domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sarau Bem Black - Casa Poética da Blackitude

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Sarau Bem Black

Quarta-feira, 03/03
Sankofa African Bar
Pelourinho = 19h


"A vibração da Blackitude é Positiva"
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"Saudades dos meus encontros com a poesia, com a ancestralidade expressa nela... Obrigado pelo crescimento que o sarau bem black trouxe em 2009...

Quando voltaremos a noites lindas de muita poesia? A juventude espera ansiosa por este retorno... agora bem mais fortes... bem black! Seja por dentro ou por fora! Axé!"

(Jéssica)

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Recebi este comentário, aqui no blog, no início do ano. É da Preta Jéssica, uma das belas meninas que frequentam, regularmente, o Sarau Bem Black.

Queria confessar que a presença da juventude de bairros periféricos no sarau é o que mais me anima. Aliás, eles estão sustentando física e espirirualmente o sarau.

Fiz um cálculo errado quando vislumbrei a possibilidade de o nosso sarau ser um ponto de encontro semanal com vários poetas, escritores, artistas e ativistas da negritude baiana que conheço há uma cara.

Alguns realmente aparecem de vez em quando.. uns dois regularmente... Mas são as caras novas, efetivamente, que tenho visto nas quartas do Sankofa African Bar no Pelourinho.

Agora entendo perfeitamente que o melhor que poderia ter acontecido era justamente o que está acontecendo: nossas vozes se ampliando e, principalmente, renovando!!

É louco: quando vejo, por exempo, a rapaziada do bairro de Sussuarana chegando no Sarau Bem Black, meu coração começa a bater forte. Penso comigo:

- Hoje vai ter Poesia Viva!

Quando vi e ouvi o Rone Dundum declamando na última quarta-feira, pensei comigo:

- Viiiixe.... Será que devo continuar?

Sim, devo, pois o Sarau Bem Black tem um futuro glorioso justamente com a junção de nossa experiência acumulada e a atualidade vibrante desses jovens que têm nos dado as mãos sem medo de ser feliz em família!

Sankofa: um olho no futuro, outro no passado... e os dois pés no solo do presente.

Nós refutamos a máxima dos Beatles, pois, na tradição africana, continuamos confiando nos que tem mais de trinta e, ainda mais, nos que têm mais que mais de trinta anos!


Nelson Maca
- Exu Bem Black

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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Zapata: Rebelde com Causa!

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Contra o seqüestro de um mártir
Carlos Moore*


Orlando Zapata Tamayo, um jovem trabalhador negro pobre cubano, morreu nesta terça-feira após uma greve de fome de 86 dias em protesto contra a brutalidade que vinha sofrendo na prisão.

Desde 2003, ele vinha sendo mantido como um prisioneiro político em um centro de detenção
localizado no interior de Cuba. Em 50 anos do regime de Fidel Castro, Zapata se converteu assim no primeiro dissidente negro que entregou a própria vida para protestar contra a opressão racial, a negação dos direitos civis, dos direitos humanos e políticos.

“Meu filho foi assassinado por causa de sua pele negra”, disse a mãe de Zapata, em meio aos choros, quando recebeu a noticia.

A pergunta é: por que as autoridades cubanas permitiram que este homem morresse, precisamente no momento em que tantas vozes, em todo o mundo, têm se levantado condenando a situação racial na ilha?

Preso por suas atividades políticas corajosas, Zapata foi acusado de “desordem pública”, “desacato às autoridades” e “perturbação da ordem”. Ele foi condenado a três anos de prisão. Mas enquanto cumpria a sentença, foi acusado de “rebelião” e condenado novamente a um total de trinta e seis anos! Este fato que pode parecer incrível à maioria no mundo, não o é em Cuba, especialmente se a pele do condenado é negra.

Os negros cubanos presos, há muito, se queixam de serem submetidos a tratamento diferenciado com humilhações e espancamentos, não merecendo algumas amenidades que são oferecidas aos brancos. Estima-se que 85 por cento da população carcerária cubana é de negros, e que dos cerca de 200 presos políticos, 60 por cento sejam também negros. É o racismo cubano que permanece, mesmo atrás das grades.

Zapata, um pedreiro de profissão, não aceitou os espancamentos, as humilhações e o tratamento diferenciado por causa de sua cor. Depois de ser gravemente atacado por guardas que o deixaram quase morto, ele iniciou uma greve de fome, em 3 de dezembro de 2009, na prisão de Olguín, no leste de Cuba. Isso aconteceu exatamente dois dias depois de acadêmicos, artistas e intelectuais do mundo negro terem emitido uma declaração importante, protestando contra as condições raciais e as violações dos direitos humanos na ilha.

A determinação de Zapata para ter sua humanidade respeitada e, até mesmo, morrer se necessário fosse, sinaliza uma grande mudança nos acontecimentos dentro de Cuba; mudança que está redefinindo a fisionomia da oposição política na ilha.

Durante os últimos 25 anos uma nova força apareceu, crescendo não apenas em números, mas em complexidade, apontando para os problemas da discriminação racial, do racismo e do sexismo em Cuba, na vanguarda da luta por uma mudança não-violenta. Essas novas forças parecem ter pego de surpresa, tanto o regime de Castro, quanto a oposição exilada de direita, cuja esmagadora maioria é branca. Ambos foram forçados a se reposicionar num esforço para reafirmar seu controle sobre aqueles a quem consideravam como puros reféns políticos: os negros cubanos.

É esta nova configuração da oposição cubana, em Cuba, que tem provocado a ira dos governantes da ilha. Ativistas de direitos civis têm apontado o caso do líder comunista negro Juan Carlos Robinson, ex-secretário provincial do Partido Comunista, prisioneiro há 12 anos, após ter sido acusado, em 2006, das mesmas irregularidades – corrupção – de que fora acusado o ministro do exterior Roberto Robaina, um branco, em 2002. Ora, contra este último somente foi decretada a prisão domiciliar. Por que o tratamento diferenciado?

Os ativistas de direitos civis apontam também para as execuções em 2003 de Jorge Luis Martínez Isaac, Lorenzo Enrique Copello Castillo e Leodán Bárbaro Sevilla García – três jovens negros que sequestraram uma lancha na tentativa de fugir de Cuba. O fato de dois deles serem veteranos da guerra em Angola, não impediu que o regime os executassem como “terroristas”, num prazo de 48 horas após sua captura. Foi a primeira vez que o governo de Fidel Castro executara alguém por seqüestro. Os ativistas de direitos civis acreditam que o motivo foi a cor da pele das vítimas: todos negros!

“As autoridades não perdoam àqueles a quem consideram como ‘negros fugitivos´”, explicaram os ativistas. Eles avaliaram que, ao executar esses jovens negros, o regime enviou uma mensagem codificada à população afro-cubana de que a dissidência, e muito menos a oposição, não seriam tolerados, especialmente se viesse dos negros. Os ativistas apontam, também, para as práticas agressivas de abordagem policiais contra os jovens negros em Cuba, como sendo uma das principais causas da super lotação de negros nas prisões.

Mas, para entender por que as autoridades cubanas permitiram a greve de fome de Zapata até as últimas conseqüências, é necessário entender o outro lado da moeda: a saber, a reação dos chamados “exilados” anti-Castristas, predominantemente brancos, nos Estados Unidos, ao assassinato de Zapata. Para estes grupos, claramente, trata-se de marcar pontos políticos e de se aproveitar do martírio de um opositor negro.

Nessa ótica, pode-se esperar que esses “exilados” tentem recuperar a situação ao seu proveito, com declarações espalhafatosas. Já é o caso com as principais formações políticas da extrema direita exilada nos USA, tais como: o Movimento Democracia, liderado por Ramón Saúl Sánchez; a Fundação Nacional Cubano Americana, liderada por Pepe Hernández e Jorge Mas Santos; e em especial o Diretório Democrática Cubano, liderado por Orlando Gutierrez e o Conselho Cubano pela Liberdade, chefiado por Ninoska Pérez Castellón.

Todos estes grupos vêm trabalhando para sufocar e controlar as novas forças de oposição em Cuba, e investem grandes recursos nesse sentido. Mas, suspeita-se que essas tentativas estão destinadas a satisfazer os interesses espúrios da antiga oligarquia cubana derrubada pela Revolução, e cujo domínio se baseara na segregação racial. É por isso, que as lágrimas de crocodilo derramadas pelo congressista cubano-americano Lincoln Díaz-Balart, em relação à morte de Zapata, longe de o identificar como um defensor da igualdade racial em Cuba, constitui-se numa farsa.

Certamente não tenho a pretensão de falar em nome daqueles que em Cuba constituem a maioria. Mas, não estou longe da verdade dessa maioria ao afirmar que ela dificilmente poderia estar lutando com o fim de re-empoderar aquela minúscula elite branca e rica que foi derrubada em 1959. É essa elite segregacionista que esses exilados, chamados de anti-castristas, representam.

Orlando Zapata Tamayo está morto. Ele é agora um mártir do povo. Mas aqueles que lutaram e compartilharam de suas aspirações não podem permitir que o corajoso e íntegro legado deste homem e sua memória sejam “sequestrados” e usurpados. Aqueles que, antes de 1959 o desprezaram por ser negro, e que continuam a fazê-lo apesar das lágrimas hipócritas derramadas, não podem roubar esse legado. O legado de Zapata pertence ao futuro de Cuba, e não ao seu passado neo-colonial, segregacionista e subserviente.


SOBRE O AUTOR:

* Carlos Moore é Etnólogo e Cientista Político, autor do recém-lançado “Pichón: Raça e Revolução na Cuba de Fidel Castro” (Lawrence Hill Books, 2008). Moore é chefe de pesquisa honorário na Escola de Pós-Graduação e Pesquisa da University of the West Indies, em Kingston, Jamaica.


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Não confundir alhos
com bugalhos

ou

"Dissidentes Negros no Exílio"
com "lágrimas de crocodilo"!!


Essa é uma das questões que tenho tratado sempre com meu mestre Carlos Moore: nem todos os cubanos exilados o são pelos mesmos motivos ou pertenciam a mesma "classe social".

Grande parte desses dissidentes pertenceram as elites da llha e nunca tiveram o menor comprometimento com a luta geral de todos os oprimidos pobres ou batalhas específicas como o conflito racial por exemplo. Vamos chamar, aqui, esses cubanos exilados que não nos inspiram a mínima solidariedade de cubanos de "Miame".

Não é com esses que estamos, pois não é contra os avanços sociais reais da Revolução que nos rebelamos.

Eu, de minha parte, tenho me solidarizado - por identificação direta - com aqueles cubanos que estão exilados dentro ou fora de Cuba pelo mesmo motivo que sou um exilado dentro do Brasil: o racismo institucional!

Nelson Maca
Condenado da Terra

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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Dois poemas que não escrevi!

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Dois poemas que não escrevi,
mas que são meus, ah são!;
mas que são para mim, eu sei!


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dizer não
tantas vezes
atré formar um nome

:: alice ruiz



cogito


sou como sou
pronome pessoal
e intransferível
do homem que iniciei
na medida
do impossível

sou como sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

sou como sou
presente
desferrolhado, indecente
feito um pedaço
de mim

sou como sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim

::torquato neto::


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Blackitude na Pista!

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BlacKitude Literária

apresenta
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Sarau Bem Black


Quarta-feira, dia 24/02
Sankofa African Bar
Pelourinho - 19h


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Sarau Bem Legal

Domingo, dia 28/02
B
iblioteca Monteiro Lobato
Largo de Nazaré - 11h

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"A Vibração da Blackitude é Positiva"

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sábado, 20 de fevereiro de 2010

África Poesia

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Black Star Line!

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Seguro na tua mão e vou

"Eu vou eu vou
Pra casa agora eu vou... "

Quando me dizem não coma
Não coma não coma

Não rumine esperança

Alimento minha boca
Nas carnes da lembrança

Quando me dizem não cresça
Não cresça não cresça
Não floresça a vingança

Alinhavo minhas pernas
Costuro minhas andanças

Quando me dizem não peça
Não peça não peça
Não aqueça a cegueira

Refrigero minha mente
Na geleira da fogueira

Quando me dizem não tenta
Não tenta não tenta
Não estenda o seu vício

Rejeito verdades forjadas
Talhadas no meu sacrifício

Quando me dizem não pensa
Não pensa não pensa
Não conteste a sentença

Empreteço a cor que me resta
Revelo a minha presença

Quando me dizem não negue
Não negue não negue
Não indague o passado

Afirmo a minha pele
Coberta de bronze vazado

Quando me dizem não volte
Não volte não volte
Não se solte da estrada

Sem um pulo no passado
No presente não sou nada

Quando me dizem não vague
Não vague não vague
Não afague os desvios

É com os punhos cerrados
Que entorto os meus desafios

Quando me dizem não faça
Não faça não faça
Não abraça o que sobrou

Recomponho minha raça
Seguro na tua mão e vou

Seguro na tua mão e vou
E vou e vou

"Eu vou eu vou
Pra casa agora eu vou

Parará timbum parará timbum
Eu vou Eu vou "


Nelson Maca
Poema: Seguro na tua mão e vou
Gaveta: Salve o Rei

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"Você não sabe quem são os irmãos
Garvey, Malcolm e Abdias Nascimento
Tão absortro em Álvares Alves Isabel Deodoro
Freire Figueiredo Cardoso Luís Inácio

Você sempre gostou de citar o exemplo pacífico
de Gandhi, Irmã Dulce e Madre Tereza de Calcutá
Mas não ousa ler o sonho de Martin Luther King
Nem se orgulhar do exempo pacífico de Zumbi
Luís Gama
e Hamilton Borges Walê"


Nelson Maca
Poema: Brother
Gaveta: Gramática da Ira

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Filme: Várzea de Akins Kintê

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Akins Kintê: Poeta de Várzea!



Quem me deu a honra de uma visita aqui em casa ontem foi o Akins Kintê, grande poetinha de São Paulo. O sangue-bom tava de rolê na minha área e resolveu colar. Da última vez que esteve em Salvador, combinamos esta visita, mas não aconteceu.

Desta vez rolou.

Antes nos encontramos em plena terça-feira de carnaval do Pelourinho, no show de ninguém mais ninguém menos que o Lazzo Matumbe, sem dúvida alguma, o maior craque que já vi jogar nos campinhos de várzea da música.

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O Akins, que também escrve pelo audiovisual, trouxe-me um presente muito foda: uma cópia do seu novo filme, Várzea: a bola rolada na beira do coração.

Eu tava na maior curiosidade, querendo assistir esse filme, pois acompanhei as notícias da produção e tenho acompanhado as das primeiras exibições - de lançamento - pela internet.

O site do filme é http://www.varzeaojogodavida.com.br/

Apesar do pouco que nos conhecemos, e do pouco tempo que o Akins ficou aqui em casa, pudemos conversar sobre sonhos, ações e pessoas comuns a nós dois. Nas nossas conversas aparece alto o nome do irmão Michel, do Sarau Elo da Corrente - lá de Pitiruba.

Aliás, esse cara, Michel, de quem tenho orgulho de estar mais próximo a cada dia, aparece como referência afro-positiva dos guerreiros paulistanos da causa negra que tenho encontrado, como, por exemplo, o forte mano Marciano que também me visitou outro dia.

Espero fazer por merecer esta alegria de ter o respeito da irmandade.

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Depois o Akins saiu, e eu fiquei aqui, com o filme na mão, olhando para a bela arte da capa e pensando em quanta coisa nos proporciona as encruzilhada da vida quando nos arriscamos pelas travessas, becos e vielas.

Assisti o filme ontem mesmo, quinta, e hoje, sexta, assisti novamente... agora ele tá ali, na luzinha vermelha, stand by, para o início da terceira sessão: nesta, quero a Ana C. ao meu lado... e tentar despertar as crianças - Lucinha Black Power e Luiza Gata - para a beleza e importância do projeto.

Depois divulgar aos quatro cantos da Bahia Preta.

Tendo visto duas vezes, posso dizer com bastante segurança e objetividade: para minhas convicções, é um clássico!

Imagens com flagrantes marcantes; depoimentos de pessoas organicamente envolvidas na cultura varzeana e trilha sonora com muitos cortes, dribles e gingados. E a verdadeira e contagiante química que potencializa nosso instinto de sobrevivência: futebol + samba + rap!

Há vozes diversas e diferentes: jovens, adultos, velhos, homens, mulheres, atletas, dirigentes... nenhuma interferência de nenhum narrador e pouquíssima interferência do entrevistador. Graças ao bom Jah, não há também análises acadêmicas herméticas...

Enfim, a várzea fala por si.

A equidade que eu quis destacar acima, para meu agrado, está longe daquelas representações forçadas e dogmáticas que matam a fluência do relato e a estética da obra em função do “politicamente correto”.

Por exemplo, as mulheres aparecem no filme como elementos orgânicos na cena, e não como cota namoradora, para agradar a contabilidade das cobranças feministas.

Não bastasse o filme em si, os extras trazem poetas declamando textos temáticos que casam perfeitamente com o filme. Diga-se de passagem, são também poetas com a pegada varzeana, onde o coração bate no bico da chuteira.

Aqui, faço minha única cobrança: assisti ali a emocionante sequencia de um poeta que “deveria” estar na edição final.

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O filme faz um apanhado geral da cena varzeana paulistana. É emocionante, pois, parafraseando meu compadre GOG, “várzea é várzea em qualquer lugar!”.

Eu sei, porque também cresci nos jogos da várzea.

Gostava muito de jogar no ataque, mas consagrei-me como um “lendário” grande goleiro do GUEC - Garotos Unidos Esporte Clube, de Telêmaco Borba, e do Time do Bar do Gino, da Vila Formosa, lá em Curitiba.

Até meus 22 anos, podia ser profissional sem dúvida alguma (só faltou avisar os grandes clubes). Hoje, adentrado nos enta, devo manter apenas uns 88,79% da classe que tive.

Mas, como diz o famoso ponta de lança Sérgio Zidane Vaz, dos Brasinhas de Piraporinha, grande fenômeno do futebol arte: “com a bola que o Palmeiras tá jogando, acho que tem vaga pra nós dois no time".

Lá no Várzea: a bola rolada na beira do coração, do Akins Kintê, entrevistado, o Sérgio Vaz diz que ainda pensa ser jogador de futebol, “pois os sonhos não envelhecem”.

É, poeta Vaz... realmente...

Você tem razão no que diz no documentário, pois poesia e futebol tem muito a ver. Eu, por exemplo, foi com os olhos do poeta Maca que assisti o Várzea do poeta Kintê como quem torce, do barranco, na beira do campinho de terra, pelos craque de casa, ou melhor, da cidade, ou melhor, do bairro, ou melhor, da área, ou melhor, da quebrada, ou melhor, da rua...

Ou melhor, aqui de casa!

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A melhor opinião que posso dar sobre Várzea: a bola rolada na beira do coração é: ASSISTAM O FILME!

Para quem é, não tem como não se sentir em casa. São 39 minutos bem orquestrados por este técnico criterioso que, com certeza, terá um futuro concreto e belo na arte de registrar imagens e histórias que nos interessam.

O Professor (Akins) me disse que queria fechar tudo em 35 minutos, para ser fiel ao tempo de jogo varzeano (35’ x 35’), porém, não teve jeito, chegou aos 39'.

E eu perguntei:
- Tem graça jogo sem aqueles minutinhos de acréscimo?

O acréscimo no futebol, para mim, sempre significou esperança! A esperança que não devemos perder de virar o placar desfavorável da vida!

Esse filme, meio a tantas notícias desesperadoras que no chegam das periferias, sãos os minutos de acréscimo essencial que nos restitui vida, dignidade, força e alegria aos 39 minutos, 4 além do tempo regulamentar varzeano!

Um verdadeiro gol de placa!

Akins Kintê,
faz mais um pra gente vê!


:: Nelson Maca
Exu descalço, ex-guapo dos arranca toco da vila da vida!

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*Na primeira foto, Akins se apresenta no Sarau "Elo da Corrente", do parceiro Michel!.

*.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Leia a crônica de Sérgio Vaz

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Unidos da Pedra do Reino
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"[...] Nunca fui um folião do tipo confete e serpentina, ou Pierrot diante de qualquer Colombina, o samba nunca esteve ou passou pelos meus pés, sambando estou mais para o robocop.

Passista frustado, as minhas fantasias coloco na vida real.

Sem brilho nenhum, nunca tirei dez em nenhum quesito qualquer, mas apesar da falta de ginga, como quase todo brasileiro, também gosto de Carnaval.

Pena eu não ser uma cria da avenida como realmente gostaria de ser. Queria que cada veia minha fosse uma corda de cavaquinho, e mesmo sem saber batucar em caixa de fósforo, já quis ser mestre de bateria e atear fogo no ouvido da multidão.

Mas tenho que admitir que estou muito mais para quarta-feira de cinzas do que praça da apoteóse. [...]"




*Fragmento da crônica momesca de Sérgio Vaz.
para ler na íntegra clique no título ou acesse o blog do Vaz:
http://www.colecionadordepedras1.blogspot.com/

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Liga aí:

Tô aqui, tentando escrever um texto "de" carnaval. Muitas idéias, alegrias, melancolias em mim. Até raiva, este sentimento que dizem ser inferior.

Acompanhar o Ilê Aiyê no Curuzu é um sonho antigo mais uma vez renovado (alegria)...

Por todos os lugares que circulo e que epresentam a face preta do carnaval da Bahia Preta, lembro-me de meu saudoso mestre: Luís Orlando da Silva (melancolia)...

Uma corja de patrícias e maurícios "high tec" papou a maior fatia dos editais "públicos" e desfilam no carnaval, esbanjando sua alegira em cima de trios elétricos que deviam levar artistas orgânicos. Sabe esses "descolados" que tão longe do povão o ano inteiro, em seus guetos chics da cidade e do país? Pois é: no carnaval da Salvador, eles tocam frevo, marchas antigas e o que for e der fama e dinheiro... (Raiva: MUITA / Será que sou um espírito de porco? rsrs)...

Mas li o texto Unidos da Pedra do Reino - do Sérgio Vaz - lá no Blog Colecionador de Pedras e, mais uma vez, constato que ele vai sempre bem no quesito "harmonia" das palavras, abrindo alas para uma visão que seja profunda, mas que não atravesse o ritmo próprio da festa nem menospreze a legítima alegria do carnaval.

Leiam: vocês vão gostar!



Nelson Maca - Blackitude BA

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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A caminho de Palmares!

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Guerra Preta... Estratégia Quilombola!

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"Se você vier me perguntar
por onde andei
no tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi..."

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"Mesmo que a tv não mostre...
Mesmo que o rádio não toque..."


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pelo olhar do Buzo me vi!

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Taco ou Bete-no-ombro?

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Esta tão bonita de tão singela fotografia trouxe-me uma imensa saudade de mim.

Estes dois piazinhos aí fizeram parte da recente paisagem vista da Livraria Suburbano Convicto do Bixiga. Quem postou a foto foi o próprio Alessandro Buzo, o Maquinista da loja no blog buzo10.blogspot.com.

E eu me pegunto:

- O que é que eu tô fazendo aí!?

Esse neguinho de bermudão branc0, camisa azul, cabelo com corte militar, sou eu, tenho quase certeza. Esse pezão descalço também é o meu, eu quase sei. Pena que não dá pra ver quantas pontas de dedo estão faltando, para tirarmos a prova real.

- Buzo, como você conseguiu isso?

Tipo LOST, me fotografar, hoje, trinta anos atrás...

Ele diz que os meninos jogam "taco", mas eu falava "bete-no-ombro" na minha infância. Aliás, "bet'ombro" era o que dizia, afoito com o jogo, todo garoto lá da Avenida Tupiniquins, no bairro do BNH, na cidade de Telêmaco Borba, no Paraná... Lá nas barrancas do rio Tibagi!

Pela lógica, o outro menino da foto, então, se chama Márcio Doranen. Este era o nome do meu inseparável amigo desta idade aí! Filho da Dona Emília e do seu Quito. Irmão do Miguel, da Ana, do Fábio e dos gêmeos Marcelo e Mariana. A cadela perdigueira deles deles se chamava Nina ( e cagava pra caramba). O Márcio foi apelidado Sambonetão ou, simplesmente, Sabonete, pelos próprios irmãos em homegagem ao maluco mais presente e maluco em nossa infância de pés no chão. Esse tal maluco dava altos corridão na gente quando chamávamos ele de sabonetão... E atirava umas pedrona pedra em nós! Quando pegava: CREDO!!

A musa do BNH era a Ângela: loura, olhos azuis e filha do dono do Supermacado Águia...

Logicamente, a intojada nem ligava pros nossos lânguidos olhares... Logicamente, pintava lá um boyzinho bem mais velho e muito mais felizardos que nós... Eu, o Áureo, o Márcio, o Miguel e outros passamos horas preciosas de nossa infância e adolescência pensando em dar uma sova bem dada naquele Don Juan do interior. Pra ser bem sincero...

Essa foto aí é lôca porque essa imagem faz parte de nossa particularidade universal.

Por exemplo, eu, o GOG e o Sérgio Vaz somos da mesma geração. Da mesma idade, eu acho... E, quando falamos de funk-soul, na rua ou nos bailes de nossa história, parece que estávamos no mesmo lugar. Se vacilar, querendo dançar com a mesma menina de todos os sonhos como são os amores de nossa adolescência e mocidade...

A nova musa da minha vida, agora, já em Curitiba, se chamava Lilian. Todos queriam dançar com ela ao som do Lionel Rich (?)... Até que ela dançava... Só que tinha um problemão: a namorada tinha namorada! Pode? Tanto pode que pra nós: NADA!

Buzo, sua foto detonou minhas lembranças, eu confesso!

"Confesso que vivi!!!"

"Que saudade da aurora da minha vida
da minha ifância querida
que os tempos não trazem mais..."

ou

" Que tempo bom
que não volta nunca mais"

Ou ainda:

"Que saudade da professorinha...."

Ou então:

"O dia em que a terra parou..."


Nelson Maca
Exu Trapezeunga tomando um nó do tempo...

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Que o Haiti seja aqui!

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A Abertura
(Aos Jacobinos Negros)

James me contou, me disse, que lá na Ilha de São domingo,
os escravos se tornaram generais e formaram um país!!

Que o Haiti seja aqui!!

James me contou, me disse, que o velho Toussaint,
Tido como estúpido e ignorante,
Comandou o exército negro,
Que venceu espanhóis, franceses e ingleses,
Com estratégias geniais!

Que o Haiti seja aqui!

James me contou, ou eu vi?
Jean Jacques Dessalines descendo dos morros,
Degolando pescoços e levantando bandeiras,
Que falavam de igualdade,
Liberdade e fraternidade.

Que o Haiti seja aqui!

Eu vi Toussaint L´Overture,
Montando a cavalo logo às seis da manhã,
Despachando ordens e movendo brigadas
Com força e justiça e elegância real!

Que o Haiti seja aqui!

Eu ouvi os tambores chamando
Voduns de guerreiros e o som
Das línguas antigas celebrando,
Orações de poder.

Que o Haiti seja aqui!

Se é fato e verdade, a queda de todo império,
(e os Toutons Macottes do futuro, Papas Docs, Babys Docs),
Não tiram o valor do processo,
Eu quero Zumbi renovado,
Búzios e Malês convocados,
Kabula está sendo tocado:

Que o Haiti seja aqui!!

Mandingo ( 12/12/2006)

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Precisa comentar?

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O Fábio Mandingo mandou este salve para mim...
Impossível não compartilhar com vocês.

"Salve professor, mando-te coisa antiga que escrevi sobre a Ilha do Haiti, depois de ler os Jacobinos Negros: A Abertura (Aos Jacobinos Negros)"

O Fábio Mandingo é um amigo meu.

Gosto dele porque não é bajulador, representa o que diz e não come régue de ninguém. Uma grande figura do mundo, com uma importância histórica nos subterrâneos da Bahia Preta onde preparamos o caldo do amanhã.

Escreve bem pra caramba, mas sem marra de poetinha de gabinete, erudito de google, revolucionário de ONG, e nem pinta de canibal de favela. Recentemente, lançou o livro de contos Salvador Negro Rancor que tem muito a ver com a literatura que curto ler e sonho realizar!

Quem acompanha o Gramática da Ira há mais tempo já o viu em fotos e citado... Também já leu conto dele por aqui. Quem não acompanha, pesquise aí...

- Por ora, tá bom, né?

Logo vou publicar uma matéria sobre seu livro aqui; e também articular uma entrevista, para conhecermos mais seus pensamentos e ações afro-encarnadas.

- Concorda, Madingo?


(Nelson Maca - Blackitude.Ba)

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Sarau Pre-Carnaval, Será?

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Sarau Bem Black Batendo de Frente

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Ou como diz o povo... o Z'África... e o Buzo:

"Nóis capota, mais num bréka"

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Sarau Bem Black na prévia do Carnaval


Recital poético celebra a consciência negra na folia e aquece as turbinas para a temporada 2010 no Sankofa African Bar


Depois de uma pausa de fim de ano, o Sarau Bem Black – Palavras Faladas da Blackitude realiza uma edição especial de Carnaval nesta quarta-feira (10/02), no Sankofa African Bar (Pelourinho). E volta com o mesmo espírito, abrindo espaço para a poesia divergente, feita e consumida fora dos ambientes acadêmico e dos saraus tradicionais, e flertando com outras vertentes da arte negra como a música, o teatro e o cinema.

Realizado pelo Coletivo Blackitude – Vozes Negras da Bahia, o Sarau Bem Black é apresentado pelo poeta e professor de literatura Nelson Maca, em dueto com a cantora Negra Íris, do grupo RBF – Rapaziada da Baixa Fria. Antes, durante e após as apresentações, o DJ residente Joe comanda o diálogo musical com artistas da black music nacional e internacional. Nesta edição, o homenageado é o reggaeman baiano Edson Gomes. Após o encerramento, Joe tocará um repertório dançante, passando a bola para o DJ Sankofa, ganense responsável pelo espaço.

A programação desta semana especial começa às 19h, com muita poesia, colagens musicais e participações dos rappers Lázaro Erê e Rone Dundun, da banda Opanijé, que sempre abrem o recital com uma saudação a Exu, seguido do momento denominado Erês, com as poetas mirins Luiza Gata e Lucinha Black Power. Os poetas Nelson Maca e Negra Iris, com declamações e intervenções cantadas, estabelecem a espinha dorsal da noite, sempre intercalada com participação espontânea dos poetas e entusiastas da platéia. Em 2009, esse foi um dos momentos mais aguardados, revelando boas surpresas.

Inspirado do Sarau da Cooperifa – que há oito anos reúne centenas de pessoas, todas as quartas, na periferia paulistana – o Sarau Bem Black já contou com participações especiais como o rapper GOG (Brasília), os poetas Akins kintê (SP), José Carlos Limeira, Jocélia Fonseca, Landê Onawlê, Hamilton Borges, Iara Nascimento e Giovane Sobrevivente, além dos compositores de bloco afro Caj Carlão e Juraci Tavares. Depois do carnaval, o Sarau volta à sua programação regular no Sankofa.


SERVIÇO

Evento: Sarau Bem Black – Palavras Faladas da Blackitude
Quando: quarta-feira (10/02) / às 19h
Onde: Sankofa African Bar (Rua Frei Vicente, 7, Pelourinho)
Ingressos: Grátis

PROGRAMAÇÂO DO DIA 10/02

- Poesia: Nelson Maca e Negra Íris. Participação: Lucinha Black Power, Luiza Gata, Lázaro Erê e Rone Dundun + microfones abertos aos poetas da platéia
- Participação: Opanijé (rap)- DJ Joe toca Edson Gomes durante o sarau; depois black music - DJ Sankofa toca música africana.

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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quase na contramão!

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Sarau Bem Black

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Vai rolar na quarta: com carnaval, Beyonce e o escambau!


Contra-instigados pela euforia geral da cidade, decidimos realizar o Sarau Bem Black na próxima quarta-feira, dia 10 de fevereiro. Pensávamos em retomá-lo depois do carnaval, mas a euforia momesca - mesmo de nossa parte - por aqui é tanta que resolvemos parar tudo e recitar poesias.

Será o primeiro Sarau Bem Black do ano e acontecerá de fato uma noite antes do carnaval.

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Como diz Dona Francisa, a senhora minha mãe, sempre tem que ter alguém do contra!!!

Mas quem tem que se preocupar mesmo, até mais que a organização do carnaval (que "só" começa oficalmente na quinta) é a produção do show da Ivete Sangalo e da Beyoncé.

Porque o Sankofa African Bar vai ficar pequeno na quarta.

"- Né, não, Sérgio Vaz?
Não parece teu esse parágrafo aí em cima... rsrsrs"

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Evento: Sarau Bem Black

Quando? Quarta-feira, dia 10 de fevereiro
Onde? Sanfola African Bar - no Pelourinho
Que horas? a partir das 19 horas

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Um porém:

- Só falta combinar com o Dj Sankofa, né Maca!? (rsrsrs)

Caraio, é mesmo!
Vou ali, pra confirmar, e já volto, tá!

E, quando voltar, trago aquele release básico, certo?


Nelson Maca - Blackitude.Ba

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O Sarau Bem Black se inspira na

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Mais um golaço de Akins Kintê!

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Coração no bico da chuteira!
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O poeta frenético e cinegrafista varzeano Akin Kintê, parceiro de São Paulo - que já incendiou o nosso Sarau Bem Black - lança nesta segunda-feira seu novo filme:

Várzea: a bola rolada na beira do coração

O lançamento é lá no "Sudeste", mas eu fico daqui da soterópolis, ao lado do meu irmão Silvio Roberto Oliveira, sempre torcendo pelos heróis da várzeas nossas de cada dia.

E somos mais que dois - eu sei - na geral deste brasilzão que acredita no talento desse menino preto dreadlockeano.

Torço para que seja positiva a recepção das platéias que virão. E também na expectativa de, logo, exibir Várzea - a bola rolada na beira do coração na telas de algodão branco dos campos de terra da Bahia Preta.

Para saber bem mais sobre o trampo:

www.varzeaojogodavida.com.br


Na Fé e no Respeito por quem é e faz!
Sempre...



Nelson Maca
Exu cracão dos Arranca Toco!

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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Atendendo a dezenas de pedidos

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Anote aí, mon:



"Independência Black-Bahia"

Baile da BlacKitude

02 de julho de 2010


Venha escrever você mesmo essa
históra!

"BlacKitude é diversão Consciente"



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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

I SLAM Black-Bahia




BlacKitude
apresenta


I Slam Black-Bahia

Festival "local" de poesia falada
do Sarau Bem Black


I semestre de 2010

Prepare seus poemas
e "performances"!

Em breve:
datas, regulamento, informações
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Do Carnaval - 1

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Edson Gomes: um Rei ausente!

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No dvd de Edson Gomes, o cantor Sérgio Cassiano (Adão Negro) apresenta o reggaeman como “nosso rei”.

Um rei sem reinado numa cidade que insiste em menosprezar sua realeza.

Reflito sobre isso a cada carnaval soteropolitano - assíduo que sou - ao ouvir, me empolgar e observar a vibração geral das ruas quando (raramente) se apresentam regueiros como Geraldo Cristal e Dionorina. Ou Lazzo. Momentos loucos e verdadeiros.

O povo baiano sente o reggae.

Então refaço a pergunta que tenho feito a mim mesmo:

- Por que há sempre falta de espaço e apoios para os regueiros da cidade?

Como seria verde nosso vale - ao menos, no centro - se nos dessem a chance de ouvir Alumínio, Ciro Trindade, Geraldo Cristal, Rasbuta...

No meu currículo das ruas da folia, tive o luxo de presenciar in loco a explosão de Faraó: divindade do Egito e Eu sou negão. Desde então, ouço especialistas e palpiteiros afirmarem que o reggae já se tornou um elemento matriz da música baiana, seja a axé music, o samba-reggae ou “ele mesmo”. Porém, pouco espaço e respeito tem sido dedicado ao gênero em si.

Dois momentos que me impressionaram bastante nestes tantos anos no Carnaval: a presença efêmera do Bloco Resistência Ativa, capitaneado por Edson Gomes, e o mega-sucesso de Nayambing blues (Trem do amor) de Sine Calmon.

Cheguei a pensar que uma injustiça histórica seria paga com juros e não mais com juras. Ledo engano. Foi bom, mas ficou datado e ainda é pouco para uma cidade que assimilou o ritmo jamaicano e seus desdobramentos genéricos, num complexo cultural que extrapola a simples linguagem musical. A comunidade rastafari, por exemplo, forma um contingente expressivo que participa ativamente da festa.

Em 2007, o Ilê Aiyê entendeu o óbvio e convidou Edson Gomes para o show de destaque da Noite da Beleza Negra, evento que inaugurou oficialmente o Museu du Ritmo. Em sua rápida participação, Carlinhos Brown disse que ninguém canta com tanta espontaneidade as ruas e o povo da Bahia como Edson Gomes.

Por que, então, os patrocinadores e organizadores do Carnaval não dão tratamento digno a ele e aos artistas do reggae de resistência?

O povo dá, é óbvio! Mas eles não permitem, no carnaval, a face revoltada de nossa musicalidade.

- Revoltada?

- Against What? Perguntaria Bob Marley!

(Nelson Maca)

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Sistema do Vampiro


Esse sistema é um vampiro
Ah ! O sistema é um vampiro

Esse sistema é um vampiro
Todo povo ficou aflito
Esse sistema é um vampiro
Ah ! O sistema é um vampiro

Eh! vive sugando todo povo
Vem cá, meu Deus, desça de novo
Ouça meu grito de socorro
Pai, escuta a voz desse teu povo

Que clama

Um centenário oh falsa libertação
Cativeiro mental

Estamos metidos nos buracos
Estamos jogados nas favelas da vida

Pendurados lá no morro
Velho pai, só nos resta teu socorro

Ah, sim!

Estamos largados nas calçadas
Nós não temos nem morada
Não temos nada!

Esse sistema é um vampiro
Ah ! O sistema é um vampiro
Esse sistema é um vampiro
Todo povo ficou aflito
Esse sistema é um vampiro

Estamos metidos nos buracos
Estamos jogados nas favelas da vida

Pendurados lá no morro
Velho pai, só nos resta teu socorro

Ah, sim!

Estamos largados nas calçadas
Nós não temos nem moradaNão temos nada!

(Edson Gomes)

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nelson Maca e a Blackitude

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"Quem sou eu?

Meu nome é Nelson Gonçalves. Nasci em 1965 na pequena cidade de Telêmaco Borba no Paraná, no seio de uma família operária com pai, mãe e mais 11 irmãos vivos entre 1 e 22 anos de idade. Tive uma infância humilde, porém muito sadia, estudei regularmente em escolas públicas desde meus 7 anos de idade. Dos 8 aos 14, vendi salgadinhos, circulando com minha cesta pelos quatro cantos da cidade.

Fui também mais uma promessa irrealizada do futebol.

Tive pai e mãe vivos até minha adolescência; não passei fome (não que eu me lembre); não mataram ninguém lá em casa; ninguém lá de casa matou ninguém; não havia cadáveres na minha rua...

Enfim, para os problemas que eu tinha de fato, eu ainda não tinha olhos para ver... mas que eles existiam, existiam! Só que tentavam me destruir por fora, sem dor; e por dentro era uma dor indiscritível e icomunicável. Ah, como sofri, agora eu sei! Mas não conseguiram me matar. Fiquei duro na queda. Até hoje eles tentam.

Não posso relaxar... muito menos vacilar!

Depois disso, mudei-me para Curitiba. Estudei Mecânica na Escola Técnica Federal do Paraná. Para vencer essa barreira, ou seja, para concluir o curso, somente mesmo com a graça de Exu. Esta formatura foi a primeira contradição intojada de minha vida fadada a dar em nada. Nunca senti e presenciei tanto sofrimento abstrato como naquela escola. Caramba, lá tive certeza que a escola tadicional é toda feita contra nós, o povo. Ela nos humilha e mata lentamente e sem piedade.

Quando meu pai morreu, no interior, eu já estava na capital e tinha 15 anos. É louco, mas o que mais me lembro dele é que passou mal no trabalho. Meu pai foi operário até na hora da morte. O sistema é assim: você só se libera dele se morrer (ou matar).

Ainda na minha adolescência, entortei-me irreversivelmente por duas encruzilhadas que definiram todo o meu futuro-agora: as raspas e restos evasivas da contracultura e a escuridão esclarecedora do movimento negro. A arte e literatura divergentes e engajadas deram-me a fundação e as colunas de suporte de minha eterna rebeldia calma.

Vem daí meus primeiros tatos e toques com o Hip Hop e com a cultura Black - através da televisão, dos bailes, do cinema e, finalmente, das quebradas do mundaréu.

Nesta época, comecei a escrever literatura e me engajei em movimentos sociais. Acho que também nesse momento minha mãe e família já se acostumavam com meus atalhos perigosos. Mais tarde isso tudo convergiu em mim nas expressões e ações da Negritude. Fiquei sério e determinado; rompi com o desbunde da contracultura ou, pelo menos, o rebaixei na minha escala interior.

No ano de 1988, participei ativamente das manifestações do centenário da abolição. A data marca meu ingresso no curso de Letras da UFPR, outra contradição do goleirão que não vingou no futebol. À época eu estava filiado ao GRUCON – Grupo de União e Consciência Negra, único grupo do movimento negro mais "clássico" que integrei até hoje. Já tinha contato imediato com a Bahia, minha real renascença.
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Mudei para Salvador em 1989.

Simbolicamente, esse foi meu retorno à minha África possível.

Gostaria muito de não me mudar mais daqui. Não sei se assim será, mas amo de fato cada palmo da Bahia Preta que aprendi a conhecer por trás das faixadas turísticas e das várias categorias de imagens estereotipadas que vendem a cidade como a boa terra da alegria.

Também aqui, internamente, temos que lutar, diaria e sitematicamente, contra a miséria, a ignorância, a violência e o racismo.

Na UFBA, completei minha licenciatura e bacharelado em Letras e me especializei em Literatura (Pode acreditar!). Na mesma instituição, tenho mestrado inconcluso (falou a dissertação) e comecei a lecionar literatura brasileira bo ensino superior. Em 1996 tornei-me professor de literatura brasileira na UCSal onde permaneço até hoje.

Na Bahia, meu contato apaixonado - de antes - com a Cultura Hip Hop ganhou extensão e profundidade; sempre fiel à velha escola - política e esteticamente falando. Comecei com ações independentes, depois integrei a Posse Ori.

Mais tarde articulei o coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, em pé até hoje.

A Blackitude é uma experiência que se estrutura a partir dos quatro elementos expressivos do Hip Hop, porém amplia sua abrangência ao estabelecer um diálogo direto e descentrado com a literatura e com o audiovisual. Auto-identifica-se como uma face renovada do Movimento Negro.

A Blackitude busca a africanização de suas linguagens.

Além de eventos estéticos, o coletivo dialoga com outros movimentos sócio-culturais, tendo interesse e experiência na realização de atividades de formação para a juventude. Dessa orientação surgem nossas palestras, seminários workshops, oficinas, shows, bailes, saraus, exposições, publicações, etc. Meus desvios tornam-se, cada vez mais, auto-conscientes e fundamentados.

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O que quer ser a Blackitude?


Normalmente, interessa-me relatar, principalmente, as razões e imagens da Blackitude: Vozes Negras da Bahia como uma experiência compartilhada. Em Salvador, ouço sempre a expressão Movimento Blackitude, para se referir a nós ou aos nossos eventos. Gosto desta referência porque, desde a idealização da Blackitude, há dez anos, sempre pensei numa articulação em rede. Essa imagem é a que mais me identifica.

Sinto orgulho de ouvir a palavra movimento aplicada à Blackitude.

A minha narrativa pessoal, intercalada às narrativas de vida dos integrantes e parceiros do coletivo, serve como moldura ao contexto social das nossas produções, porém não são o foco principal, pois interessa mesmo o processo de articulação do grupo e o senso de coletividade que o sustenta.

A literatura em sua oralidade tem se tornado forte como linha de atuação do grupo, mas não pretendemos que seja a única. Gostamos de atuar com os quatro elementos do hip hop (break, dj, graffiti e rap), o audiovisual e os bailes black - sempre na mesma vibe...

A Vibração da Blackitude é Positiva!


- E tu, quem és?"


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A Blackitude vai virar livro... pode acreditar!

Essa é uma das novidades do ano que se inicia... logo dou os detalhes! Recebi um convite de uma editora do sudeste (pra variar, né, Bahia?), para narrar minha expriência de vida e a do Coletivo Blackitude. Estamos em articulação, mas a conversa já está bem adiantada.

Outra editora me convidou em 2008, mas não era o momento nem o espaço.

Agora, já estou na ativa...

Se der qualquer revertério e não virar de fato, terminarei o livro assim mesmo. Tenho uma história pra contar, eu sei. Em último caso, entra na gaveta, ampliando minhas obras incompletas. O que tiver que ser, será!

Time will tell!!

Nelson Maca
Biógrafo de si mesmo e pai zeloso de suas crias!
Exu das Palavras Cruzadas!

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A Poesia é Essencial... A Poesia!!!!

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