segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Literatura de Preto e literatura sobre o preto - escolha a sua, Nêga!!

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graffiti - neuro
Por aí,
nos cursos, debates, conversas, cachaças, sempre me perguntam o que é a literatura negra.
Ou então, qual a diferença da literatura negra.
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Perguntinha fácil, hein, negona?
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É incrível, mas, partidário do conceito literatura negra como sou (aliás, um verdadeiro programa de lutas), essa pergunta sempre mexe comigo.
Não pelos outros; por mim mesmo!
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Às vezes, a pergunta vem de guerreiros etíopes em busca de forças e cumplicidade para a batalha contra os exterminadores dos nossos povos e culturas.
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Às vezes, são os vermes de sempre, que ainda pensam que podem corroer nossas convicções com uma merda de um discursinho acadêmico tipo UFE - universidade federal do escambau.
São os universitarianos: uma antiga tribo européia que sempre adorou o isolamento do tipo Rapunzel!
(Derramando, sobre nossa alma, sua lábia = falsas palavras).
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Domingo, conversando novamente com o meu brother, o poeta Giovani - do Choque Cultural, depois do show do Ilê Aiyê; e, hoje, lendo umas coisas aí, tenho pensado nisso tudo, negona!
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No fundo, é reflexo do debate que fizemos com o Sérgio Vaz e o Hamilton Borges Walê, meus heróis ao lado, na última sexta-feira, aqui, na Bahia Preta.
Né, não, Sergião!?
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O Sérgio falou de poesia em bares, fora do altar da assimilação em que verso foi historicamente encarcerado.
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Viiixxe, o poeta da Cooperifa tava inspirado!!
Disse até, que continua querendo ser o Zidane, e que, com a bola que ele anda batendo no baba dos veteranos lá do Piraporinha Bavaria Clube, dá pra encarar o escrete do atual Bahia.
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O Hamilton Borges falou de canetas que sangram azul.
Que, se você conseguir viver sem escrever, então, negona, procure outro ofício, pois escritora não és!
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Meu pai, Oxalá!!
O Hamilton venho nos valer!
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Quando ouço pessoas como o Sérgio Vaz e o Hamilton Borges (acima), que continuam ao nosso lado, sujando as solas dos sapatos na lama rude da favela, cada vez mais, penso no quanto podemos ser destemidos e temidos com nossas palavras:
que jogam os racistas para trás,
que fuzilam burocratas,
que exterminam os vampiros,
que repelem os burgueses,
que queimam os otários.
Mas que, também, nos confederam,
nos unem, nos irmanam, nos casam,
nos fazem rir entre nós sem estranhamento.
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Nos botam na mesma frente da mesma guerrilha,
parelhados com GOG, com o Gaspar, com o LF, com o Buziga,
com o Caj Carlão, com o Geraldo Cristal, com o Geovani,
com o Alessandro Buzo, com o Jota C, com o Edy Rock,
com o Aspry, com o Blequemobil, com o Mandingo,
com o Robson Véio, com o Gomez....
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Com tanta gente brava...
Com tanta gente nossa...
Com tanta gente boa!!
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Viiixxe! Eu tenho um clã!
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Nelson Maca
um negão mal educado
com um milhão de pensamentos desaforados
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Áfrika!
One People!
One Love!!
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Sistema, trema!

Duas Negras Fulô. Escolha a sua, Nêgo!

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Ou então, esqueçam tudo que eu disse no post anterior, e leiam apenas isso:

Uma:
Essa Negra Fulô (Jorge de Lima / acima)

Ora, se deu que chegou / (isso já faz muito tempo)
no bangüê dum meu avô / uma negra bonitinha, / chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / (Era a fala da Sinhá)
- Vai forrar a minha cama / pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar / a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô! / ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá, / pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / (Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô, / em abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô! / Vem coçar minha coceira,
Vem me catar cafuné, / Vem balançar minha rede,
Vem me contar uma história, / Que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

“Era um dia uma princesa / que vivia num castelo
que possuía um vestido / com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato / saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou / que vos contasse mais cinco”

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô! / “minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou / pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou”.

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / (era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô!) / Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou? / Ah! Foi você quem roubou!
Ah! Foi você quem roubou!

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

O Sinhô foi ver a negra / levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa, / O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu / que nem a negra Fulô).

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche, / Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou? / Ah, foi você quem roubou!
Ah, foi você quem roubou!

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

O Sinhô foi açoitar / sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia / e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou / nuinha a negra Fulô.

Essa negra Fulô! / Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô! / Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso senhor me mandou? / Ah Foi você quem roubou,
Foi você, negra Fulô. / Essa negra Fulô!


A outra
Outra Negra Fulô (Oliveira Silveira / acima)

O sinhô foi açoitar
a outra nega Fulô
- ou será que era a mesma?
A nega tirou a saia
a blusa e se pelou
O sinhô ficou tarado,
largou o relho e se engraçou.
A nega em vez de deitar
pegou um pau e sampou
nas guampas do sinhô.
- Essa nega Fulô!
Esta nossa Fulô!,
dizia intimamente satisfeito
o velho pai João
pra escândalo do bom Jorge de Lima,
seminegro e cristão.
E a mãe-preta chegou bem cretina
fingindo uma dor no coração.
- Fulô! Fulô! Ó Fulô!
A sinhá burra e besta perguntava
onde é que tava o sinhô
que o diabo lhe mandou.
- Ah, foi você que matou!
- É sim, fui eu que matou –
disse bem longe a Fulô
pro seu nego, que levou
ela pro mato, e com ele
aí sim ela deitou.
Essa nega Fulô!Essa nega Fulô!

domingo, 28 de outubro de 2007

BlacKitude e Pronto / Graffiti na Caixa Cultural


No dia 10 de outubro foi lançado o Arte Graffiti na Galeria, aprovado no edital da Caixa Cultural e que resultará numa exposição em abril de 2008. Na ocasião, foram apresentadas as linhas principais do projeto.

As inscrições, gratuitas, vão até a próxima quinta, dia 01 de novembro. Dentre os inscritos, serão seleciondos 30 grafiteiros para participar de um curso de formação, entre novembro e dezembro próximos. Finalmente, 10 integrarão a coletiva de abril. Em breve lançamos, aqui no Gramática, o programa do curso e os "professores". Na realidade, conferencistas, já que o curso será formatado como um grande senminário de Arte e Transgressão.

A Blackitude tá botando fé, por isso entrou como parceira na elaboração e execução do projeto.
Contamos com sua colaboração, ajudando-nos a mobilizar os grafiteiros da cidade.

Não tem cartas marcadas, vai valer o talento e o compromisso de cada um.
Botem fé!
É tudo nosso!!

Nelson Maca – Blackitude BA
One Love!

O quê: Inscrições para o projeto “Arte Graffiti na Galeria”
Quando: até quinta-feira, dia o1 de novembro
Onde: Caixa Cultural Salvador – Rua Carlos Gomes

Mais informações: no local, com Ítala

ENTREVISTA / Jairo - Periafricania (Rap)

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Jairo (de vermelho), mc do grupo Periafricania.
Esse é o cara!!
Da primeira vez que estive na Cooperifa, dezembro passado, vi um blackão no maior corre, para as coisas funcionarem 1000 grau. Fiquei curioso, mas não tive atitude de me apresentar direito.
Como a vida nos trava, né nêgo!?
Mas voltei em setembro de 2007, e aí confirmei a grandeza do Jairo.
Ponta firme, talentoso, humilde... mas sem subserviência, Ce tá ligada, né nêga!?
O mais lôco: além de poeta e mc do Periafricania, o cara é taxero.
Viiixxxe, cê já penso, pai, você em Sampa sendo guiado por um amigo taxero e, não bastasse, o cara é poeta da Cooperifa e mc de um grupo peri-africanizado?
Então, mãe, aproveita e leia aí a entrevista que o gente boa cedeu ao Gramática,
e veja você mesmo a qualé do irmão.

Você já ouviu falar na Liga Africana Atual?
Pois é... Seja bem vindo à linha da guerrilha preta...
Vacile, não: a negadinha tá esperta - e tá se juntando cada vez mais!!

1-Jairo, tudo certo, soul brother?
Primeiramente, você pode dizer pra nós quem é, exatamente, você, nêgo?
. Sou um homem simples, um privilegiado por estar vivo.
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2- Fala um pouco daquele rolê que demos lá na sua área, lembra? Sobre os bairros, os grupos de rap de lá, etc.
.Vixe! Mano foi muito loco uma honra estar com tantos guerreiros ativistas juntos, vai vendo, foi só aprendizado, o tempo vai passar e nunca irei esquecer daqueles momentos, sou realmente um privilegiado. Na nossa quebrada a gente tem muito muleke fazendo rap, todo mundo na correria, uns já consagrados, tipo Záfrica Brazil etc. outros nem tanto, quem tiver conteúdo compromisso com o movimento, responsabilidade na caminhada respeito com os mano e a familia com certeza vai vingar.
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3- Dá pra falar, aqui, daquela fita sobre a importância da Cooperifa em sua vida?
. Mudou minha vida radicalmente, Cooperifa acrescentou algo que só acontece uma vez na vida de um mortal, eu via o mundo de outra forma, claro que ainda estou em processo evolutivo... mas o mais importante de tudo é que continuo. Conheci pessoas, fiz e faço amigos irmãos guerreiros de atitude, gente que faz e acontece no Brasil inteiro. Mano sem palavras. Cooperifa é muita responsa. Minha vida.
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4- Como é ser taxero em São Paulo? Isso ajuda na hora de fazer Rap?
.Escolhi essa profissão pq não aguentava mais patrão. SP é um monstro. Liberdade! São varias cenas... injustiça, preconceito, pobreza... mas tem o lado cômico tbm, o produtivo, ensinamento... é um dia após o outro, cada dia um dia! Tem de tudo um pouco.
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5- E o Periafricania? Faz um release do grupo pra nós.
.PERIferia AFRICA CidadaNIA (nome de uma poesia do Gaspar Záfrica). Grupo formado dentro da Cooperifa, com intuito de informar, incentivar a leitura o conhecimento. Formado por Claudia, Mario, Kennya e eu, sendo que o Kennya deixou o grupo dando lugar ao Felipe (Montanha). Lançamos um disco com 06 faixas e já participamos de eventos espalhado pelas quebradas em presídios, participamos tbm de duas Viradas Culturais etc. Enfim, estamos caminhando...
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6- Quais as principais influências do grupo? E esse CD cheio quando aparece?
. O Funk, Tim Maia, a musica Afro, Racionais, Cooperifa, entre outros. O cd cheio com certeza em 2008, porém em breve estaremos lançando mais um demo com 04 faixas.
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7-Há alguma relação do Periafricania com a questão Islâmica, ou Malês tem mais a ver com a questão poética?
. Na verdade tem a ver com os dois. Quem escreveu essa letra foi o Gaspar, o Kennya, Du Gueto e eu. O Gaspar vc conhece bem é um grande conhecedor da história Afro, o Kennya e o Du Gueto são Islã então jã viu...
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8-Você já veio à Bahia? Que notícias você tem sobre nós? O que você conhece do hip hop baiano? fale a verdade, mesmo que doa... rsrsrs
. Fui a Bahia quando garoto, meu pai era Baiano de uma cidade chamado Seabra. Mano!!! To ligado que o movimento Negro ai é fortíssimo, levado com seriedade e que 90% dos habitantes são descendentes Afro. Só o Levante Malê fala por si só. Há e tem aquela história da calma, tranquilos aquele lance de meu rei! Rsrsrs. Brincadeira!!! Meu pai não era nada tranquilo. Acarajé, praias paradisíacas, alegria!!!
Com relação ao movimento Hip Hop na verdade não conheço muito, mas pelo que ouço por aqui dizem que é forte e sério, se possível envie algum material pra mim por favor. Quero muito ir pra Salvador; meu medo é não querer voltar pra essa cidade monstro.
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9- Que pergunta você gostaria de fazer a você mesmo? E a resposta?
???????????? Vixe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!rs
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10- Que pergunta você gostaria de fazer pros parceiro aqui de Salvador?
.Qual a visão que eles tem do Hip Hop Paulista?
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É isso aí, rapa, quem quiser responder a pergunta do irmão, pode postar aí nos comentários!
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One Love!

sábado, 27 de outubro de 2007

Cooperifa + Blackitude = Problema!!

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Sérgio Vaz,
o Semeador de Pedras,
e mais uma pá de destemidos do verbo e da pele versaram lanças da divergência no solo dos corações vadios, abertos às palavras que defloram! Uns saíram grávidos de ancestralidade; outros feridos de civilização.
Foi o jorro "das canetas que sangram azul"

Evolução, Nêgo! Revolução, Nêga!

Blackitude: Vozes Negras da Bahia

Um Movimento Afro-Pop-Verdadeiro
Em tempos de Movimentos-Afro-Pop -Por-Dinheiro.

Em breve: fotos e detalhes da passagem do poeta SérgioVaz, da Cooperifa.SP, pela Bahia Preta da Blackitude, num dia ímpar que contou com a presença de Hamilton Borges Walê ( Reaja) e Giovane (Choque Cultural) entre outros guerreiros etíopes das palavras que explodem em imagens que ferem fundo.

Cooperifa + Blackitude = Problema!

One Love!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Sérgio Vaz na Bahia = Cooperifa + Blackitude Juntos!! Arreia!!!

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Salve Rapa que faz, gosta, apoia e respeita a arte divergente!
Salve guerreiros da resistência!!

Tô feliz pra c...
o Sérgio Vaz (lendo O Trem, clássico periférico do Suburbano Convicto Alessandro Buzo) vai passa esta sexta-feira com a gente. Viiixxxxeee!!!
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Ô Penga, pede pra Liu preparar a muqueca de arraia e o arrumadinho que nóis vamo comemorá a presença do Mestre Sérgio Vaz, degustando uns acepipes lá na "Delicatessen da Retirolândia" - quem sabe, sabe, né não, Nêgo!?
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O Jô, água no feijão e capricha no picadinho, que todo periférico que se preza é exigente nos tempêro...
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DJ Joe da Baixa Fria, larga tudo, e vem pra cá, negro brahma, manda descer meia dúzia de pengaskinkariol
lá na birosca do Mixaria!
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Neuro, já preparou a tinta pro graffiti cooperifado, ou tá ainda pensando no feijão da discórdia!?
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Luiza Gata e Lucinha Black Power, ói lá, hein, filhas, dêxa o pai véio convervsa com o hóme na moral!!
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Robson Véio, dá um "pite- estópe" no Sindicate, mon, vamo faze uma otra revolução na sexta!
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Blequemobil, vai pinta na nossa órbita, nêgo?
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Dani Moreno, esta fita é de literatura, hein, brown man, não vá decepcionar seu mestre ao lado!
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Ana C., dá pra ajudá na divulgação do barato; se for pouca gente, vô morre de vergonha, nêga!
Lá na cooperifa fui ovacionado por quatrocentos periafricanizados dos nossos, mainha!!
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Iris, voltei para dizer quem, sem você, não terá a a menor graça, neguinha da Cabula!
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Sueide, é nóis, hein, menina preta! Bota pilha aí no papai do céu Dom Josias pra ele bota nóis na telinha!
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Vocês já pensaram se o Hamilton Borges e o Giovane aparecem por lá, pra declamar?
Vai ficá pequeno...
Hamilton Pantera Borges Negra Walê, cê vai, irmão??
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E ocê Giovane, ói que a moçada de Anastácia tá pirada com a Dona Benta!!
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José Carlos Limeira, nosso real realeza nagô de Luiza, toque o carro pra UCSal, motô!!
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Então tá,
a lista é grande, e quem sabe, sabe, conhece bem!!
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Só mais duas coisona e uma coisinha porém:
1- meus alunos da UCSal (podem acreditar, eu tenho alunos / rsrsr), conto com vocês lá, hein!, a Carla e o C.A. tão fazendo a parte deles.
2- Se a Blackitude- Cooperifa.BA não aparecer, eu me demito, viu?, e vou embora com a
Cooperifa.SP-Blackitude.SP!!
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A coisinha:
Atenção poetas "velhos", não saiam de casa na sexta;
se engavetem com seus sonetos sonoros de alexandrinos francesaes que muito sangue vai rolar!!

Só alegria - Tudo Nosso!!
Vejam, na postagem abaixo, os detalhes do evento.

Todo mundo gritando: TAMO JUNNNNTO!!!
Nelson Maca
Blackitude.BA / Cooperifa.BA / Em Paz de Espírito!!

África! One People!! One Love!!!
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El Comandante: Sérgio Vaz em Salvador - Viiiiixxxeee!!!

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Maior Liderança da Literatura Periférica do país participa de evento em Salvador
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Sérgio Vaz,
poeta fundador da Cooperifa, mentor da Semana de Arte Moderna da Periferia, é convocado pelo Coletivo Blackitude a participar da Semana de Letras da UCSal, promovida pelo Centro Acadêmico de Letras.

Na próxima sexta-feira, 26 de outubro, o poeta paulistano Sérgio Vaz, um dos principais articuladores da literatura periférica paulistana, participa de bate-papo na Semana de Letras da UCSal, quando lança seu novo livro, Colecionador de Pedras, e participa de recital com poetas da cidade. A Semana, promovida pelo Centro Acadêmico de Letras, acontece entre os dias 23 e 26 do corrente. A presença do escritor dá desdobramento ao mini-curso Poéticas Divergentes do Professor e ativista Nelson Maca, que também comporá a mesa. Sérgio Vaz foi convocado para falar, além de sua obra, sobre duas criações suas: a Cooperifa, que acaba de completar 6 anos de idade, e a Semana de Arte Moderna da Periferia, que acontece em novembro próximo.

Ficha
O que: Sérgio Vaz, poeta da Cooperifa e idealizador da Semana de Arte Moderna da Periferia participa da Semana de Letras da UCSal.2008
Onde: UCSal / Campus-Lapa / Avenida Joana Angélica s/n
Quando: Sexta-Feira, dia 26 de outubro de 2008
Horário: 18 horas – Lançamento do livro: Colecionador de Pedras (SV)
. . . . . . . . . 19 horas – Mesa-redonda sobre Literatura Periférica
. . . . . . . . . 21 horas – Sarau de poesia

Cooperifa – Cooperativa de Artistas da Periferia
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A Cooperifa
surgiu em outubro de 2001. Nessa época, os saraus eram realizados no Garajão, em Taboão da Serra. Nos último três anos as reuniões semanais voltadas à declamação de poesias passaram a acontecer no Bar do Zé Batidão, no Jardim São Luís (zona sul de São Paulo). Lá, às quartas-feiras, cerca de 300 pessoas se reúnem para declamar textos próprios e alheios. Nas palavras de Sérgio Vaz, um dos idealizadores do Sarau da Cooperifa ao lado de Marco Pezão, "é um quilombo cultural, onde as pessoas não precisam limpar o pé pra entrar. E não são tiradas por aquilo que pensam. É o movimento dos sem palco".
Vigilantes, donas-de-casa, metalúrgicos... São muitas as ocupações dos que freqüentam a Cooperifa. Gente de várias idades. Para Vaz, a grande contribuição do sarau é para a auto-estima de seus freqüentadores. Isso é atestado pelo surgimento de outros saraus inspirados na Cooperifa. Vaz, no entanto, alerta para a banalização dos saraus literários por quem se utiliza dessa nomenclatura em eventos com intenção de "chamar público". "O Sarau da Cooperifa é voltado para a poesia, não é festa. Tem ‘boy’ que quer fazer festa e chama de sarau, porque virou forma de atrair o povo. Da Cooperifa já saíram um livro com escritos de 43 autores do Sarau ("Rastilho de pólvora - antologia poética do sarau da Cooperifa, 2005) e o CD "Sarau da Cooperifa", pelo Instituto Cultural Itaú, que conta com a participação de 26 poetas

Semana de Arte Moderna da Periferia
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Programada para acontecer entre os dias 4 e 11 de novembro de 2007 na periferia de São Paulo, a Semana de Arte Moderna da Periferia é uma iniciativa dos próprios artistas periféricos, tendo o poeta Sérgio Vaz na condução geral do processo. O evento como um todo conforma apresentações de artes produzidas fora dos círculos oficiais e acadêmicos da cidade. Durante o evento, serão exibidos documentários, espetáculos de música, dança, teatro, exposição de artes plásticas e grafite, para que o público conheça artistas e artes produzidas nos subúrbios. A Semana de Arte Moderna da Periferia acontece em vários pontos da periferia da zona sul de São Paulo, mas aos poucos ganha toda a capital paulista e o país através dos meios de comunicação.


Manifesto da Antropofagia Periférica (Sérgio Vaz)



A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.

Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar. Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão. Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras. Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos. Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.

É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona. Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado. Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”. Contra os carrascos e as vítimas do sistema. Contra os covardes e eruditos de aquário. Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada. A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO!

Sérgio Vaz
é um dos poetas mais sólidos da nova leva da chamada literatura marginal. Além de poeta, é produtor cultural periférico, tratando com seriedade artes e artistas que povoam e comentam os espaços menos privilegiados de São Paulo: as margens geográficas, sociais e culturais. Tem no seu histórico de escritor 5 livros independentes: Subindo a ladeira mora a noite, A Margem do Vento, Pensamentos Vadios, A Poesia dos Deuses Inferiores e Colecionador de Pedras. Este foi reeditado, ainda em 2007, pela Global Editora, inaugurando a Coleção Literatura Periférica. Sérgio Vaz é fundador da Cooperifa - Cooperativa Cultural da Periferia. No seu início, às quintas-feiras, acontecia numa fábrica abandonada em Taboão da Serra e chamava-se Quinta maldita. Sua realização mais divulgada é o Sarau da Cooperifa, evento poético que acontece às quartas-feira, no bar Zé Batidão, transformado em centro cultural, no bairro de Piraporinha. Sérgio Vaz é curador de O Rastilho da Pólvora e do Arte na PeriferiaI, dois projetos que contam com a parceria do Itau Cultural. O primeiro é uma antologia poética que reúne 43 poetas iniciantes do sarau da Cooperifa. O segundo envolve literatura, música e cinema. Além de escritor, o poeta também desenvolve o Poesia Contra a Violência: oficinas de poesia na rede pública de ensino paulistana. Participa do projeto e realização da consagrada publicação Literatura Marginal da revista Caros Amigos. Além dos registros em livros, lançou em 2006 o CD de poesia da Cooperifa, com participação de 30 poetas. Tem participação no livro Hip Hop a lápis, organizado pelo site vermelho.org. É considerado um dos "Heróis invisíveis", prêmio concedido pelo jornalista Gilberto Dimenstein. No Rap, está presente nos trabalhos dos grupos Sabedoria de Vida, GOG, 509-E e 2ho. No momento mais instigante de sua careira de 20 anos de militância poética, Sérgio Vaz é idealizador da I Semana de Arte Moderna da Periferia, que acontecerá em novembro próximo sob sua coordenação.


segunda-feira, 22 de outubro de 2007

José Carlos Limeira fala de sua obra

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Quinta-feira, o poeta José Carlos Limeira fala de sua obra no Projeto Encontro com escritor. Parceiro já antigo da Blackitude, Limeira tem o dom de nos envolver com sua fala poética. Viva voz, sua poesia cresce ainda mais. Dá-nos um sentido de pertencimento, por saber, como ninguém, trabalhar nossa orgulhosa africanidade. Imperdível!

Quem: José Carlos Limeira, poeta da Negritude
Quando: Dia 25 de outubro
Onde: Bibloteca Anísio Teixeira / 3117.6339
Horário: 14h
Grátis!!

Negro homem: negra poesia: Elogio ao poeta José Carlos Limeira

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Enquanto a sociedade brasileira permanecer como está, a arte com orientação étnica, abordando, criticamente, aspectos da realidade do homem negro local jamais permitirá ao público a imparcialidade cômoda de sua falsa democracia racial. Sempre haverá um chamamento: prenúncio de grandes tensões. Caso dos bem arquitetados poemas de José Carlos Limeira erigidos sobre alicerces outros e inabaláveis. Trafegando na contra-corrente da afro-poesia, há mais de trinta 30 no fronte, já provou e comprovou sua capacidade expressiva, representando de forma lírica a dor e o amor de ser diáspora.

Reli algumas coisas que escrevi
Em 1970
E pergunto: será que eu era tão atual?
Ou o mundo permanece o mesmo? (Espelho 70)

Suas incursões poéticas valorizam motivos que representam a beleza e o drama cotidiano pela lente de um homem que acumula a experiência de transitar pela adversidade racial brasileira na condição de negro consciente de si, ciente da grandeza de sua história e admirador da inesgotável beleza de sua gente.

Me basta mesmo
essa coragem suicida
de erguer a cabeça
e ser um negro
vinte e quatro horas por dia. (Diariamente)

Reminiscências da infância, homenagens a pessoas queridas, cenas onde flagra a histórica condição dos afro-descendentes compõem sua literatura. Sustenta sua poesia a constante e espontânea convivência com a religiosidade dos cultos afro-brasileiros e seus sedutores elogios à beleza da mulher negra – herdeira em linha direta da temática inaugurada por Luís Gama no Século XIX.

Tou contigo seu Zé
Teu papo de corimba
Protegendo invisível da rua
Porque da lua somos
Fico mais na minha
Qual é a tua pilintra
Vamos nessa, nesse verso
Vai dar pé.
Tou contigo seu Zé. (Pro seu Zé)

Falando de nós dois, proibidos
dentro dos dias normais
e deste gosto de desespero
que esqueço no próximo gole de cachaça
para agüentar a desgraça
até poder estar com você
Negra negra (Para uma mulher)

Temas e sentimentos sustentados pela constante busca do código poético que melhor lhe traduza, ao modo belicamente praticado por Lima Barreto, José Carlos Limeira rejeita o fascismo do colonialismo literário brasileiro. Escreve bem. Escreve de peito aberto. Escreve em primeira pessoa.

Cansei de ser o animal
amestrado que vocês
esperam.
Afinal já são
noventa e um ano de farsa
...............................................
Vou expor o gosto das tramas
Estarei em cada gueto
No grito de rebeldia,
Em cada beco,
No atrevimento
De mudar no papel
Os versos dos poetas. (Consciência)

A literatura negra se desenvolve, prescrevendo, sempre, um urgente programa de lutas. Que José Carlos Limeira tem conhecimento dessa causa não resta a menor dúvida. Sua produção poética não se dissocia de seu ativismo social.

A pena da princesa tinha que ser d’ouro
Para dar um pouco de seriedade
Àquela farsa enojante. (D’ouro)

Nas suas incursões literárias, com mestria, supera o velho dilema do feijão e do sonho. Toma partido na liga dos poetas negros, nesta frente de batalha fraternal do homem preto com a elaboração do seu discurso no intuito de verbalizar, com beleza e pujança, as experiências exemplares que o conforma numa terra camuflada pela ideologia do branqueamento

Queria ver você negro
negro queria te ver
se Palmares ainda vivesse
em Palmares queria viver.
.............................................
O ódio do feitor
é pegajoso, fecundo
ele pode emprenhar
até as mentes mais estéreis
com seu pênis de chicote
..........................................................................
Já pensou naquele país da serra da Barriga?
sei que talvez não,
uma terra
onde não fosse possível ver
uma negra ter que mostrar a bunda
abrir as coxas
tirar das entranhas
o pão de cada dia
..................................................
Por menos que conte a história
não te esqueço meu povo
se Palmares não existe mais
faremos Palmares de novo
.............................................................
Quilombo
Meus sonhos
Sofro de uma insônia eterna
De viver vocês (Quilombos)

Faz poesia política, mas não cai nas armadilhas do texto panfletário. Sua linguagem segue na missão de emprestar ao leitor um pouco da sua emoção espontânea diante de experiências vividas. Repito: sua linguagem. Suas palavras... seus versos.

Eu me recuso a morrer no próximo verso,
Seria de uma inutilidade total
Deixaria um poema inacabado
E frustraria o leitor,
Que mora por dentro de cada autor,
Por condição, extremamente curioso. (Meu leitor)

É fato que o que faz qualquer literatura é a busca de adentrar os bosques da arte no intuito de instaurar seu caráter maior que é a beleza. A crítica estética contemporânea instalou um certo mal-estar ao apontar como, no mínimo, antiquado os conceitos exatos e os juízos de valor. Realmente. Falar em literariedade em tempos de diversidade, multiplicidade, diferença, tolerância, reversão, afirmação, equidade, etc e tal, parece um pouco universalista demais. Ou seria melhor dizer fora de moda? No entanto, mesmo com difícil verbalização, não se consegue neutralizar parâmetros na abordagem de textos de beleza.

Dias ásperos, caminhos sobre ondas
Dias árduos onde o escuro era dia
Até chegar América sonho alheio
Que se fez dia de esporas...

Reconstruir o próprio peito
Sal sobre os ombros e
A dor de cantar (Diáspora)

Feita a ressalva, não se quer apontar o que se faz universalista nesses poemas, mas os traços que os representam como demarcadores da emancipação da linguagem poética do negro brasileiro. Há em José Carlos Limeira, de forma equilibrada, aquele frio na barriga, o suspiro espontâneo, aquele sorriso involuntário, a revolta, aquela experiência que seqüestra o leitor de sua miséria cotidiana, a vontade de sair quebrando tudo, o drible que faz a frase gingar para lá e para cá, a paradinha que desconcerta o goleiro na hora do penalti, o abraço forte do grande irmão que sempre aguardamos, os ecos da nossa orgulhosa africanidade. Folha seca: a bola no ângulo e o grito de gol que há séculos espera explosão. Em outras palavras, o poeta arrisca efetivamente no trabalho de linguagem, na experimentação do verbo, na sondagem do homem, na revelação da alma, nos prazeres da carne.
Dona de minha alegria
Solução para todos os dilemas
Teu sorriso é poesia
Ou melhor e por fim
É a alma de todos os poemas (Considerações sobre teu sorriso)

Mergulhar no teu corpo sem lençóis ou cobertas
É a rima mais certa, como beber a noite
Escondida em cada de tuas esquinas
Sem frio, sem açoite
Ora mistérios de mulher
Doutras macios de menina. (Mergulho)

Não repousemos, simplesmente, no arcabouço técnico da crítica com sua frieza enganosa. Deixemos essa tarefa de laboratório, longe do turbilhão da rua, aos insensatos que fazem de nós e nossos passos fenômenos carentes da explicação que, pensam, só pode vir deles. Batamos cabeça a esse mestre poeta de nosso cotidiano. Cantor de nossas irmãs, mães, avós. Conversador que tem livre acesso aos deuses da afro-descendência. Cronista de nossas mazelas. Como leitor familiar, deixemos que se nos manifeste a pulsação do texto de José Carlos Limeira - um trabalho que nos prende - mesmo inconscientemente. Que exerce sobre nós, de forma balanceada, seu duplo domínio: subjetivo e objetivo.

As águas do velho Parágua
Nos reconstroem em herança
Perpetuam ensejos
Refazem esperanças
Regam Áfricas inteiras
Permanentes nestas terras
Descartam tênues fronteiras
E pretextos para guerras (Águas do Paraguassu)

Sublevar o prazer que vem da forma do texto em função do pragmatismo da mensagem tem sido uma constante em certa parcela da poesia negra. Lembre-se que o leitor de poesia está sempre em busca daquele verso, daquela imagem, de uma linguagem que traduza seus anseios e o transporte para além de seu delimitado universo. Um texto que empreste à paisagem cores novas, novos ângulos de visão, novos contratos com o real. No nosso caso: a urgência da cor e do sentimento pretos local.

Estou contando com a primavera
Ultimamente não tem havido flores
Dentro de mim:
Tenho andado meio chuvoso,
Horizontes nublados, embora tempestuoso
São frios, frios.

Hoje de manhã não abri a janela
Saí de surpresa,
E de surpresa vi o dia:
Estava lindo.
E fiquei com vontade
De mudar minha meteorologia interior. (Estações internas)

Mesmo a raiva, a dor e a melancolia, insistindo no máximo do paradoxo, podem causar prazer na sua recepção poética, recuperando nas possibilidades de cada verso, a desde sempre porção insondável do homem. O prazer resgatado da adversidade da vida. Não o prazer pela captação da verdade em si, o que é sonho, mas pela materialidade da arte: a musicalidade, o ritmo, a sonoridade, a escolha vocabular, a elaboração da imagem, o símbolo, o enigma...

De como na triste espera
Da promessa vindoura
Do que haverá
Um homem caminha,
E a polícia o segue
E o cachorro lhe lambe
O calcanhar. (Fotoagosto)
A Literatura Negra se estabelece enquanto convergência da matéria e do espírito num texto que pulveriza os limites entre o mundo real e a sua representação de forma a instaurar um outro grau de percepção, de experiência e de subjetividade do homem negro. Uma ação poética que se faz em hora e local determinado, e que, acima de tudo, se apresenta como um convite ao diálogo. Mas antes de memorizar essas palavras, leitor, leia com atenção construtivista os versos de José Carlos Limeira, este poeta que optou por não se calar ou apagar de seu texto cada angústia, humilhação e sofrimento que lhe vitima a experiência de ser homem preto neste Brasil racista. Mas que também não teve medo de ser cavalgado pelos deuses africanos nesta terra cristã. Nem de amar loucamente a mulher preta neste país ariano. José Carlos Limeira tece seu olhar de presente sem desprezar o vigor da linguagem, sem apagar as feridas históricas do nosso povo, e sem empalidecer esta tinta forte que nos cobre a pele. Seus poemas é nossa experiência quilombola: “se Palmares não existia mais, eles fizeram Palmares de novo”.

Sou um negro,
mais um,
destes que não usariam henê no cabelo,
por não querer cabelos lisos (Mais um negro).

Conheço uma pretinha
que era mulata
mas outro dia
deixou de alisar o cabelo
e hoje tem a cabeça feita. (Mutação)

Depois, olhando na cara do empresário,
Vai calma e sacanamente dizer:
Se quiser uma mulata meu bem
Vá pintar sua mãe de preto. (Não perdem por esperar)

Fontes dos poemas:
Atabaques (José Carlos Limeira e Ele Semog)
A razão da chama (Coletânea – Org. Oswaldo de Camargo)
Blacks intentions - Negras intenções (Edição bilingue)
By Nelson Maca

domingo, 21 de outubro de 2007

Mini-curso com Nelson Maca : Poéticas Divergentes

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Poéticas divergentes: há texto possível fora do ambiente acadêmico?

Estarei realizando este curso na Semana de Letras da Universidade Católica de Salvador. Pretendo refletir com os presentes acerca de algumas experiências literárias não canônicas, principalmente na atualidade. Para tanto, conversaremos sobre conceitos como literatura oral, popular, regional, maldita, marginal, periférica... Logicamente, sem perder de foco o principal: textos poéticos.

Difícil será não destacar a experiência da Cooperifa, de quem sou fã incondicional, coletivo capitaneado pelo cativante poeta Sérgio Vaz. Ele também é mentor e coordena a Semana de Arte Moderna da Periferia que acontece em São Paulo em novembro próximo.

Logicamente, nosso papo destacará, também, algumas ações da Bahia Preta – nossa praia.

Venha trocar umas idéias com a gente, pois não devemos ter a pretensão de ser mais do que deve ser um curso de literatura: uma grande oficina de leitura - coletiva e solidária. Não pretendo ensinar jardins, mas problematizar florestas. Mapas de mão dupla. Idas e voltas!

O quê: Poéticas divergentes: há texto possível fora do ambiente acadêmico?
Com quem: Nelson Maca – UCSal / Blackitude.BA
Quando: quarta e quinta-feira / dias 24 e 25 de outubro
Onde: Sala 18 – UCSal – Campus Lapa
Inscrições: Centro Acadêmico de Letras – UCSal / 3324.7728
Custo: R$ 5,00 + 1Kg de alimento não perecível
.
*Participo do livro postado acima - Suburbano Convicto: Pelas Periferias do Brasil / Depois falarei dele, com certeza! E também dos corrre de seu organizador: Alessandro Buzo - parceiro inspirado que equivale a um exército cultural inteiro. Aguarde, mon!

Sérgio Vaz da Cooperifa se Manifesta


Manifesto da Antropofagia Periférica*

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade.
Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer.

Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.

É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? “Me ame pra nós!”.
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

É TUDO NOSSO!!

Sérgio Vaz

*Manifesto que antecipa o teor sócio-crítico-estético da I Semana de Arte Moderna da Periferia que acontece em São Paulo em novembro. / Tamo Junto. / Em breve: matéria sobre a semana e entrevista com o poeta Sérgio Vaz!

o Axé dos dos Mestres GOG e SÉRGIO VAZ


GOG e Sérgio Vaz dão Boas Vindas a Nóis!!


"Salve Professor!"...
A chama da liberdade se renova..." (GOG)

"Maca, eita porra, será que isso e a tal da revolução que tanto se fala por aí?
Teu blog chegou com um abraço. Como um sopro de alegria que conhece os caminhos estreitos da emoção.
Tua passagem por São Paulo teve um significado muito importante para todos nós, nesta relação sampa/salvador, mas vista do lado certo, dos que não se entregam, nos dá a certeza que um dia... quem sabe... a queda da bastilha... E o que é melhor? É que está sendo construída da forma mais verdadeira possível: com amor e raiva.

'Não tenho dó de quem sofre, mas raiva de quem faz sofrer'.

'Sumemo' guerreiro, nóis tamo aqui no corre, c tá ligado que é nóis q tá, né não?
Este comentário pode ser um abraço? Então sinta-se abraçado, você e aos irmãos da Blackitude.
Valeu, irmão, você me dá a certeza que sou realmente uma pessoa privilegiada, porque me faz sentir, com a sua amizade, que tenho sempre mais do que eu mereço.

Até a eternidade,

SÉRGIO VAZ / BLACKITUDE-SP"

Valeu parceiros! - Sistema, Trema!!

São Paulo - Bahia - Brasília

"A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor...
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza." (Sérgio Vaz)

"Não há dúvida que o meu verso é também o meu quilombo ardente" (Nelson Maca)

"Aqui se realiza um sonho antigo:
Uma aliança entre fãs que hoje são amigos" (GOG)

Vai colar também, Nêgo!?
Vai colar também , Nêga!?

Nelson Maca (Liga Africana Atual)
Blackitude.BA + Cooperifa.BA + Família GOG.BA

One Love!!

sábado, 20 de outubro de 2007

ENTREVISTA / Carlos Moore




O sensacional ativista cubano Carlos Moore foi um dos destaques do seminário Cultura Black na Diáspora: Tributo a James Brown que o nosso coletivo, Blackitude, realizou no final do semestre passado. Filho de pais jamaicanos, doutor em Ciências Humanas e Etnologia pela Universidade de Paris-7, ele tem morado e desenvolvido estudos em várias partes do mundo, estabelecendo conexões entre as comunidades negras do Caribe, América, Europa e África. Atualmente vivendo em Salvador, Carlos Moore abrilhantou nosso evento, fazendo um link entre James Brown e Fela Kuti, de quem escreveu a biografia FELA This Bith of a life, inédita em português. Ele tem outros três livros e mais de cinqüenta artigos publicados sobre questões internacionais. A entrevista que reproduzimos aqui foi dada por ele especialmente ao Zine Na Lata, editado pelo grafiteiro Neuro, um dos fiéis escudeiros da Blackitude. A elaboração da entrevista e os demais textos do zine ficaram sob minha responsabilidade e da Ana Cristina Pereira. Também colaboraram com material e toques vários o Killer Band, Penga e Pinduka. Espero, sinceramente, que vocês gostem. Porém prometemos, desde já, trazê-lo de volta com novas questões. Fica aí um convite: quem se sentir inspirado, mande suas perguntas aí no linque dos comentários, para encaminharmos ao nosso mestre querido.

1- Qual foi sua posição com relação ao black power e a soul music no momento de seu apogeu?


R. Apoiei totalmente tanto o movimento black power e como a música soul, por considerar que traduziam, de maneira autêntica e concreta, as reivindicações mundiais dos diferentes povos negros. A linguagem musical de James Brown decodificava os discursos de Malcolm X, Stokely Carmichael e Martin Luther King, Patrício Lumumba, Amílcar Cabral, Steve Biko...

2- Como o senhor vê a presença de James Brown na formação da identidade nigeriana?

R. O próprio Felá me confessou que sem a música Soul de James Brown, ele nunca teria chegado a inventar o Afrobeat. O Soul de James Brown e o novo Highlife do ganense, Geraldo Pino, foram as duas maiores influências musicais que favoreceram a eclosão do Afrobeat, música urbana nigeriana surgida do próprio ventre da marginalização social, pós-colonial.

3- Fela Kuti pode ser considerado uma referência na linha de James Brown?

R. O Soul e o Afrobeat são duas vertentes bem distintas da música popular negra urbana do século XX e XXI, mas, dialogam profundamente entre si, tendo, evidentemente, uma matriz comum. Não resta dúvida que o Soul é a mãe do Afrobeat. Por sua vez, o Afrobeat reintroduziu no Soul temas melódicos, estruturas musicais e uma percussividade ainda maior, provindas da África continental profunda.

4- Podemos entender a cultura hip hop como desdobramento do movimento da Negritude?

R. O movimento da negritude surge, nos anos trinta, como uma expressão da escrita propriamente poética, com Aimé Cesaire, de Martinica, Leon Damas, de Guyane, e Leopold Sedar Senghoir, do Senegal – grandes poetas. A musicalidade dessa poesia da negritude já anunciava o Hip-Hop, o Rap, o Soul, o Reggae, o Afrobeat, o Highlife... A filosofia da negritude é o ancestral imediato – tanto melodicamente como na sua intencionalidade sócio-política -- de todas as músicas negras rebeldes que surgiram das zonas urbanas após a segunda guerra mundial.

5- Como o senhor avalia a iniciativa “Cultura Black na Diáspora: Um Tributo a James Brown”


R. Uma ótima iniciativa. Ela tem o potencial de contribuir para remediar aquilo que considero ser uma das
grandes fraquezas do movimento social negro no Brasil: a grande desvinculação entre o Movimento Negro,
como expressão política, social e cultural e a vida orgânica das periferias e das zonas rurais.

6- Que expectativa podemos ter com relação à sua palestra “Cultura Black de James Brown a Fela Kuti: fonte, influência ou interlocução?”

R. Irei situar a música criada por Fela Kuti – o Afrobeat – no seu contexto mundial, africano, e nigeriano. E isso requer falar sobre as grandes forças transformadoras que conformaram a vida política, econômica e cultural do século XXI, que é, com certeza, um século de transição na história de toda a humanidade.

7- Qual a sua opinião sobre o Graffiti enquanto elemento da cultura hip hop?

R. Os graffiteiros são artistas, criadores. O fato de eles tomarem os espaços públicos (paredes, muros, etc.) como palco de sua criação e de seu protesto faz deles grandes articuladores sociais. E é por isso que a cultura do graffiti está lado a lado com a cultura do Hip Hop. Essas duas formas de expressão artística e cultural são socialmente transformadoras, revolucionárias.

8- Há contexto para o rap na Bahia?

R. Há contexto para o rap no mundo inteiro. Por que a Bahia seria exceção? O rap é uma forma de arte vigorosa de denúncia social. E as desigualdades sociais da Bahia são gritantes. Logo, então, diria que o rap tem uma grande missão cultural e regeneradora aqui.


9- Com relação aos meios alternativos de comunicação, qual o papel que deve ter os zines?


R. Quando o povo lê os grandes jornais e revistas ou vê a imprensa televisiva, comprova que ele está sendo invisibilizado, marginalizado e negado. O aparecimento dos zines é uma resposta a essa situação. Os zines são modo de expressão, de informação e de formação, voltado para o crescimento cultural da comunidade. É a voz desse povo invisibilizado, marcando sua presença como ator social.

10- Suas considerações finais.

R. A opressão racial é, simplesmente, a barbárie. E a humanidade não tem vias de saída através da barbárie. Assim, a luta contra o racismo tem se convertido, hoje, num fator civilizatório. O racismo deve ser considerado como o que ele é: o principal inimigo tanto da paz social, da convivência dos povos, como da sobrevivência de nossa espécie.

Um poema para Carlos Moore



Rugido (Pan África)
Para Carlos Moore Wedderburn
Nelson Maca

Não há Renascimento em nossa Terra
Há a inevitável inserção do corpo e da alma
No confronto à hecatombe anunciada por você
Ponte visível entre as margens invisíveis
O método nefasto do grande mito continental

Funda-se o alçamento do castelo de nossas mais novas ilusões
Revestimento do contrapiso da catástrofe já sedimentada
Nova face da velha história que sempre ajudamos a construir

Você promove o desmanche do nosso edifício colonial
Passo a passo, peça a peça, pessoa a pessoa
Só mesmo você desnuda diante de meus olhos incrédulos esta nova miragem
O seguimento da farsa que me vi envolvido
Os descaminhos dos que ficam
Os desvios na dispersão
O frio sangramento dos filhos fiéis
A última queda da Mãe

Rugido de rara clareza e incrível tensão
Anúncio bélico
A descoberta da face sombria do Movimento sem condução
A ira arrancada da gramática que rompe
Voz dissidente que estilhaça a máscara revolucionária da nova opressão
Dissolve seu simbolismo sagaz
A ardilosa apropriação, o furto, a diluição hipócrita
A lama oportunista
A mancha que se estende
A nódoa sobre os mais salutares tecidos afro-revolucionários

Sua timbragem de rara exceção é o alicerce que não se elastece
O vigor que não se dobra
O pacto profundo da consciência Pan-Africana

Os pilares paradigmáticos de Kwame Nkrumah
Metonímia que bem representa a fidelidade de sua abnegação
A gratidão com que você coloca o peito aberto ante a ilusão que nos guia
Ante os predadores de fora e de dentro da nossa gente preta

Tendo limpado minha consciência perdida de ignorar tantas cruezas
A têmpora dos que não têm acesso à restrita casa grande das informações
Não mais imito o trânsito inconseqüente nas esferas do poder estranho a nós

Obrigado por coroar minha cabeça finalmente
Com a semente que se faz brotar do entendimento definitivo
Da nascença das razões reais do continente
Da nova estampagem de meu semblante agora coberto de cumplicidade

Quando você se inscreve de corpo e alma na luta
Quando você escreve seu sempre ponto seguimento
Na sequência visceral das indagações
Na proposição do comportamento do homem íntegro
Na indubitável concretude do relato da história
Na experiência imediata do abandono da dor da miséria da morte
Na dedução catastrófica para o passado e o futuro
Na blindagem ao que se é dito quando se está sentindo
Não na única versão dos fatos
Senão no fundamento da sinceridade

Na coragem que nos interessa
Na verdade que pode nos apontar caminhos

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Você já leu Sérgio Vaz?

Primeira hipotese: Não.
- Não!?

É parceiro, ninguém é perfeito, né? Mas sabedoria é saber correr atrás do preju, né não? O Sérgio Vaz é o principal culpado por eu me revigorar poeticamente. Ele é fonte de inspiração. Quando me deu moral, reacendeu em mim o desejo de compatilhar meus delitos literários. E não é que pode dar samba. Time will tell!

Mas não estou aqui para falar de mim. Obreiro que sou, estou aqui para a minha boa ação de hoje, nêgo. Para te apresentar a bela poética bélica de Sérgio Vaz.

Segunda hipótese: sim.
- Sim!?

Se sim, sim, você já sabe, então, não?



Salve a Voz de Sérgio Vaz


"Quando o G.O.G. me apresentou ao Sérgio Vaz, não foi apresentação, foi formação de guerrilha: nós três e a rapa toda que faz e que curte a Blackitude, celebrando a vida na Bahia preta. Testemunhei, corpo presente, a força maior de sua arte: o pensamento a mil, os pés no chão e um sorriso do tamanho dos lábios! Palavras retas. Um poeta nosso. Tal a pessoa, sua poesia está despojada de ornamentos inúteis. De casca de erudição. Estética e humanamente, dilui o limite entre a realidade e sua representação, a vida e o verbo, a verdade e a beleza. No campo de batalha cotidiano, um poeta que nos comenta - que nos interessa. Cooperifados pela nossa luta e nosso sonho, enfim, anulamos os atravessadores. Sérgio Vaz é poeta, e, como poeta, sabe ser simples. Como simples, sabe tecer o coletivo. Como coletivo, sabe ser nós. E, como nós, faz-nos grandes ao seu lado. Se você, leitor, quer saber mais do que ora comungo, leia esse incansável colecionador de pedras. Conheça esse ladrilhador de imagens. Eu, que não tive a felicidade de escrever O milagre da poesia, ou o “Bruno matador” (Pé de pato), sinto-me, poeticamente, vingado por Sérgio Vaz. A tempo: em nossa humanidade tão desumana, ser simples é muito complexo. Deus para entender? Então, SaravAxé e BoAventura!!
Ah!, é permitido sorrir! One Love!!"

Nelson Maca (Blackitude.BA / Liga Africana Atual)


O Sérgio Vaz me deu a honra de escrever a orelha do Colecionador de Pedras, seu último livro - resumo de vinte anos de correria atrás da expressão que nos expresse. Foi um presente o convite. Será que mereço? Saiu esse texto aí em cima. O livro, que nasceu, originalmente, como uma produção independente, acabou editado pela Editora Global, abrindo a Coleção Literatura Periférica. E ói eu, de novo, lá na orelha, agora nacional. Quem diria, né pai!? Peguei carona no buzão do cara - e na janela, mon.
Mas chega de conversa fiada, Luzia, vá ler o cara, ele é bom pra caraio!
Aqui em Salvador (Bahia, para ficar bem escuro), já andei fazendo a pesquisa, é lógico. Somos estratégicos. Encontrei esse material subversivo lá na Saraiva do Shopping Salvador e na Siciliano do Shopping Barra. Louco, hein mainha?, o poeta saiu lá de Taboão da Serra, da Sul, como dizem os irmanos das quebradas da paulicéia, e agora tá nos shoppings do Brasil. Já imaginou a cara dos segurança, seguindo os negão e as negona, de olho nos favela, sempre desconfiados, e a rapa saindo de cabeça erguida das melhores livrarias, portando um fino Colecionador de Pedras de Sérgio Vaz? Toma tabaréu, vê se aguenta essa!!
Sabe duma: vô nessa, mas, antes, vou deixar aí embaixo dois poemas do livro do Vaz só pra sacanaeá. Quero vê quem guenta não sair correndo comprar o livro e ler o resto. O meu eu não empresto, está autografado e me chama de irmão! Adquira o seu, mas, ói, nêgo, leia com moderação, pra não tomar uma overdose de nós mesmos tão fiel e respeitosamente representados.
Só mais uma coisinha: vou pongar aí, que eu não sou de ferro, e não posso perder essa carona (afinal, o blog é meu!"), e vou deixar aí, também, um dos poemas que fiz para o Sérgio Vaz e para o GOG (esse merece um capítulo só pra ele).

Sérgio Vaz - Nelson Maca - G.O.G
- Viiiixxxe, barão, se saia que é formação de guerrilha!!!


::Pé de pato
Sérgio Vaz


Bruno matou a mãe
matou o pai
os irmãos
os avós
os vizinhos.
Matou todo mundo de saudade
quando foi pra faculdade


::O milagre da poesia
Sérgio Vaz


Sou poeta,
E como poeta posso ser engenheiro
E como engenheiro
Posso construir pontes com versos
Para que pessoas possam passar sobre rios,
Ou apenas servir de abrigo aos indigentes.

Sou poeta,
E como poeta posso ser médico
E como médico
Posso fazer transplantes de coração
Para que pessoas amem novamente,
Ou simplesmente receitar poemas
Para tristezas com alergias
E alegrias sem satisfação.

Sou poeta,
E como poeta posso ser operário
E como operário
Posso acordar antes do sol e dar corda no dia,
E quando a noite chegar, serena e calma,
Descansar a ferramenta do corpo
No consolo da família, autopeças de minha alma.

Sou poeta,
E como poeta posso ser um assassino
E como assassino posso esfaquear os tiranos
Com o aço das minhas palavras
E disparar versos de grosso calibre na cabeça da multidão
Sem me preocupar com padre, juiz ou prisão.

Sou poeta,
E como poeta posso ser Jesus
E como Jesus
Posso descrucificar-me,
E sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés
Andar livremente sobre terra e mar
Recitando poesia em vez de sermão.
Onde não tiver milagres
Ensinar o pão
Onde faltar a palavra
Repartir a ação.


::Toda sorte
para GOG e Sérgio Vaz
Nelson Maca


meu sempre muito obrigado
pela moral que têm dado,
a esse neguinho aloprado
livre da marcação cerrada
voando baixo sem asa
driblando no campo da várzea
solto na pequena área
que solta a bomba descalço
dos dedo sem unha
dos joelho ralado
de tanto chutar errado
nos arranca toco animado
nas quatro linha do asfalto
das bola batida na trave
nos jogo de vida baldia
nos barro da periferia
da alegria que não distancia
das tarde passando vadia,
das rua nunca vazia
dos choque de toda energia
nas vidraça quebrada de dia
nas algazarra que vaza sadia
nos flagrante gozo da noite...
nos quase delírio do dia!
meu sempre muito obrigado
pela moral que têm dado,
a esse neguinho aloprado

Para chegar chegando, referencio o Irmão Malcolm X, em si só, uma rebeldia poética, sempre a nos lembrar: África! One People! One Love!!

.
Malcolm disse

O tempo da crença de combater a brutalidade com a não-violência já passou, meu branco
Parágrafo único: ser não-violento somente com quem é não-violento com você

Quando me apontarem na realidade um racista não-violento
Quando me apontarem na realidade um segregacionista não-violento
Só, então, poderei tornar-me também um não-violento
Mas não queira ensinar-me a ser não-violento até ensinar seu feitor a ser não-violento
Você nunca viu um feitor não-violento
É muito difícil para alguém inteligente ser não-violento
Todas as coisas no universo reagem à violência
Exceto esses brutos, homens cordiais e submissos
Sempre a dizer:
“bata-me, meu amo, pois devo estar merecendo”

*Poema do meu livro Gramática da Ira, em negociação para lançamento nacional em 2008.

Nelson Maca - Blackitude.BA