domingo, 12 de junho de 2011

9 Respostas a procura de uma pergunta (3)

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"- Caramba, aí você me obriga a mexer em demandas longínquas e profundas! Em cada momento, de diferentes maneiras, a cultura hip hop tá na minha vida praticamente desde sua chegada, em grande escala, no Brasil. Em grande escala quero dizer principalmente através do cinema e dos bailes blacks.

Enquanto movimento ao qual me integro, minha ligação mais orgânica se deu em Salvador na Posse Ori, há uns 13 anos atrás. Logo depois fundamos o coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, que em novembro de 2011 completa 11 anos (10 com esse nome).

Essa história recente penso que dispensa comentários aqui, pois tá tudo aí, na internet e nas cabeças dos que presenciam a nossa existência e não têm problema em admitir nossa força e vigor na cena. Mas antes foi lindo. Peguei filas imensas para assistir a estreia de BeatStreet e outros filmes fundadores. Quando The Message chegou às pistas no Brasil, eu frequentava os bailes blacks do Studio Moustache em Curitiba. Minha adolescência se deu meio a tudo isso.

O primeiro elemento que vi assim efetivamente ao vivo foi o Breaking. Nunca esquecerei as calças quadriculadas em preto e branco, os boxes, nem os papelões de geladeira como pista daquela dança revolucionária. Depois veio o resto.

Mas eu não participava concretamente, pois era um pretenso dançarino de funk-soul!

Cheguei a assistir rodas de break e rap no Largo da Carioca No Rio de Janeiro. Em Brasília, que vou desde 1984, vi algumas cenas primordiais de hip hop também. Tive, sim, a honra de ver coisas nas ruas de Sampa. Respeito demais o que se tornou o hip hop por lá. Mas confesso que é meio difícil pra eu aceitar calmamente a essencialização que os paulistas promovem de si mesmos com relação à história do hip hip no Brasil: sua chegada e sua estabilização. Tem gente escrevendo sob outros ângulos sobre a cultura no país, inclusive eu. Queremos ampliar a paisagem - no retrovisor dessa locomotiva viva - para antes e depois das estações únicas.

Hoje levo o hip hop não somente para o Blog Gramática da Ira, mas também para minha casa, minha sala de aula, minhas palestras, minhas oficinas, minha literatura e ativismo de forma geral."


Nelson Maca - Poeta Exu Encruzilhador de Caminhos

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