quinta-feira, 16 de junho de 2011

9 Respostas a procura de uma pergunta (7)

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"- Não sou apenas adepto, mas também ativista em prol de um movimento geral de Reparação ao povo negro do Brasil, pelo sequestro sofrido, por todo o processo de aviltamento humano do cativeiro e das torturas, pela exploração da mão de obra sem salário condizente e pela ação perversa da discriminação e do racismo institucional que ainda nos atinge e aflige. É dentro do movimento geral de Reparações que as Ações Afirmativas agem como operadoras de transformações necessárias.

O impedimento histórico de acesso à educação formal ao povo negro é um sintoma clássico da realidade perversa que presenciamos desde a chegada de nosso primeiro parente africano escravizado em nosso país. Acho que a adoção do sistema de cotas na educação nacional permite uma ainda pequena correção na grande defasagem do sistema no que tange ao nosso acesso ao ensino público superior e de qualidade.

Das muitas falas contrárias que ouvimos sistematicamente nos debates, quando há, duas preocupações puramente retóricas se destacam: (1) o suposto privilégio dedicado aos candidatos que concorrem às vagas reservadas às cotas e (2) a possível estigmatização do estudante cotista entre seus colegas universitários.

Trata-se de um debate ainda pouquíssimo aprofundado nas camadas mais amplas da população. Divulga-se a falsa ideia de que o vestibulando negro teria privilégio, podendo tirar inclusive vagas de outros com maiores notas no concurso vestibular, por um lado, e a dificuldade que o negro ingresso na universidade através do regime de cotas teria de acompanhar os demais alunos (não cotistas) que, segundo essa retórica, estariam bem mais preparados.

A realidade, no entanto, tem provado justamente o contrário, nos dois pontos. Primeiro que, como a linha de corte impede qualquer aluno incapaz de entrar na universidade apenas pelo fato de ser negro. Segundo, porque estudos recentes demonstram que o desempenho dos cotistas é semelhante ou, até mesmo, superior aos dos colegas. Imagine você que até a Unicamp já atestou isso com pesquisa acadêmica.

Enfim, gostaria de dizer que, na verdade mesmo, o debate em torno das cotas não é outro senão uma extensão do histórico debate racial brasileiro. Que não está isento dos interesses do confronto entre as hegemonias e as minorias étnicas.

Hoje debater se deve ou não haver cotas não é necessariamente o mais urgente, porque o grande enfrentamento jurídico que a questão está promovendo é determinante para sua estabilidade. Quando falamos, num sentido profundo, do movimento abolicionista do Século XIX, na verdade, falamos de um grande embate jurídico mais centrado na legitimidade da livre propriedade do que, necessariamente, na sorte de seres humanos escravizados.

Afinal, se o Brasil branco foi o último país do mundo a abolir a escravidão, por que aceitaria assim de “mão beijada” as cotas para negros em suas universidades Brancas?

Dizem que o Brasil é um país sem memória e incoerente. De que Brasil será que falam?

Como me diz meu mestre: Bem vindo à GRANDE POLÍTICA!"

Nelson Maca - Poeta Exu Encruzilhador de Caminhos!

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