quinta-feira, 3 de abril de 2008

Mestres da Blackitude: James Brown - II


Sou Negro e Tenho Orgulho

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O pedido foi do próprio James Brown. Quando morresse, queria se despedir do público no Teatro Apollo, em Nova York. Não foi mais uma extravagância do Rei do Soul. O sentido do último desejo está linkado ao início da carreira brilhante. Foi no badalado endereço que ele começou a cantar na década de 1950. Foi lá também que gravou o disco Live at the Apollo, reza a lenda, pagando os custos do próprio bolso. Era o ano de 1962 e o investimento valeu a pena, pois a partir dali James Joseph Brown Jr. se tornou o James Brown que os Estados Unidos e o mundo admirou e acompanhou até o último Natal.
Na época, o futuro ídolo de Prince, Michel Jackson e Lenny Kravitz tinha apenas 29 anos. Vinha de uma vida difícil. Na infância colheu algodão e engraxou sapatos e na adolescência ficou dos 16 aos 19 anos internado num reformatório. Foi lá que despertou para a música, mas antes de abraçá-la com o corpo e a alma, passou pelo boxe e pelo baseball. Como outros cantores negros americanos, começou pelo gospel, no The Famous Flames, com o qual gravou o primeiro hit: Please Please Please.

Menos de uma década depois, James Brown já tinha encontrado a receita para fundir elementos do blues, do jazz, e do rock, apontando caminhos para o funk, a disco music e o hip hop. Escreveu um novo capítulo para a história da black music com músicas como I got you (I feel good), Papa´s got a brand new, Sex machine e Living in América. Sua importância é comparada a de Felá Kuti e Miles Davis. Para entendermos a extensão de sua influência, aqui no Brasil, já nos anos 70, Tim Maia gravava seus primeiros discos, declaradamente influenciados por James Brown, que faria sua primeira visita ao país em 73. Voltou mais quatro, sendo a última em 1998. Mas não foi só a música. Teve também a dança, o visual impecável e extravagante e as performances arrebatadoras. E ainda a militância na luta anti-racista e pelos direitos civis lideradas por Martin Luter King nos anos 60. Seu refrão Say it loud: I´m black and I´m proud resume tudo: “Diga alto: Eu sou negro e eu tenho orgulho”.

Em 1974, fez no Zaire um concerto histórico como parte da programação da luta entre Muhammad Ali e George Foreman. E James Brown também foi o astro difícil e encrenqueiro envolvido em brigas e agressões, álcool e drogas. Uma verdadeira “dynamite”, como bem sintetizava um de seus muitos apelidos.

Texto: Ana Cristina Pereira
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Fonte: Zine Na Lata / Editor: Neuro
Salvador-BA, Ed. Especial - Vol.1 - Tributo a James Brown

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