Tenho falado,
aos quatro cantos perimetrais aonde chega a minha voz, de minha admiração pelo Irmão Robson Véio, meu grande parceiro ao lado. Conheci-o já no contexto do hip hop, mas quem nos aproximou mais foi o Blequimobil. Desde então, firmamos uma amizade dez vezes mais longa que o tempo que nos conhecemos: parece que nossa amizade aconteceu bem antes de nos conhecermos pessoalmente!
Há algum tempo penso numa entrevista dele no Gramática da Ira, mas, no fundo, e mesmo inconsciente no início, esperava o momento maduro de nosso espaço, para isso.
Não que o blog fosse verde (rsrsrsrs)... Lembre-se que nossa primeira postagem foi um poema sobre Malcolm X (Malcolm Disse), e a segunda uma entrevista com meu Mestre ao lado, Carlos Moore, falando de James Brown e Fela Kuti. Ou seja, se é que tem que ter um nascimento para os blogs, o Gramática da Ira já nasceu adulto.
Há exatamente um ano atrás, dia 19 de outubro de 2007, o blog entrou no ar, influenciado, principalmente, pelos blogs Colecionador de Pedras, Suburbano Convicto e Toca Discos Público.
Quando digo maduro, quero dizer preparado para apresentar textos e pessoas que realmente questionam, sem folclore, nossas mais arraigadas convicções. Ouvir é uma arte que exige bem mais que falar. Tenho lido muitas coisas agressivas por aí. Tenho tido contato com muitos revolucionários virtuais por aí. Enfim, mesmo simpáticos ou travestidos de rebeldia, principalmente na net, os comédias nos cercam cada vez mais: em número ampliado e na distância reduzida. Alguns, como Brutus ou Judas, chegam a nos guardar as costas e nos beijar a face de tão ao lado que se posicionam.
Por isso digo, com toda sinceridade: se você não está preparado para ler, sem piadinhas e sem predeterminações, posturas tão divergentes sobre a questão do “especismo” ou da postura política ou mesmo da negritude no “Punk”, por favor, pule esta postagem.
Quem vai falar, abaixo, é o Robson Veio: um cara que colou na humildade, na moral e, quando menos eu esperava, ói o Maca em shows de hardcore, convidando cooperativa de alimentação natural e não animal para as festas da Blackitude, conhecendo outros “falsos baianos” que insistem em desobedecer as demandas folclorizantes da “Bahiatursa” e da “Emtursa”, dessas ostentações de baianidades televisivas que nos rebaixam. Somos a turma da Cidade Baixa.
O Irmão Robson Véio, que é também vocalista e letrista da banda Lumpen, chega de mansinho, articulador, vai inoculando na galera uma rebeldia profunda de tão desapercebida que chega. Vai mostrando que há um sentido político até no leite que tomamos.
Temos tido conversas sem fim sempre com overdoses de café preto, nossa viagem drogada em comum!
Gostaria de proporcionar, aqui, um pouco de tudo que tenho tido o privilégio de discutir e viver com este Irmão. Questões sobre Música, Punk, Veganismo, Pornografia Divergente Sem Culpa, Rap, Anarquismo, Sindicalismo, Campanha Política e muitos outros assuntos que circulam nas linhas abaixo.
Aperte o sinto, abra a mente e boa viagem, para quem é de viagem!
Para os poetas que não são de viagem, podem se trancar nas gavetas de sua escrivaninha com seus sonetos perfeitos, pois, como disse outro poeta (marginal?), muito sangue vai rolar!
Apenas peço que leiam comedidamente, pra, depois, não querer sair mudando o mundo já, hoje e na marra, e botando a culpa na Gramática do Cara!
Vamos ser justos: todos tem direito à defesa! rsrsrsrsrsrsrs
Robson Véio,
obrigado pelo presente, é o melhor que poderíamos ter ganhado neste fim de semana de aniversário sem torta e vinho, porque já somos entortados pela vida desviante e bêbados de vontade de transgredir - irreversivelmente!
Nelson Maca – Blackitude.Ba / Fanzão do cara!
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Gramática da Ira (GI): Cara, quem é o Robson Véio exatamente?
Robson Veio (RV): - Tento ser uma eterna incógnita, pois não creio em “exatamentes”. Prefiro o trânsito a estabelecer uma identidade fixa, definida... mas, como perguntou, posso dar algumas pistas. Uma criança preta que já alisou o cabelo quando pequeno, que andava de cabeça baixa e sabia que existia alguma coisa errada com o mundo. Um jovem que teve a dádiva de conhecer o Punk, o HIP HOP, os LIVROS, pessoas especiais e amantes inesquecíveis. Um velho que se nega a ficar parado, que prefere arriscar, estar errado em suas decisões do que se manter em um lugar já estabelecido seja pela sociedade, por qualquer movimento, bandeira ou relacionamento amoroso mascarado com frases de efeito. Sem falsa modéstia... Autodidata das ruas, Doutor em nada, hahahhaa.
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GI: Apesar de presente na nossa vida cotidiana e até mesmo apropriado por modismos, o Punk ainda é um desconhecido para a maioria. Há imagens positivas e negativas, principalmente com relação ao conflito étnico. Em linhas gerais, como estão estabelecidas essas linhas do movimento? Qual é a sua?
RV: O Punk, como se conhece hoje, surgiu aos olhos do mundo na década de 70, no meio suburbano da Inglaterra, como resposta ao estilo de vida vigente. Músicas quilométricas que não serviam para dançar, um movimento hippie todo colorido, pedindo paz e amor em um mundo cheio de problemas... foi quando o Punk gritou BASTA! Em contraponto, surgiram roupas pretas, cintos de arrebite, uma atitude agressiva, a vontade de mudar o mundo e músicas de dois minutos, para dançar e fazer uma catarse em grupo. Como não poderia deixar de ser, no Brasil, ele chegou com força total nas periferias, dando alto estima aos jovens. O Punk, como outros “movimentos”, na impossibilidade de ser abatido, foi apropriado pelo mainstream. Isso se estivermos falando aí da expressão musical, pois as idéias do Punk continuam batendo em vários corações e movendo pessoas a continuarem transformando sonhos em realidades.
Sobre positivo e negativo, pra mim o punk sempre foi “oriental” neste sentido, circular como as culturas africanas. Sair hostilizando pessoas que nos tratam como invisíveis, tocando músicas barulhentas e adorando ser feio em uma sociedade que quer obrigar tudo a ser belo, seja lá o que isto possa significar, é positivo ou negativo? O PUNK É PRETO! Bob Marley já atestou isto. O que acontece é que conseguiram, mais uma vez, nos enganar, como fizeram com outras coisas, dizendo que isto não é coisa pra nós. O mundo é nosso, parceiro, e não devemos deixar ninguém tomar seja ele da cor que for. Prefiro não definir linhas... deixo para os estudiosos. Quer saber se me assumo como Punk né, hahaha. Se for como adjetivo, sou mais Punk que nunca!!
GI: Qual a sua experiência específica no Punk? Que relação podemos estabelecer entre ela e o lema “do it you self” (faça você mesmo!)?
RV: Bem, tudo começou pela música. Sempre fui apaixonado por ela e o Punk me mostrou a possibilidade de namorá-la sem precisar planejar casamento... apenas por prazer e a vontade de expressar meus sentimentos. Em Castelo Branco, bairro da periferia de Salvador onde eu morava, formamos uma banda onde a bateria foi feita com tonel de água, partes de timbal, parafusos e outros adereços... a falta de dinheiro solucionada. Mas uma banda só era pouco para nossos anseios. Então fizemos um fanzine (SEM NEXO) que, além de falar de música, tinha matéria sobre transporte, poesia, textos... fotocópia, montagem de imagens, e distribuição de mão em mão. Aí, em 89, tive a dádiva de conhecer a loja Not Dead e, lá, mudar de vez minha visão de mundo. Depois disso, contribuir em fanzines, escrevendo, financiando (era um dos poucos que tinha um trabalho fixo), distribuindo. Toquei em várias bandas, organizei eventos etc... Específico nunca fui, o que, como já falei, é uma qualidade pra mim e um espinho na mente de muitos. Sempre andei com os caras da Vermes do Sistema (Gang Punk), mas não participava da gang, andava com os AnarcoPunks, mas não era do MAP (Organização AnarcoPunk). Contribuir em vários lugares sempre foi minha escolha, até porque a maioria deles não está aberta para mudanças em suas estruturas. Como diria o amigo Carlos Prozato, gosto de “transitar por todo los espacios”. Do it you self? Hoje posso dizer que é uma escolha que faço, que possibilita manter autonomia, mas, na época, era NESCESSIDADE! Se não fizéssemos, ninguém faria por nós até porque não se tratava de conseguir dinheiro pra fazer eventos, mas sim de mudar o mundo.
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GI: Você participa de inúmeras iniciativas político-culturais na Bahia e no Brasil. Fale um pouco da sua experiência no Telefanzine, no Quilombo Cecília, Espaço Insurgente- Casa MUV, etc.
RV: O Telefanzine foi minha escola. Ednilson Sacramento foi e é uma das pessoas que sempre penso quando bate aquele desgaste e a pergunta que nos roda com o tempo: será que tudo isto vale a pena? Ele, junto com Jardelice, foi um dos responsáveis pela loja Not Dead, pela loja Haikai, entre outras coisas. Foi o idealizador do Telefanzine, assim... Pegou um sistema de caixa postal por telefone que possibilitava editar mensagens em um tempo considerável e montava, diariamente, um programa que podia ser ouvido após ligar 533-6640 e, ao fim deste, deixar sua mensagem, que seria ouvida e, a depender, entraria nas próximas edições. Eu Fazia um bloco sobre hardcore, comentando sons e falando sobre vegetarianismo, política, etc... Quilombo Cecília é outro marco na história daqui. Um verdadeiro quilombo encarnado em uma casa no centro de Salvador, Pelourinho, onde todos puderam ter experiências incríveis com teatro, dança, capoeira, literatura, poesia, alimentação natural, HIPHOP. Inclusive lá que se deu o início, de fato, às discussões étnicas dentro do Punk e do Anarquismo em Salvador, o que gerou conflitos, discussões, brigas e muito aprendizado. Bem, fizemos uma ocupação de uma casa abandonada e lá foi criada a Casa do Estudante, um espaço que deveria aglutinar estudantes independentes que, por não participarem de nenhuma organização estudantil institucional, ficavam, muitas vezes, excluídos do movimento estudantil. Com a desocupação violenta da casa, algumas pessoas procuraram o dono de uma casa ao lado que também estava abandonada e, depois de acertos e um aluguel barato, surgiu o Espaço Insurgente com uma proposta mais voltada pra Contracultura. Como eu sempre estava participando ativamente de todos estes projetos quando as pessoas responsáveis tiveram que mudar de estado, passaram o peso de vez pra mim e pro Fabiano (Estopim rec.). Surge, então, a CASA MUV, um trocadilho com movimento uniformemente variável e uma homenagem ao MOVE uma família de revolucionários. Palestras, filmes, debates sobre tudo que você imaginar e parcerias com vários outros grupos como a Blackitude e a galera da Positivoz. Inclusive foi lá na MUV que aconteceu a primeira Fora de Orbita Rap. É muito difícil passar o que aconteceu nestes lugares, o que aparentemente não difere de outros espaços espalhados pelo mundo se não fosse a maneira peculiar de como as coisas aconteceram ... mas aí teria que escrever um livro e não ia nem chegar perto dos “fatos”...
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GI: Você teve uma atuação central na A.DL. (Animal Defense League) e pratica e divulga o Veganismo. Explica o que é isso tudo pra nós.
RV: O veganismo é uma decisão de como queremos nos relacionar com outras espécies. Partindo do principio que não concordamos com a opressão de um gênero pelo outro, de uma etnia pela outra, de uma opção sexual pela outra etc... não tem lógica defender, mesmo de maneira supostamente inconsciente, esta opressão sobre seres de outra espécie. O Vegano se alimenta de produtos que não sejam derivados de animais, ou seja, são estritamente vegetarianos, sem carnes, leite, ovos, mel. Se veste com roupas que não tenha couro, não freqüenta locais como circos, rodeios, rinhas, zoológicos e outras cadeias onde o entretenimento (???) seja usar animais para satisfazer nossa curiosidade ou desejo de adrenalina. Cabe lembrar que, infelizmente, dentro dos movimentos sociais, o Veganismo é ignorado, tratado com desdém, como algo de cunho pessoal, não lembrando estas mesmas pessoas que, até pouco tempo, a defesa dos direitos do negro, da mulher, dos homossexuais era exatamente a mesma coisa, idéia de gente “muito radical”. Os animais não-humano – é, às vezes esquecemos que também somos animais - não são propriedade e, sendo assim, não podem ter sua vida e morte decididas por nós. Não pensar seriamente nisto é cômodo e uma prova que, na maioria das vezes, nos preocupamos apenas com nosso umbigo e o discurso político é apenas para maquiar esta prática. A A.D.L. foi dissolvida faz tempo. Foi onde aprendi muito sobre como organizar as coisas, a necessidade da criação de redes, além de poder participar de um experiência em nível mundial, feita de maneira autônoma e horizontal. Hoje estamos organizando um evento para a criação de uma rede de ativista local e continuamos divulgando o Veganismo, pois os animais não tem “voz”. Veganismo não é uma escolha pessoal, assim como ser machista ou não, ser racista ou não, nada tem a ver com o nosso querer, e sim com uma decisão política.
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GI: O que você chama exatamente de “Política Divergente”? Que ações entram aí?
RV: Acredito que possamos dar este nome a tudo aquilo que construa uma discórdia e saia dos padrões tradicionais de se fazer política. Um dos grandes erros pra mim, em relação aos nossos anseios, é exatamente que pautamos as coisas pelo que não queremos e não pelo que desejamos. A idéia de sermos oposição nos é bem mais fácil de administrar do que a necessidade de construir coisas. Um exemplo disto é que estamos sempre reclamando das Universidades, dos governos, das relações econômicas... de tudo. Caímos na armadilha de acreditar que existe algo errado com estas relações quando na verdade está tudo certo, elas são realmente assim, foram criadas pra serem assim. O que varia é como e o grau de repressão que elas vão aplicar para continuarem funcionando. Divergir é acreditar que a saída é “para fora”. Isto não quer dizer que não devamos lutar por políticas públicas, por ações afirmativas, melhores condições de trabalho, pela implantação de governos democrático, mas que tenhamos a certeza que estas medidas devem nos servir de fôlego, para respirar para a “Grande Batalha”. O fenômeno Obama nos mostra muito bem sobre o que estou falando, pois, mesmo sendo um candidato liberal, o que traz uma perspectiva de uma outra política, já fez declarações que vai manter a “agenda Bush” de expansão do império. Então o que possivelmente veremos é uma menor exclusão dos oprimidos, mas não uma maior inclusão. Menos bombas e mais sanções e embargos econômicos. Ações posso citar a quebra de direito autorais, a internet, software livre, a cultura do sample, as moradias coletivas, relacionamentos coletivos, espaços autônomos, as cooperativas, etc...
Sendo prático... a moradia coletiva pode ser uma alternativa viável, imediata e real para a falta de moradia, as dificuldades com trabalho, etc... A criação de projetos para alfabetização de crianças uma alternativa para a educação cheia de preconceitos que recebem... A criação de universidades livres uma opção para elas serem realmente uma casa de conhecimento. Na moral, se realmente queremos fazer a tão cantada revolução, só criando um outro mundo com outras relações com tudo. O que resta saber é se queremos pagar o preço. Se fosse possível hoje resolver os problemas do mundo, apenas abrindo mão dos carros particulares... ou da televisão...ou dos celulares...eu disse todos os problemas do mundo... ainda bem que isto não é possível, pois saberíamos qual seria a resposta da maioria esmagadora das pessoas. Estamos apaixonados por esta merda toda; este é o nosso maior problema.
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GI: Como você concilia essas posturas todas com sua atuação como diretor de sindicato? Como você convive com a contradição que denota a participação dos sindicatos na política partidária? Ou você não reconhece essa contradição?
RV: Tem cinco anos que faço parte da direção do Sindicato dos Comerciários de Salvador e, durante este tempo, tenho tido uma aprendizagem muito grande em relação aos limites que se estabelecem na atuação das relações políticas dentro deste sistema que vivemos. A nossa luta no sindicato é de extrema importância para estabelecermos uma resistência e um avanço nas relações no trabalho. Há muito que larguei a postura cômoda de ficar apenas procurando defeitos, prática esta muito comum entre os mais “radicais”. Para desenvolver ações é preciso levar em conta as condições reais, o contexto aonde vai ser aplicada estas ações, pois posso ter idéia perfeitas e planos precisos, mas, quando colocados em prática, é que veremos o que irá acontecer. Um exemplo foi a “Revolta do Buzu”, que teve uma grande rejeição dos estudantes em relação à participação dos partidos, das organizações estudantis oficiais e, depois, não manteve uma constância nesta atuação. Eu sempre falei que, entre não querer ter um líder e o desejo em se auto-organizar, existe uma distância imensa. A participação dos sindicatos na política partidária acaba sendo natural desde quando a maioria dos sindicatos tem suas diretorias formada por pessoas que estão filiadas a partidos. Eu estou trabalhando ativamente na campanha de reeleição a vereador de Oliveira que é um companheiro do sindicato e que tem um projeto e ações que acredito sejam de extrema importância para os trabalhadores e para a cidade de Salvador. Se não acreditasse no projeto, não faria a campanha, isto pra mim é ser autônomo. Não sou do tipo que “quanto pior melhor” pra poder ficar falando “tá vendo... tá vendo que falei!”. Eu torço que Obama faça uma grande diferença até pelo histórico dele e as ligações que seu passado mostra com causas muito próximas da minha. Como falei antes, ele pode nos dar um bom fôlego; eu votaria nele sem pestanejar. O mundo não se divide de maneira tão simples entre bem e mal, certo ou errado, como alguns querem colocar. Eu sou sincero, prefiro uma revolução com uma sábia liderança do que um jogo de dominó sem lideres, horizontal e baseado no consenso. A contradição sempre faz visitas a todos os ativistas e revolucionários, mas não chega nem perto dos que apenas pensam.
GI: Fale um pouco de sua experiência com o Rock? Que grupos você já integrou?
RV: Tudo começou com a Blitz que foi o primeiro grupo que me apaixonei realmente. Antes houve outros grupos, mas, naquele momento, acredito que toda aquela história do teatro, da mistura, experimentação, as letras faladas me fizeram pela primeira vez pensar em ter um grupo. O Rock era a música que embalava toda aquela coisa do sexo, drogas, rebeldia e insatisfação, e Castelo Branco era o palco perfeito. Toda minha “desenvoltura” sexual devo às noites loucas deste bairro maravilhoso. Meu primeiro grupo foi o Combat D' Front, depois vieram o Acracia, um show com a Pesadelo (nunca me esqueço!), a Scoter Brigade (que foi a primeira banda straight edge do nordeste, a No Deal, a Lisergia, Sem Acordo, Lascívia, Lumpen e agora estou junto com Nando e Blequimobiu, gravando uns trampos de Rap num coletivo maluco que trampa com vídeo, fotos, eventos relâmpagos e o que mais aparecer, hahah.
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GI: Faça um release da LUMPEN, sua formação e estética, sua filiação à
Estopim Records e à “Associação de Bandas Independente da Bahia”? O que temos de material da banda? Que eventos participam normalmente? Aproveita e localiza o selo para nós.
RV: A Lumpen é uma tentativa previamente frustrada de fazer a música impulsionar transformações. Falo frustrada de maneira positiva, pois estou sempre insatisfeito e querendo avançar. Sempre acho que algo não deu certo e que tenho que melhorar. Somos uma banda de Hardcore como milhares de outras que talvez se destaque por assumir isto. A idéia quando concebi este nome foi “desviar” o sentido original que coloca as pessoas despossuídas, desempregadas, o Lumpen social, como não decisivas no processo revolucionário e mostrar que a transformação virá destas pessoas, pois nós estamos presos demais neste emaranhado de produtos para nos arriscarmos. A Estopim está comemorando 9 anos de atividades com 23 lançamentos e o Fabiano, além de tocar guitarra na Lumpen, é uma pessoa que tem uma paixão muito grande pelo que faz. Como diz o lema da ESTOPIM: “Independente por Opção!!”. Temos um CD gravado que se chama PELO BEM DA HUMANIDADE DIGA NÃO À PAZ que pode ser baixado de graça no JAMENDO, pois as cópias “físicas” estão esgotadas. Temos um clipe, que foi dirigido pelo nosso irmão Felipe “Psico” Franca, e estamos atualmente trabalhando no novo CD, que contará com versões de bandas que já tocamos e outras - como Escato, Bosta Rala, Execradores e Versu2 - que nos influenciaram em momentos diferentes de nossa vida. Tocamos muito tempo em eventos que nós mesmos organizamos e também em turnês com bandas de outros estados; festivais com palestras, vídeos e outras coisas, mas principalmente na CASA MUV, que era um espaço que mantínhamos. Os últimos sons que fizemos foram muito bons: um na Casa da Arte, organizado por Led, e outro que tocamos junto com o Nova Aliança Negra (Rap) no projeto MusicArte, do irmão Robô da banda Con-Fusão. Tocamos, no último dia 11, Festival Bom Bahia na Praça Teresa Batista - Pelourinho.
GI: De onde vem sua “inspiração” como letrista? Qual o espaço da literatura em sua vida?
RV: Me inspiro nas coisas que assisto, nas longas conversas que tenho com os amigos, na literatura política e em coisas como os Comunistas de Conselho, Situacionistas, Cristão Primitivos, Magia do Caos, Taoísmo, Xamanismo, Literatura e filmes com temática pornográfica divergente (Vida longa a Belladona!), Múmia Abul Jamal, MOVE, John África, Krs-One, Starwalk, etc.. Sou o rei do plágio, amo esta coisa de recombinar palavras e idéias. Minha cabeça é totalmente desorganizada e a literatura na minha vida funciona assim, me deixando mais desorganizado e cada dia mais “Agnóstico Criativo” como diz Robert Anton Wilson.
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GI: E o hip hop? Como se deu esta chegada? Por que a Blackitude?
RV: Foi em 1989, na loja Not Dead, que Rose lima, Poetisa e Punk, chegou de São Paulo e falou literalmente: “Porra Animal tem uns caras fazendo um movimento chamado Hip Hop que é igual a nós só que o som, o Rap é meio discoteque, mas é protesto, os caras são Punks, Periferia Também!”. Foi aí que ouvi a música Luz Negra do Thaíde e Dj Hum que despertou em mim a faísca da Negritude com consciência.
Depois disso tive a felicidade de acompanhar o surgimento da Cultura HIP HOP aqui em Salvador e conhecer uma rapa que tá no corre até hoje e outros que sumiram. Acredito que contribuí de alguma maneira pras coisas estarem como estão hoje. A Blackitude foi aquele tipo de relacionamento que, quando damos por si, já estamos morando juntos. Sempre tento contribuir em qualquer lugar que estou e com a Blackitude não foi diferente. Sempre tava nos eventos, vendendo ingressos, carregando coisas, dando opinião e, como na época, meu irmão e agora Compadre Blequimobiu fazia parte, a paixão foi inevitável. Depois da primeira transa, o amor só aumentou, levando ao casamento, com todas as brigas, raivas, alegrias e momentos inesquecíveis que sempre acompanham as paixões. Que romântico, hein Maka... hahaahaha. Não sou muito bom de falar sobre o passado, pois, nos meus 37 aninhos, vi e vivi muita coisa e tenho medo de parecer pretensioso... já sendo né?!
GI: Fica aí o espaço livre, para suas considerações finais (por ora – rsrs). Deixe também seus contatos, parceiro.
RV: Queria mandar um salve especial para Nando, parceiro no Coletivo ARTERISCO, pros parceiros que estão colados aí nesta nova empreitada: Blequimobiu, Fabiano, Coscarque, Spock, Diego, Da Ganja, Freza, Dj Leandro, Dj Indío e toda Família POSITIVOZ! “Assim fica difícil estragar!!!”. Um Salve pra toda Família Blackitude, principalmente pra você, Maka, pela amizade, conversas e incentivo constante.
Um salve com muita paixão para as mulheres da minha vida: Josy, Luciana e Priscila... Amo vocês!!
Paz pra quem merece!!!!
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verderubro@gmail.com
http://www.lumpen.com.br/
http://www.estopimrecords.com.br/
http://www.positivoz.com/
Foto1: Robson Véio: Possessão Hardcore!
Foto2: Robson Véio e As Meninas (Luciana e Priscila) - One People! One Love!
Foto3: Robson Véio: James Brown no Peito!
Foto4: Lumpen: Estampa Original!
Foto5: Banda Lumpen: Nóise Vibration!
Foto6: Vegan! Girando no Prato: Alimento em Movimento.
Foto7: Lumpen: Nóise Celebration! Tupac no Coração!
Foto8: Arte*Risco: Outras Escritas do Cara!
Foto9: Robson Véio e Fofinho com o grupo Comparsas de Maceió - Na Arte Da Lata!
Foto10: Lumpen: Intimismo Nóise!
Todas as fotos gentilmente cedidas por Robson Véio!
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4 comentários:
Ixi...responsa!
satisfação sempre irmandade... lembrar que a gente não corre sozinho satisfaz a alma!
vibrações positivas...
uma pequena errata: www.positivoz.com sem o ".br"
axé!
Maravilha Robson!Sua experiência e articulação é energia para quem tá nesse corre! Luiza Reis
Grande Robson!]=
Massa a recordação do Telefanzine.
Das Cavernas!!!!
Liberdade não pode ser doada, Liberdade so pode ser conquistadaaaaaaaaa aa aaaa.
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