domingo, 11 de maio de 2008

África mãe de quem?

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Rugido
(Do livro Pan-África)
Ao mestre, Carlos Moore Wedderburn

Não há Renascimento em nossa Terra
Há a inevitável inserção do corpo e da alma
No confronto à hecatombe anunciada por você
Ponte visível entre as margens invisíveis
O método nefasto do grande mito continental

Funda-se o alçamento do castelo de nossas mais novas ilusões
Revestimento do contrapiso da catástrofe já sedimentada
Nova face da velha história que sempre ajudamos a construir

Você promove o desmanche do nosso edifício colonial
Passo a passo, peça a peça, pessoa a pessoa
Só mesmo você desnuda diante de meus olhos incrédulos esta nova miragem
O seguimento da farsa que me vi envolvido
Os descaminhos dos que ficam
Os desvios na dispersão
O frio sangramento dos filhos fiéis
A última queda da Mãe

Rugido de rara clareza e incrível tensão
Anúncio bélico
A descoberta da face sombria do Movimento sem condução
A ira arrancada da gramática que rompe
Voz dissidente que estilhaça a máscara revolucionária da nova opressão
Dissolve seu simbolismo sagaz
A ardilosa apropriação, o furto, a diluição hipócrita
A lama oportunista
A mancha que se estende
A nódoa sobre os mais salutares tecidos afro-revolucionários

Sua timbragem de rara exceção é o alicerce que não se elastece
O vigor que não se dobra
O pacto profundo da consciência Pan-Africana

Os pilares paradigmáticos de Kwame Nkrumah
Metonímia que bem representa a fidelidade de sua abnegação
A gratidão com que você coloca o peito aberto ante a ilusão que no guia
Ante os predadores de fora e de dentro da nossa gente preta

Tendo limpado minha consciência perdida de ignorar tantas cruezas
A têmpora dos que não têm acesso à restrita casa grande das informações
Não mais imito o trânsito inconseqüente nas esferas do poder estranho a nós

Obrigado por coroar minha cabeça finalmente
Com a semente que se faz brotar do entendimento definitivo
Da nascença das razões reais do continente
Da nova estampagem de meu semblante agora coberto de cumplicidade

Quando você se inscreve de corpo e alma na luta
Quando você escreve seu sempre ponto seguimento
Na sequência visceral das indagações
Na proposição do comportamento do homem íntegro
Na indubitável concretude do relato da história
Na experiência imediata do abandono da dor da miséria da morte
Na dedução catastrófica para o passado e o futuro
Na blindagem ao que se é dito quando se está sentindo
Não na única versão dos fatos
Senão no fundamento da sinceridade

Na coragem que nos interessa
Na verdade que pode nos apontar caminhos

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4 comentários:

Luciana Matias disse...

O nome do Blog foi inspirado neste poema?
Luciana

Anônimo disse...

Poderia, Luciana. Mas,realmente, não foi. Foi inspirado no livro que devo lançar em breve. É o título do livro e também de um poema dele! Quiçá em BH também! Rugido foi inspirado nas minhas conversas com meu mestre Carlos moore! Nelson Maca

Luciana Matias disse...

vou ter q voltar aeste poema em outra oportunidade,me emocionou,falou da minha história intriscicamente falando...minha e de milhões
Voltarei no poema pq preciso falar oq me causou,não agora.
Cresceu o baobá dento de mim,é preciso descansar á sua sombra.
Mas de antemão,maravilhoso...
Obrigada sempre.
Luciana

Nelson Maca disse...

Luciana, como tem sido bem vinda a tua presença e inspiradores os teus comentários nesta minha gramática irada com causa e intencionalidade. Obrigado pela moral de me ler na seriedade da luta e com a atenção de uma irmã que sabe onde fica a casa dos nagôs confederados! Nelson Maca - Blackitude.Ba