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"Quem sou eu?
Meu nome é Nelson Gonçalves. Nasci em 1965 na pequena cidade de Telêmaco Borba no Paraná, no seio de uma família operária com pai, mãe e mais 11 irmãos vivos entre 1 e 22 anos de idade. Tive uma infância humilde, porém muito sadia, estudei regularmente em escolas públicas desde meus 7 anos de idade. Dos 8 aos 14, vendi salgadinhos, circulando com minha cesta pelos quatro cantos da cidade.
Fui também mais uma promessa irrealizada do futebol.
Tive pai e mãe vivos até minha adolescência; não passei fome (não que eu me lembre); não mataram ninguém lá em casa; ninguém lá de casa matou ninguém; não havia cadáveres na minha rua...
Enfim, para os problemas que eu tinha de fato, eu ainda não tinha olhos para ver... mas que eles existiam, existiam! Só que tentavam me destruir por fora, sem dor; e por dentro era uma dor indiscritível e icomunicável. Ah, como sofri, agora eu sei! Mas não conseguiram me matar. Fiquei duro na queda. Até hoje eles tentam.
Não posso relaxar... muito menos vacilar!
Depois disso, mudei-me para Curitiba. Estudei Mecânica na Escola Técnica Federal do Paraná. Para vencer essa barreira, ou seja, para concluir o curso, somente mesmo com a graça de Exu. Esta formatura foi a primeira contradição intojada de minha vida fadada a dar em nada. Nunca senti e presenciei tanto sofrimento abstrato como naquela escola. Caramba, lá tive certeza que a escola tadicional é toda feita contra nós, o povo. Ela nos humilha e mata lentamente e sem piedade.
Quando meu pai morreu, no interior, eu já estava na capital e tinha 15 anos. É louco, mas o que mais me lembro dele é que passou mal no trabalho. Meu pai foi operário até na hora da morte. O sistema é assim: você só se libera dele se morrer (ou matar).
Ainda na minha adolescência, entortei-me irreversivelmente por duas encruzilhadas que definiram todo o meu futuro-agora: as raspas e restos evasivas da contracultura e a escuridão esclarecedora do movimento negro. A arte e literatura divergentes e engajadas deram-me a fundação e as colunas de suporte de minha eterna rebeldia calma.
Vem daí meus primeiros tatos e toques com o Hip Hop e com a cultura Black - através da televisão, dos bailes, do cinema e, finalmente, das quebradas do mundaréu.
Nesta época, comecei a escrever literatura e me engajei em movimentos sociais. Acho que também nesse momento minha mãe e família já se acostumavam com meus atalhos perigosos. Mais tarde isso tudo convergiu em mim nas expressões e ações da Negritude. Fiquei sério e determinado; rompi com o desbunde da contracultura ou, pelo menos, o rebaixei na minha escala interior.
No ano de 1988, participei ativamente das manifestações do centenário da abolição. A data marca meu ingresso no curso de Letras da UFPR, outra contradição do goleirão que não vingou no futebol. À época eu estava filiado ao GRUCON – Grupo de União e Consciência Negra, único grupo do movimento negro mais "clássico" que integrei até hoje. Já tinha contato imediato com a Bahia, minha real renascença.
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Mudei para Salvador em 1989.
Simbolicamente, esse foi meu retorno à minha África possível.
Gostaria muito de não me mudar mais daqui. Não sei se assim será, mas amo de fato cada palmo da Bahia Preta que aprendi a conhecer por trás das faixadas turísticas e das várias categorias de imagens estereotipadas que vendem a cidade como a boa terra da alegria.
Também aqui, internamente, temos que lutar, diaria e sitematicamente, contra a miséria, a ignorância, a violência e o racismo.
Na UFBA, completei minha licenciatura e bacharelado em Letras e me especializei em Literatura (Pode acreditar!). Na mesma instituição, tenho mestrado inconcluso (falou a dissertação) e comecei a lecionar literatura brasileira bo ensino superior. Em 1996 tornei-me professor de literatura brasileira na UCSal onde permaneço até hoje.
Na Bahia, meu contato apaixonado - de antes - com a Cultura Hip Hop ganhou extensão e profundidade; sempre fiel à velha escola - política e esteticamente falando. Comecei com ações independentes, depois integrei a Posse Ori.
Mais tarde articulei o coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, em pé até hoje.
A Blackitude é uma experiência que se estrutura a partir dos quatro elementos expressivos do Hip Hop, porém amplia sua abrangência ao estabelecer um diálogo direto e descentrado com a literatura e com o audiovisual. Auto-identifica-se como uma face renovada do Movimento Negro.
A Blackitude busca a africanização de suas linguagens.
Além de eventos estéticos, o coletivo dialoga com outros movimentos sócio-culturais, tendo interesse e experiência na realização de atividades de formação para a juventude. Dessa orientação surgem nossas palestras, seminários workshops, oficinas, shows, bailes, saraus, exposições, publicações, etc. Meus desvios tornam-se, cada vez mais, auto-conscientes e fundamentados.
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O que quer ser a Blackitude?
Normalmente, interessa-me relatar, principalmente, as razões e imagens da Blackitude: Vozes Negras da Bahia como uma experiência compartilhada. Em Salvador, ouço sempre a expressão Movimento Blackitude, para se referir a nós ou aos nossos eventos. Gosto desta referência porque, desde a idealização da Blackitude, há dez anos, sempre pensei numa articulação em rede. Essa imagem é a que mais me identifica.
Sinto orgulho de ouvir a palavra movimento aplicada à Blackitude.
A minha narrativa pessoal, intercalada às narrativas de vida dos integrantes e parceiros do coletivo, serve como moldura ao contexto social das nossas produções, porém não são o foco principal, pois interessa mesmo o processo de articulação do grupo e o senso de coletividade que o sustenta.
A literatura em sua oralidade tem se tornado forte como linha de atuação do grupo, mas não pretendemos que seja a única. Gostamos de atuar com os quatro elementos do hip hop (break, dj, graffiti e rap), o audiovisual e os bailes black - sempre na mesma vibe...
A Vibração da Blackitude é Positiva!
- E tu, quem és?"
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A Blackitude vai virar livro... pode acreditar!
Essa é uma das novidades do ano que se inicia... logo dou os detalhes! Recebi um convite de uma editora do sudeste (pra variar, né, Bahia?), para narrar minha expriência de vida e a do Coletivo Blackitude. Estamos em articulação, mas a conversa já está bem adiantada.
Outra editora me convidou em 2008, mas não era o momento nem o espaço.
Agora, já estou na ativa...
Se der qualquer revertério e não virar de fato, terminarei o livro assim mesmo. Tenho uma história pra contar, eu sei. Em último caso, entra na gaveta, ampliando minhas obras incompletas. O que tiver que ser, será!
Time will tell!!
Nelson Maca
Exu das Palavras Cruzadas!
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4 comentários:
MACA,
sumemo guerreiro, tua voz é a nossa voz!
Que as ruas te abençoem.
sergio vaz
vira-lata da literatura
É nóis que tá !
só sucesso Maca ! feliz por vc ...
abração !
Jéssica Balbino
Sérgio e Jéssica,
tá valendo!
Essa literatura que participamos tem me dado respostas rápidas e parcerias objetivas. Tipo bate e volta. Tamo junto!
Nelson Maca
Salve Maca!!
Sua caminha e seu profissionalismo sempre nos inspira.
Sua trajetória e a do Blakitude daria um livro, e porque não faze-lo, não é mesmo?
Paulo Brazil/STN-Amante do Vinil!!
Apreciador da Cultura Hip Hop!!!
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