho musical e o trato do texto poético se equilibram de maneira tensa e bela no trabalho destes guerreiros planetários de Ilhéus. O fato de o grupo usar, para fazer rap, guitarra, baixo, percussão e bateria com muito groove e verdadeiro feeling agradou-me muito. Foi uma noite memorável! Naquele momento, mesmo com o conhecimento do Câmbio Negro e do Faces do Subúrbio, ainda não me empolgara suficientemente com esse tipo de formação. Continuo preferindo a velha e bombástica formação Dj + MCs. Mas oquadro, juntamente com a inesquecível Testemunhaz da Periferia são casos de amor incondicional. Gosto pra caralho! São bons pra caralho! Vou aproveitar, então, para tentar inocular este vírus do bem em você, chamando-o, mais uma vez, para a Zauber no dia 28, para uma celebração verdadeiramente digna de nossa Bahia Preta. Segue aí uma conversa com um dos parceiros d’oquadro, Jéferson – o JEF, que tem estabelecido contatos imediatos com Salvador e tornou-se irmão de sangue meu e da Blackitude - pela sincera amizade e cumplicidade com que participamos da construção da cena hip hop estadual. A cada novo dia, um dia atrás do outro... você nos entende, não é? Então vamos trocar umas idéias com esse querido guerreiro aguerrido:
.
Esse é da Antiga - Viaduto do Politeama

Gramática da Ira (GR) - Como o Rap chegou até vocês? Como é ser da cultura hip hop em Ilhéus?
Jéferson (JEF) - Pra cada um chegou de um jeito, eu conheci em minha área Banco Central (distrito de Ilhéus), através de um primo que sempre trazia uma fitas da furacão 2000, botava no som da casa dele no volume e no grave mais alto. Ele dançava muito, e nessa época eu tinha uns 13 anos, não sabia diferenciar, mas muito daquilo q eu chamava genericamente de “Funk” já era Kraft Werk, Run-DMC, MC Twist, entre outros. Depois q eu escutei a coletânea “hiphop cultura de rua” com Thaíde, Código 13, etc, é que eu passei a entender as diferenças e peculiaridades da cultura, a ponto de ter minhas preferências.

GR - As letras d’oquadro são bastante politizadas. E os componentes? De que movimentos sociais vocês participam? Qual a atuação de vocês?
JEF - Um é professor, outro jornalista, outro pintor de carro, e assim vai. Infelizmente vivemos num universo onde a política se faz necessária para a relação entre as pessoas, política de propriedade, política de segurança, política de comportamento e pensamento, política de educação (...) chego a acreditar q o fato de usarmos roupas é uma convenção política, já que todos sabem o que há por baixo delas. Por isso mesmo acredito que política é coisa de seres inferiores, ou seja, não evoluímos a ponto de dispensá-la. Mas enquanto isso não acontece, e como sei que cada um, de certa forma, tem a mão no volante do mundo, quero contribuir da melhor maneira, com as melhores ações, melhores pensamentos, seja individual ou coletivamente, independente de qualquer movimento ou partido q venha nos rotular ou nos determinar um certo panfletarismo. Nós somos os movimentos.

GR -Como vocês se definem etnicamente? O grupo bota este problema em questão? Como?
JEF - Essa pergunta merece uma tese como resposta, sempre q conversamos sobre o assunto nunca chegamos ao fim, ou melhor, a uma conclusão. Somos como grande parte da população brasileira, uma mistureba doida, mas acaba que somos mais negros que outra coisa, até porque nos identificamos com a cultura, comportamento, principalmente quando me vejo na base da pirâmide social, sei de quem sou descendente.

GR -Sei que vocês admiram Fela Kuti. O que ele representa para a musicalidade d’oquadro?
JEF - O homem foi um grande gênio. Quando escutei Fela pela primeira vez, fiquei tentando entender o groove, às vezes parecia funk, às vezes parecia jazz, às vezes parecia samba, outras com os grooves latinos. É isso, é tudo numa coisa só, é a nossa África musical, que se manifestou e se manifesta de forma parecida em diversos lugares diferentes do mundo.
. JEF - Testemunhaz e Norgraf - Tudo nosso!!

GR - Quantas vezes vocês já se apresentaram em Salvador? Quando? Onde? Como foi?
JEF - A primeira vez foi no Quilombo Cecília (Pelourinho), num evento chamado “Domingueira HipHop”, depois numa boate chamada “Pop Dance”, no clube de Engenharia. Tocamos também no Rock in Rio com a banda Diamba e 2 dias depois foi com os amigos da Zambotrônic na Zauber. Só não lembro as datas.

GR - Fale um pouco da formação do grupo. Quem é quem?
JEF - Somos: Rans, Freeza e Jéferson na voz// Ricco no contra-baixo// Rodrigo Da Lua na guitarra// Dieques na percução// Victor na bateria// e DJ Reneudes.

GR - E Buguinha, como aparece na história? Vocês estão desenvolvendo outros trampos além da apresentação em Salvador? Onde mais vocês se apresentarão juntos?
JEF - Conhecemos Buguinha quando tocamos com a Nação Zumbí aqui em Ilhéus, ele estava como técnico da banda, trocamos idéias, ele se identificou com nosso som, depois nos correspondemos no myspace e acabou rolando essa conexão. Estamos pensando na gravação do nosso disco, mas ainda precisamos que muita coisa aconteça, pra que o dinheiro entre e possamos passar para a próxima fase.
. JEF com Luíza Gata e Lucinha Black Power (Família)

GR - Fale um pouco da experiência de tocar rap com dj e banda.
JEF - Foi natural isso, na época não tinha nenhum DJ que conhecêssemos, no entanto Victor, Dieques, eram músicos q gostavam de rap (entre outras coisas). Eu e Rans tínhamos algumas letras e quando nos reuníamos fazíamos um som, gostamos e pronto. Depois os outros vieram.

GR - Vocês têm algum trampo na praça? Fale um pouco disso.
JEF - Gravamos algumas músicas em um alguns estúdios, algumas num estúdio caseiro de um amigo, outras no estúdio de Comunicação Social da UESC, através de um projeto de fim de curso de Rans. Pra época foi importante, inclusive são as que estão no nosso myspace, mas sabemos o quanto está distante do que imaginamos para uma gravação. Por isso estamos tendo paciência pra sair com a qualidade devida.

GR - Quem mais “influencia” a música d'oquadro?
JEF - A rua, os livros, os filmes, informações que circulam, conversas entre a banda, reflexões particulares, situações inusitadas, o universo.

GR - Como foi a experiência de vocês com o teatro?
JEF - O melhor foi perceber que a música que fazíamos tinha muita coisa em comum com o teatro feito pela “Casa dos Artistas”, aqui em Ilhéus. Pensávamos parecido. Aprendemos muito.

GR - E a literatura?
JEF - Essa pergunta quem devia responder era Rans, ele é o cara que mais lê na banda, mas como ele não tá aqui, posso dizer que Machado de Assis, Dostoiéviski, Marcelo Rubens Paiva, Pedro Juan Gutierrez, entre outros, foram degustados.
.
JEF com Thaíde - em confraternização da Blackitude.BA

GR - Que pergunta você gostaria de fazer pra você mesmo? Como responderia?
JEF - Aí vc me pegou...

GR - Que pergunta você gostaria de deixar para os leitores do blog Gramática da Ira?
JEF - Você já se olhou no espelho hoje??

GR - Que impressões você tem da Blackitude: Vozes Negras da Bahia? (pode falar a verdade! rsrsrs)
JEF - Acho uma das melhores coisas que têm acontecido em Salvador, sempre que eu tive a oportunidade de participar dos eventos, saí satisfeito. Não dá pra explicar, tem um brilho especial. Gosto da forma que Maca faz as coisas. Pena que ainda não fizemos nada juntos, mas sei que vai rolar.

GR - Valeu, irmão, fica aí o espaço para sua considerações finais.
JEF - Queria deixar bem claro que essas respostas representam o meu ponto de vista enquanto membro do’quadro, mas não de todo o quadro, afinal somos oito, e uma hora ou outra podemos discordar de alguma coisa. Agradeço a todos que sempre comparecem quando vamos aí a Salvador, Maca e toda a rapa da Blackitude, Rangel, Da Ganja, Dimack, os caras do Afrogueto, Quilombo Vivo, os caras do freestyle, Elementos X, Zambo, Ministéreo Publico, Sereno, Fal, Chiba, todo mundo. Valeu, Abração.
.
JEF com Ed.Brás (Zambotronic) /
no Sebo Berinjela (parceiro nato)


Ouça o som d'oquadro:
http://www.myspace.com/oquadro

Contatos: Jéferson (73) 8132 9557 / 3632 1135

One People! One Love!!
By: Nelson Maca - Blackitude.BA
Juntos!!!

O QUADRO DE VOLTA A SALVADOR

.
GRAMÁTICA DA IRA E BLACKITUDE.BA CONVIDAM MAIS UMA VEZ!!

Então rapaziada, é depois de amanhã, sexta-feira, dia 28 de dezembro que a banda OQUADRO tá de volta a SSA. A banda vem trazendo um repertório com sua musicalidade própria e independente de qualquer coisa, mostrar bons grooves e boas letras. Além da banda OQUADRO, vamos ter a grande presença e a sonoridade de BUGUINHA DUB E VITROLA ADUBADA, transportando e mostrando o melhor do Dub Jamaicano diretamente pra SSA. BUGUINHA DUB é o técnico de som da Nação Zumbi, e produtor musical independente, grande conhecedor da música Dub e afrobeat. Isso tudo ainda contará com a discotecagem do DJ 440, que vem diretamente de Pernambuco trazendo boas vibes e rítmos...

NÃO VÁ SE ESQUECERM HEIN!!

É DIA 28 DE DEZEMBRO, A PARTIR DAS 22:30, NA ZAUBER MULTICULTURA (ladeira da misericórdia)

UMA NOITE COM MUITO Hip Hop, Dub, Afrobeats, Reggae, jazz, e ainda projeções de alto teor explicativo.

INGRESOS:R$10,00.

PREPAREM OS OUVIDOS E SINTAM-SE EM CASA!!!ONE LOVE!!!

CONTATOS OQUADRO: JEFERSON (73) 8132 9557 / 3632 1135 FREEZA (73) 9976 7956 RICARDO (73) 9191 2221 / 3633 5139 RANS (73) 8807 1118 VICTOR (73) 9975 2337 / 3633 5139

domingo, 23 de dezembro de 2007

Confira novo Site do Irmão GOG!!

.. GOG, em ação, veste a camisa do "Reaja"

GOG, nosso irmão, lança novo site. Confira: é tudo nosso!!

http://www.gograpnacional.com.br/

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

O Natal de Sérgio Vaz

..Salve fronte:
tava pensando em escrever algo sobre o Natal.
Sabe comé, né negadinha....
Tava pensando em falar deste belo evento para nós negros, periféricos, etc e tanto...
Mas eis que li um texto do SérgioVaz e pensei...
.
Dizer mais o quê?
.
Segue aí o texto do mestre... eu assinaria embaixo (se tivesse talento, né nêgo?? / rsrsr)

E você?
.
Renas de Tróia - de Sérgio Vaz
.
Para delírio dos comerciantes deste país, chegamos finalmente na semana das festas natalinas. Nem no dias das mães consegue-se vender mais do que o natal. É uma época para dar e ganhar presentes. Época que se mede o afeto das pessoas pelo tamanho do presente que se ganha. Ou dá.
.
Por onde quer que você ande você pode escutar os sinos badalarem, e de quebra, a cantora Simone importunando os nossos ouvidos com o chato daquele refrão: "então é Natal, então é natal, então é natal...", como se a gente ainda não soubesse. Só de lembrar...
.
Para falar bem a verdade eu nunca gostei do natal, não sei bem o porquê, mas não gosto. Acho que deve ser porque nunca tive natal na minha infância, tampouco na adolescência. E também nunca gostei do velhinho de barba, o tal de Noel. Ele, pra nós, sempre foi uma pessoa extremamente deselegante, nunca aceitou o convite para visitar a nossa casa. Dizem as más línguas que ele não gosta de criança pobre e tem medo de circular na favela.
.
Prefiro o Ano novo.
.
Ninguém pode me culpar por não gostar do papai Noel. Todos que eu conheci tinham barba, cabelo e barriga falsa, e quase nenhum era velhinho. E na sua grande maioria homens desempregados à procura de bico para sobreviverem. Mais ou menos como em lanchonete Fast Food americana: gente que é paga pra sorrir, mesmo sem alegria no coração. Ninguém pode ser feliz ganhando o que eles ganham.
.
Dizem as más línguas que a figura do bom velhinho foi criado sob encomenda ao artista e publicitário Habdon Sundblom por uma grande empresa de refrigerante mundial. E Assim nascia mais um personagem americano que dominaria o mundo.
.
Não gosto desse clima natalino porque ele me soa falso. As pessoas me soam falso. E eu também sôo falso. Por conta desse clima de falsa solidariedade vou ter que abraçar até quem eu não gosto, e ser abraçado por quem não gosta de mim.
.
No natal a gente finge que ama e acredita que é amado. Nada mais triste.
.
Não é amargura, coisa de poeta que não tem chaminé, só não entendo o natal, esse "jeito americano de ser", que as pessoas acreditam, mas que eu não tenho.
.
Não gosto do natal porque também é uma época que neva muito no Brasil, não suporto o frio, meu aquecedor está sempre quebrado.
.
Mas gostando ou não gostando, já é natal. Mesa farta , mesa falta, em tudo quanto são casas. Em umas, Cristo não se manifesta, em outras não foi convidado.
.
Se puderem, tenham boas festas.
.
Ah, antes que eu também me "esqueça": Feliz aniversário, Jesus.
.
.
Visite o blog do irmão Sérgio Vaz:
www.colecionadordepedras.blogspot.com

OQUADRO E Buguinha Dub na Zauber Multicltura

.
OQUADRO

Banda formada desde meados de 1996, trabalhando em experimentos com o Hip Hop, vindo à tona influências das variadas vertentes da música negra universal. Atualmente OQUADRO é considerado para muitos como o "Divisor de Água" da cena Hip Hop em Ilhéus e região. OQUADRO também é uma peça de teatro que acontece na Casa dos Artistas em Ilhéus. Um espetáculo teatral baseado em notícias jornalísticas que mostra as raízes e facetas de universos marginais, suas vítimas e seus mentores. Tudo isso com a banda ao vivo fazendo de suas músicas um narrador de língua afiada, atraindo a atenção do público com suas intervenções entre uma cena e outra.
.
.
"Se a arte é manifesto, a música é a fala. Motivada e energizada pelo desejo incessante do dizer. São palavras que constroem e solidificam informações, saciando o ensejo dos que almejam beber "da fonte". Muitos têm sede e não sabem, morrem desidratados pela falta de referências. São páginas em branco arrancadas antes mesmo que seus protagonistas aprendam a escrever. Eis então a sublime missão da música; onde o texto tem a mesma importância que as asas tem para os pássaros. Possibilitando levar suas divinas melodias muito além das fronteiras pré-estabelecidas. Tocando profundamente gélidos corações, presenteando-os com o fervor artístico do conhecimento, que vem na exata medida para atender a nossa parca capacidade de compreender a vida. Eis OQUADRO..." (OQUADRO / release divulgação)
.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

POÉTICAS DIVERGENTES DA BAHIA / um conto de Blequimobil

.Bléquimobil


Tio me dá um real


Aquela cara suja, estampada em um cabeção sustentado pelo corpo magrinho, vestido por uma camisa três vezes maior que ele, chamou-me mais atenção do que nos outros em volta, maiores e menos sujo que ele.

Eu comia um beijú de banana com queijo na frente da faculdade, atrasado como sempre, era feriado dos comerciários e além do beijú só a banca de revista estava aberta.

Ele veio naquela:

- Tio me dá um real?!
- Porra, um real, colé pivete, um real pra que?
- Pra eu comprar um lanche.
- Escolhe um beijú ai que eu pago.
- Eu queria o dinheiro.
- Ah, se fuder pivete, cê quer é comprar um queijo né?
- Tsc! Fumo crack não tio.

A porra do beijú não tava tão bom, aliás ele era uma merda, comprei por falta de opção mesmo, e o refrigerante se fez necessário. Fui a banca de revistas e o sacaninha já tava lá, no corre dele.
.
.
- Tio me dá um biscoito?!
- Niuma. Quanto é o biscoito tia?
- Um real!
- Não tio me dá este aqui de um e cinquenta.
- Porra, você é abusado demais, ainda quer o mais caro, na moral, vai se fuder, num vou dar mais porra nenhuma.
- Tá bom, tá bom, me dá o de um real mesmo que eu tou com fome.
- Cobrai tia o biscoito dele.

A tia me olha com aquela cara de que eu tou sendo feito de otário, mais eu penso: “foda-se, saiu uma grana hoje, vou ajudar este pivete”

O sacana pegou o biscoito, se afastou alguns metros de mim e riu ao mesmo tempo que levantava a camisa gigante e me mostrava mais dois pacotes de biscoito.

- Ah, filho da puta é niuma, o seu tá guardado.
- Hahahahahahahaha! Tá mesmo, aqui oh!
- A fome de hoje não é a fome de amanhã.
- E nem o otário de hoje vai ser o mesmo de amanhã.
. .

Acesse o blog de Bléquimobil / http://www.tocadiscopublico.blogspot.com/

Se ligue no Fora de Órbita Hip Hop

Juntos!!
Nelson Maca - Blackitude BA

domingo, 16 de dezembro de 2007

Guerreiros da Blackitude: B.Boy Ananias

.B.Boy Ananias

Seu contato com o break se deu em 1995.
Na época, freqüentavas os famosos bailes blacks do subúrbio ferroviário de Salvador, que eram parte de um movimento, ainda existente hojhe em dia , chamado Black Bahia.
O break era bastante difundido no subúrbio, influenciando, diretamente, os jovens dançarinos.
A partir daquela experiência, Ananias tomou contato com o primeiro grupo de break de Salvador: o Primitivos do Rap.
Logo tornou-se integrante do grupo, o que era uma coisa bastante difícil devido à novidade e complexidade dos movimentos.
. Com professores da rede municipal de ensino de Salvador - UFBA

Desenvolveu mais as técnicas da dança e compreendeu melhor sua abrangência cultural.
Foi convidado a fazer parte do grupo American Bahia no centro da cidade, quando teve a oportunidade de ampliar meus conhecimentos do break, e entendeu o que é ser um b.boy.
O American Bahia, naquela época, era o grupo de street dance de maior visibilidade na cena local.
Porém não estava vinculado ao movimento hip hop.
. Blackitude: Hip Hop em Movimento - Theatro XVIII

Para Ananias, o break já representava algo bem maior do que dançar ou “rolar” pelo chão mecanicamente. Sua aproximação do hip hop organizado tornou-se inevitável.
O break também é um elemento que deve ter participação na formação do caráter, consciência corporal, social e política dos envolvidos, direta ou indiretamente, na cultura de rua, sendo também um instrumento pedagógico.
Desde de sua conscientização, participa do movimento hip hop soteropolitano, ministrando oficinas, palestras, aulas, e participando de muitos projetos que visam o progresso humano dos envolvidos.
. .
Com o B.Boy Jorge
Blackitude: Hip Hop em Movimento - Theatro XVIII

Por outro lado, dá seguimento à sua carreira artística, dançando em shows de rap e outros.
Especializou-se, com muita dedicação, no passo conhecido no break como giro de cabeça, além de outros passos de relativa dificuldade.
Além de dançar break, tem formação de ator, de dança afro e domino algumas técnicas circenses, o que amplia as possibilidades artísticas de suas performances, bem como orienta sua conduta como um todo, reforçando a linguagem corporal e aproveitando elementos cênicos que ampliam o dinamismo de sua dança.
. Com o B.Boy Bruce Lee -
Blackitude: Hip Hop em Movimento - Theatro XVIII

.
Nunca se esquiva de compromissos de realizar trabalhos sociais, apresentando-se não só como dançarino, mas também bem como ativista político e social no âmbito do hip hop.
Diz Ananias: “nunca se esqueço: break é evolução”.
.
Com Nelson Triunfo
Praça da Sé - Salvador

.
Isso é Blackitude!
One People! One Love!!

Nelson Maca

sábado, 15 de dezembro de 2007

Rap é Poesia! Rap é Música! Rap é União!

. .
É o crime!

de G.O.G.


É o Crime,
o som batendo forte nos falantes
É o Crime,
ser consciente na voz arrogante
Amante
das causas das canções que me comovem
Do rap, do gueto, dos pretos que promovem
O crime
do raciocínio lógico pro bem
O crime,
da identidade própria também

Não sou refém, sou rolo compressor
Sou G. O. G.,
um gladiador

Dou mó valor na questão da postura
Dou mó valor pra quem suporta vida dura
Quem me conhece sabe o que eu penso,
o que eu quero
Corro atrás, sempre mais, não espero
Meu nome, meu retrato estampados nas camisas
Jamais foram relacionados ao motivo das brisas
Frizam
as frases de um poeta contundente
Reprisam
rap nacional constantemente
Na frente,
minhas regras meus conceitos sobre a paz
Ranjam os dentes, mazoquistas intelectuais

Quer mais?!?!
Canto o que o playboy mais odeia
Quer mais?!?!
Não multiplico o pão na santa ceia
Mas é o crime,
viver sobre pressão da repressão
É o Crime,
saber que não filme esse mundão
Brutalidade é o pior
do Supercine

Representar as quebradas do Brasil
é o crime
Buscar sabedoria no poema fortalece
Som alucinante até rejuvenesce
Rezo a prece
que leva o coração já quase morto
Alegria e alguns momentos de puro conforto
Por mais que eu fale citando momentos do dia-a-dia
Muitos ainda preferem viver na orgia

Quem diria,
três letras que já dizem tudo
Quem diria,
que o vinil do Gog é um escudo
Absurdo,
pra quem não sabe o limite da potência
Ficou surdo,
ergueu no maximo, paciência
Eu sou,
quem abala as estruturas
eu sou remédio
Sem mistério, meus filhos, minha mulher, meu império
Protesto, justiça lenta, cega, surda e muda
Manifesto, nota dez pro mano que estuda
Criminosos da comunicação minha família

Segue a trilha,
só louco consciente
na guerrilha
No combate da febre criminosa
eu sou receita
Me respeita,
meus versos minha canção minha ceita
Credo, hipocrizia sistema nojento
Prego sem medo no alto pensamento
Que reflete o imenso poder das palavras
Que pra burguesia são malditas e macabras
Brutalidade é o pior do Supercine

Representa as quebradas do Brasil
esse é meu crime
Então reflita,
sobre seus conceitos
Então reflita,
sobre seus direitos
Então reflita, vem jogar no nosso time
Então repita mensagem positiva
é o crime

A revolta de Tia Anastácia - um clássico do poeta Giovane

.
A revolta de Tia Anastácia
.
Tia Anastácia está revoltada
Tia Anastácia está revoltada
Tia Anastácia está revoltada
.
Hoje eu estive com Tia Anastácia
Ela me disse que está muito revoltada
Porque o Sítio do Pica pau Amarelo está tirando ela como otária
Ela faz os bolinhos e Dona Benta recebe a medalha
.

.
Tia Anastácia está revoltada
Tia Anastácia está revoltada
Tia Anastácia está revoltada
.
Farinha de trigo tem que ser
Tia Anastácia
.

Autor – Giovane / Choque Cultural

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

oquadro e buguinha dub / quer mais o quê, nêgo?

.
.
Salve todos.
Há muita coisas para contar sobre os últimos dias: viiixe!!
GOG, Z'África Brasil, Alessandro Buzo, SérgioVaz, Ment, curso de graffiti, Pelourinho na Rota da Rima, Carlos Moore, Hip Hop de Alagoinhas... e por aí vai!
.
Mas vamos com calma: depois relato e ilustro isso tudo!
.
Agora é hora de dizer que ainda não acabou o ano e os corre,
pois vem aí um evento do caralho com o oquadro e Buguinga Dub e mais...
.
Tamo juntão!
Desta vez, correndo por fora, mas com a mesma disposição!!
Porque o Professsor Jeff e o Freeza são meus irmãos e da Blackitude também!!!
.
A Blackitude vai fortalecer o barato e espera que vocês não durmam de tôca!!
.
Aguardem detalhes, fotos, entrevistas sobre este evento do dia 28 de dezembro na Zauber - do parceiro Max!
.
One People! One Love!!
Nelson Maca - Blackitude.BA
Botando muita fé!!!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Alessandro Buzo na Bahia Preta da Blackitude

.
Acompanhe o Buzo na Bahia:
.

Domingo / 02.12 / Só maresia

Tarde - Recepção da Blackitude:
Feijão, Samba e Cerveja na Jaqueira do Carneiro
Anfitriã: Dona Creusa / lá na quebra do parceiro Penga Blackitude.
Noite – Dia do Samba e Festival África-Brasil no Centro Histórico (Martinho da Vila: Nei Lopes, Gilberto Gil,
Neguinho da Beija Flor, Wilson das Neves, Edil Pacheco, Mariene de Castro, Muzenza, Margarete Menezes) – duas festas loucas no Pelourinho!!

Segunda-feira

Tarde - UCSal - Universidade Católica de Salvador
Mini-curso de Literatura Divergente
Alessandro Buzo e Nelson Maca (UCSal)
Noite – Mesa redonda: Literatura Divergente + Sarau
Alessandro Buzo / Nelson Maca / Silvio Roberto (UNEB)
Sarau com poetas da Blackitude, convidadose visitantes!

Terça-feira
Manhã – Visita ao hip hop do bairro do Nordeste de Amaralina (confirmar)
Tarde – Visita a cidade de Lauro de Freitas – Posse PCE (confirmar)

Quarta-feira

Tarde - UNEB - Universidade Estadual da Bahia – Mestrado em Letras
Com Nelson Maca e Silvio Roberto

Quinta-feira
Interior: Alagoinhas

Manhã – Visita ao movimento hip hop da comunidade do Barreiro
Com Nelson Maca / Silvio Roberto / MC Mamá / B.boy Nailton...
Tarde - UNEB – Campus Alagoinhas / Curso de Letras
Com Nelson Maca e Silvio Roberto
Noite – Fora de Órbita Hip Hop (Batalha de MC’s)

Apareça!
É tudo nosso!!
.

Alessandro Buzo: Um Suburbano Convicto

Alessandro Buzo mapeia as quebras do mundaréu
.

Alessandro Buzo com o "inquieto" e inseparável Evandro

A vida das guerreiras, o cotidiano dos subúrbios e o vai-e-vem dos improváveis trens que maltratam as comunidades menos favorecidas de São Paulo compõem o universo dos livros que li do antenado e inquieto Alessandro Buzo.
Por culpa do poeta Sérgio Vaz, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a figura simpática e forte do Buzo em dezembro passado, lá no bar Zé Batidão. Ele recebia o II prêmio Cooperifa. Pude, finalmente, apertar sua mão e aplaudi-lo de perto, pois, à distância, venho acompanhando e aplaudindo seus corre através do blog “suburbano convicto” - também título genial de um de seus livros.
.

Buzo com seu Prêmio Hutuz 2007 - por Guerreira (novo romance)

Nas duas edições da premiação da Cooperifa, Buzo foi contemplado. Para mim isso é o melhor sinal de que o cara merece nosso respeito. Se tem moral na quebrada dele, nada será forte o bastante para subtraí-lo. Se sua comunidade e cotidiano são a razão de ser de seus escritos, demonstra raiz, não é tronco à deriva.
Por isso deve ser lido, porque é e representa, pois sua carreira, além da busca da elaboração do texto jornalístico e poético, tem sido uma luta em busca de mais respeito e pela melhoria material das populações periféricas. Estejam onde estiver. O quintal é grande e disperso, mas a família é uma. O principal viés de acesso do autor a essa causa tem sido a palavra: escrita, declamada, cantada ou conversada. E ele é bom nisso tudo, seja na condição de autor, editor ou produtor cultural. Na ficção, no relato antropológico ou no mundo do hip hop.
.

Buzo com a inseparável mãe do Evandro, Marilda Borges

Adquiri, em suas próprias mãos, três de seus quatro livros publicados: “O trem: contestando a versão oficial”; “Suburbano convicto”; e “Guerreira”. Pedi para que ele autografasse os três na moral... ele o fez. Li tudo num tapa. Não é caô, não. Li os três em uma semana. Leitura rápida e prazerosa. Texto sem proselitismo e sem querer aparentar o que não é. Ou seja: palavras retas, simples, mas com tensão suficiente para seqüestrar o leitor. Que faz rir, se enraivecer e chorar. Minha crítica mais sincera: simplesmente gostei.
.

Buzo apresenta o Conduta de Rua e produz o Favela Toma Conta

O que mais me surpreende é sua sinceridade e o despojamento narrativo. “O trem” foi o que mais me tocou. Percebi de maneira aparente seu estilo: objetividade, condução jornalística das crônicas, relatos e críticas que nos coloca in loco. Parece que estamos ouvindo o sambão da sexta, paquerando as meninas, adquirindo produtos dos camelôs, tomando um trago, respirando o aroma forte da erva, ou mesmo nos esquivando das mãos malandras que tentam bafar nosso bonés, relógios, carteiras. São dramáticas as histórias de acidentes, a descrição dos pingentes e dos inacreditáveis remendos de folhas de madeira de segunda linha do chão do trem. E, é claro, suas severas críticas aos órgãos públicos que “organizam” todo o caos relatado.
. Poética Periférica Nata: Buzo, Sérgio Vaz, Dinha e Sacolinha

Os relatos de “Suburbano Convicto” é totalmente familiar para todos que, como nós, respiram o ar suburbano e continuam sujando os sapatos na lama rude dos becos e vielas do mundaréu. Repito o poeta: periferia é periferia em qualquer lugar. Não sei onde começa e onde termina, ou até aonde vai o relato biográfico, mas soa muito sincero esse livro. Bem lido, observado e respeitado, temos aí um verdadeiro documento sobre a realidade do povo humilde.
Alessandro Buzo não precisa título acadêmico para traçar um mapa preciso de parte das mazelas que afligem os jovens das comunidades de baixa renda. Mas também mostra a dignidade e a alegria presentes e possíveis em tais comunidades, e quanta vida pulsa no “lado b” das grandes cidades. Seu lar. Seu lado. Seu Laudo. Seu maior amor. Sua alegria. Sua dor. Seu suor. Sua missão. Sua família.
. Guerreira pela Global: em todo Brasil - Brinque!!!

Em “Guerreira”, Buzo ensaia sua iniciação no romance, traçando a linha de uma personagem típica das metrópoles. Do consumo de drogas pesadas à prisão injusta, do amor sincero à prostituição chic, relata a vida movimentada de uma mulher que vai à luta com todas as armas que a sobrevivência lhe permite. O autor pesa a mão quando o assunto é sexo e drogas, apimentando sua narrativa com passagens eróticas explícitas e toda sorte de vícios e violências que preenchem o submundo; e que botam em contato ou choque os dois “m” extremos da balança social: milionários e miseráveis. O enredo, repleto de peripécias, dá altas guinadas na vida da protagonista, que circula da liberdade à prisão, do homo ao hetero, do lixo ao luxo.
Destaco dois traços em “Guerreira”: a busca de neutralidade no relato e a condução cinematográfica da narrativa. Li o romance, imaginando um filme terrível sobre nossas verdades mais íntimas. Porque Buzo traça um olhar desconcertante sobre o Brasil num realismo de causar náusea aos que idealizam ou mitificam nossa terra como o paraíso ao sul do Equador.
. Suburbano Convicto: um clássico periférico

Como eu disse no início, Alessandro Buzo tem moral na quebrada, e, logicamente, isso tem a ver com seu pertencimento ao ambiente. Isso tem a ver com o respeito pela sua gente. Esse mesmo pertencimento - e respeito mútuo - o coloca num lugar privilegiado para “observar” e relatar o trajeto da sua guerreira. Daí a sua capacidade de narrar uma série de fatos genéricos ao cotidiano de grandes cidades sem correr no risco de um julgamento leviano. Em seus textos jornalísticos e ficcionais todos são humanos. Nem drogada nem prostituída, mas, antes de tudo, sua personagem é observada e representada na sua dimensão mulher possível.
. O trem - livro que consagrou Buzo

Essas são minhas primeiras impressões da leitura deste autor que merece ser lido com mais cuidado. Menos apressadamente. Sua literatura revela um pouco mais de nós que, em muitos casos, nos assustamos com nossa imagem no espelho. Mas, em outros, nunca nos refletimos tão humanos. Nunca fomos tão nós mesmos.
Eu, que cheguei a comprar um livro nas mãos de Plínio Marcos, sei bem da importância da contra-literatura de “O trem”; “Suburbano convicto” e “Guerreira” para minha condição humana.
.
Guerreira na versão rua - leia e depois me diga!!


E você, leitor, o que já leu ou está lendo de Alessandro Buzo?

Nelson Maca - Blackitude-BA - Liga Africana Atual