quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Farsa dos Falsos Irmãos

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Literatura não é documento?

Pela "milésima" vez, fui convidado a colaborar num importante projeto dos outros. Desta vez quem me procurou foi uma renomada antropóloga, lá do sul maravilha. Pela milésima vez, um desconhecido vem querer abusar de minha militância ao mesmo tempo que tenta invisibilizar meu profissionalismo.

Segue abaixo uma viagem “literária” inspirada quase 100% nessas histórias que todos nós, ativistas, conhecemos bem.

Aproveito para avisar os playba, os boy, as patrícias e os maurícios, e também os oportunistas, os impostores, os vendidos, os traidores do movimento, para não me convidarem mais para trabalhos voluntários onde nós somos voluntários e eles investidores, sempre lucrando algum em cima de nossa boa fé.

Trabalhos voluntários já tenho aos montes na família, e espontâneos.

Se querem conquistar seus diplomas, desenvolver suas pesquisas, escrever seus projetos, fundamentar suas novas teorias sobre a vida concreta dos pretos nos guetos que o brasil nos reservou, etc e tal, ou, simplesmente, aparecer de maneira que lhes renda algum, fiquem a vontade, mas não me queiram usar como escada, pois vão cair lá de cima e quebrar a cara.
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Tô ligeiro, barão!

Sei o valor de minha presença, palavras e luta em razão, coração e suor. Mas também sei dos reais, dollars e euros que mereço quando o asunto é trabalho, profissionalismo. Sei onde posso contribuir como elo da corrente, mas sei também onde presto profissionalmente.

Ah, e sou como qualquer homem, sinto sede, frio, fome...

Sei bem quem são os meus, não porque seja especialista, estudioso ou ongueiro, mas porque sempre que olho para o lado, na alegria ou na tristeza, no riso ou no ciso, no alívio ou na dor, meus parceiros e parceiras de fé estão sempre ali, presentes, sentinelas, segurando minha mão enquanto na passagem do meio...
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Não se meta com quem está quieto!

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A Farsa dos Falsos Parceiros
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- Olá Sr. Cadê o $?, como vai ?
Primeiro, muito obrigada por sua atenção... é sempre importante contar com a colaboração das pessoas para fazer um trabalho que se acredita.
Mandei anexo como solicitado um release do lançamento do projeto no ano de 2007, para vc ter uma idéia mais concreta e descritiva sobre o projeto e os envolvidos. Mando também um power point com a proposta de 2008, que, como lhe falei, atenderemos as periferias dos grandes centros brasileiros.
O site para mais informações é: www.fdp.com.o.br; lá também tem link para o blog e fotos das viagens.
Com relação à sua participação nesta história toda, é o seguinte:
Como vc pode ver no site, fazemos semanalmente um programa/documentário de 2 hora sobre os lugares que visitamos. Mostrar a realidade da criança e do adolescente nestes espaços é nosso objetivo como tv.
Fazer isso dando voz às comunidades visitadas e mostrando seu ponto de vista é nossa missão e desafio
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Por isso meu interesse em vc, uma pessoa articulada com os movimentos urbanos de grande peso e que ficam a margem de uma mídia que mostra o que quer.
Caminhos sérios, que questionem a sociedade e o espaço que vivem e efetivamente se
articulam dentro da comunidade é o que gostaria que me ajudasse a achar. Lideranças comunitárias das Comunidades Carentes de Salvador, movimentos urbanos de peso e outras coisas que te parece questionar a realidade vivida são temas importantes da gente mostrar.
Enfim, não vou me alongar. Gostaria que desse uma olhada em tudo e o quanto antes me mande um e-mail para saber se posso contar com sua ajuda. E por favor sinta-se a vontade quanto a isso.
Agradeço mais uma vez sua atenção e espero que possamos bater longos papos sobre suas inquietações, e que eu possa lhe ajudar em propagá-las como mídia.

Grande abraço
X9 - Antropóloga da Rede KKK

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- Cara Antropóloga X9 da KKK,
recebi o material, e dei uma primeira lida cuidadosa.
Confesso que, realmente, não acompanho o programa FDP. Lembro vagamente do programa, mas não me lembro de tê-lo assistido com atenção.

Confesso que gostei do perfil, equipe, histórico e registros do programa. Vi fotos, etc. Admiro, de longa data, pessoas que dele participam: principalmente X e o Y. Acompanho eles desde muito criança; mais especialmente na década de 80.

Não consegui abrir em minha máquina o power point com a proposta de 2008, que me parece mais específico no que me toca. Amanhã pedirei socorro ao vizinho!

Agradeço sinceramente as palavras positivas e respeito dedicado a mim em seu e-mail. Realmente, estou inserido em algumas ações de cidadania em Salvador, principalmente relativos à comunidade negra e carente. Hip hop e Literatura são minhas principais frentes. Porém minha militância não ultrapassa a média. Também tenho sérias dúvidas até que ponto a grande mídia pode ser um canal positivo para nossas ações no contexto Real.

Não tenho presença orgânica marcante em comunidades específicas, minha atuação na cidade se dá mais no centro, tendo como estratégia articular uma rede entre comunidades distintas com interesses sócio-culturais semelhantes. Agora, como você bem disse, posso, sim, intermediar contatos com alguns dos agentes oriundos do movimento sócio-educativo daqueles bairros.

No entanto, cara X9, atender o objetivo que você apontou com a dedicação que o projeto requer não é uma tarefa fácil. Dado a proximidade que você mencionou da execução (final de maio), precisaria me dedicar quase exclusivamente a essa consultoria (?) – assessoria (?) – produção (?), que demanda articulação, criatividade, tempo e custos.

Até onde entendi, seu convite ainda não aponta contrapartida a não ser de mídia aos projetos que participo. Sócio-politicamente, interessa-me construir uma ação educativa local em parceria com esse programa tão bem encaminhado. Gostaria de saber detalhes sobre que bases vocês propõem que se estabeleça nosso contato-contrato em termos profissionais - antes do próximo passo. Pesa bastante o fato de o programa ser veiculado por um canal fechado e não acessível às comunidades de baixa renda. Eu mesmo não tenho acesso por questões financeiras. Gostaria também de saber se há e quem são os outros contatos locais da Rede KKK.

Aguardo esclarecimento-proposta, declarando meu interesse em estabelecer parceria com o programa FDP desde que as bases, além da urgência política e social que demandam, se estabeleçam também em termos trabalhistas.

Com Respeito,
Cadê o $?

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Prezado Sr. Cadê o $?
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Agradeço sua atenção e rapidez no retorno de minha mensagem.
Agradeço também os elogios à equipe e a proposta do projeto, temos perseguido uma proposta de credibilidade e sustentabilidade ao longo destes anos de realização juntamente com a Fundação KH, a ONG PQP e o Instituto WC e demais parceiros envolvidos.
Com relação a contrapartida comentada, nosso processo de trabalho se dá com a ajuda voluntária da comunidade que visitamos, inclusive porque damos voz a ela mostrando seu dia a dia através de seus olhos. E esta é a contrapartida, o retorno da imagem da comunidade como ela quer ser mostrada, esta é nossa missão.
Com relação a tv ser fechada, realmente a maioria das pessoas que visitamos nestes anos não tem acesso ao canal, mas fazemos questão que um dvd do programa chegue a todos os envolvidos no processo. Mostrar esta realidade numa tv fechada, de acesso a uma classe de maior poder aquisitivo é para nós um mérito, uma necessidade, um desafio.
Realmente meu contato com vc foi para que pudesse me falar sobre uma comunidade que ainda não conheço. Nesta fase o desafio é procurar pessoas com uma cabeça aberta para me indicar nomes, grupos e ações que são desenvolvidas no local.
De qualquer maneira agradeço muito sua atenção e caso ache interessante indicar, e dar oportunidade, para alguém da periferia mostrar o trabalho desenvolvido, produção cultural e projetos comunitários, fico a disposição para entrar em contato com sua indicação.

Grata, abraço
X9
Antropóloga do Programa FDP da Rede KKK

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Cara Antropóloga X9,
desejo todo o sucesso para vocês nesse novo empreendimento, mas, efetivamente, penso que minha parceria não pode passar ao largo de um contrato profissional, pois a televisão fechada também visa lucro e acredito que a equipe que nela trabalha seja remunerada para tanto!

Com Respeito,
Cadê o $?
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Ah, e antes que eu me esqueça, doutora, vá tomate cru!

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RESISTÊNCIA
é uma árvore robusta, com galhos íntegros e raízes profundas!
Definitivamente,
Só ela nos Salva!

Nelson Maca - Confederação do Nagôs

5 comentários:

Blequimobiu disse...

nego quer dim dim,
pra usar blin blin,
pra fazer tim tim,
com quem é por mim!


isto mesmo, sem real num real na programação semanal... quinzenal... mensal... do canal do lobo mau!

Anônimo disse...

Chamô na rasteira e quando levantou ainda levo um martelo.

Fico pequeno pra Antropologa


Eu ritmei na palma, de sorriso aberto

Michel

Eduardo Luedy disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Eduardo Luedy disse...

muito bom!
"nossa missão" é capitalizar em cima do trabalho voluntário dos outros! hahahaha
valeu. maca.
ps. adorei ver vc citar trechos daquele meu post. assim vou ficar famoso :-)

r.c. disse...

salve, maca.

vi o texto antes, só hoje pude lê-lo com atenção.
também começo a perceber quem é que soma na corrente e quem chega só no sanguessuga. estou aprendendo a dizer não para alguns projetos picaretas também.
resistência e vigilância, sempre.
abraço,

rodrigo