quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Você já leu Sérgio Vaz?

Primeira hipotese: Não.
- Não!?

É parceiro, ninguém é perfeito, né? Mas sabedoria é saber correr atrás do preju, né não? O Sérgio Vaz é o principal culpado por eu me revigorar poeticamente. Ele é fonte de inspiração. Quando me deu moral, reacendeu em mim o desejo de compatilhar meus delitos literários. E não é que pode dar samba. Time will tell!

Mas não estou aqui para falar de mim. Obreiro que sou, estou aqui para a minha boa ação de hoje, nêgo. Para te apresentar a bela poética bélica de Sérgio Vaz.

Segunda hipótese: sim.
- Sim!?

Se sim, sim, você já sabe, então, não?



Salve a Voz de Sérgio Vaz


"Quando o G.O.G. me apresentou ao Sérgio Vaz, não foi apresentação, foi formação de guerrilha: nós três e a rapa toda que faz e que curte a Blackitude, celebrando a vida na Bahia preta. Testemunhei, corpo presente, a força maior de sua arte: o pensamento a mil, os pés no chão e um sorriso do tamanho dos lábios! Palavras retas. Um poeta nosso. Tal a pessoa, sua poesia está despojada de ornamentos inúteis. De casca de erudição. Estética e humanamente, dilui o limite entre a realidade e sua representação, a vida e o verbo, a verdade e a beleza. No campo de batalha cotidiano, um poeta que nos comenta - que nos interessa. Cooperifados pela nossa luta e nosso sonho, enfim, anulamos os atravessadores. Sérgio Vaz é poeta, e, como poeta, sabe ser simples. Como simples, sabe tecer o coletivo. Como coletivo, sabe ser nós. E, como nós, faz-nos grandes ao seu lado. Se você, leitor, quer saber mais do que ora comungo, leia esse incansável colecionador de pedras. Conheça esse ladrilhador de imagens. Eu, que não tive a felicidade de escrever O milagre da poesia, ou o “Bruno matador” (Pé de pato), sinto-me, poeticamente, vingado por Sérgio Vaz. A tempo: em nossa humanidade tão desumana, ser simples é muito complexo. Deus para entender? Então, SaravAxé e BoAventura!!
Ah!, é permitido sorrir! One Love!!"

Nelson Maca (Blackitude.BA / Liga Africana Atual)


O Sérgio Vaz me deu a honra de escrever a orelha do Colecionador de Pedras, seu último livro - resumo de vinte anos de correria atrás da expressão que nos expresse. Foi um presente o convite. Será que mereço? Saiu esse texto aí em cima. O livro, que nasceu, originalmente, como uma produção independente, acabou editado pela Editora Global, abrindo a Coleção Literatura Periférica. E ói eu, de novo, lá na orelha, agora nacional. Quem diria, né pai!? Peguei carona no buzão do cara - e na janela, mon.
Mas chega de conversa fiada, Luzia, vá ler o cara, ele é bom pra caraio!
Aqui em Salvador (Bahia, para ficar bem escuro), já andei fazendo a pesquisa, é lógico. Somos estratégicos. Encontrei esse material subversivo lá na Saraiva do Shopping Salvador e na Siciliano do Shopping Barra. Louco, hein mainha?, o poeta saiu lá de Taboão da Serra, da Sul, como dizem os irmanos das quebradas da paulicéia, e agora tá nos shoppings do Brasil. Já imaginou a cara dos segurança, seguindo os negão e as negona, de olho nos favela, sempre desconfiados, e a rapa saindo de cabeça erguida das melhores livrarias, portando um fino Colecionador de Pedras de Sérgio Vaz? Toma tabaréu, vê se aguenta essa!!
Sabe duma: vô nessa, mas, antes, vou deixar aí embaixo dois poemas do livro do Vaz só pra sacanaeá. Quero vê quem guenta não sair correndo comprar o livro e ler o resto. O meu eu não empresto, está autografado e me chama de irmão! Adquira o seu, mas, ói, nêgo, leia com moderação, pra não tomar uma overdose de nós mesmos tão fiel e respeitosamente representados.
Só mais uma coisinha: vou pongar aí, que eu não sou de ferro, e não posso perder essa carona (afinal, o blog é meu!"), e vou deixar aí, também, um dos poemas que fiz para o Sérgio Vaz e para o GOG (esse merece um capítulo só pra ele).

Sérgio Vaz - Nelson Maca - G.O.G
- Viiiixxxe, barão, se saia que é formação de guerrilha!!!


::Pé de pato
Sérgio Vaz


Bruno matou a mãe
matou o pai
os irmãos
os avós
os vizinhos.
Matou todo mundo de saudade
quando foi pra faculdade


::O milagre da poesia
Sérgio Vaz


Sou poeta,
E como poeta posso ser engenheiro
E como engenheiro
Posso construir pontes com versos
Para que pessoas possam passar sobre rios,
Ou apenas servir de abrigo aos indigentes.

Sou poeta,
E como poeta posso ser médico
E como médico
Posso fazer transplantes de coração
Para que pessoas amem novamente,
Ou simplesmente receitar poemas
Para tristezas com alergias
E alegrias sem satisfação.

Sou poeta,
E como poeta posso ser operário
E como operário
Posso acordar antes do sol e dar corda no dia,
E quando a noite chegar, serena e calma,
Descansar a ferramenta do corpo
No consolo da família, autopeças de minha alma.

Sou poeta,
E como poeta posso ser um assassino
E como assassino posso esfaquear os tiranos
Com o aço das minhas palavras
E disparar versos de grosso calibre na cabeça da multidão
Sem me preocupar com padre, juiz ou prisão.

Sou poeta,
E como poeta posso ser Jesus
E como Jesus
Posso descrucificar-me,
E sem os pregos nas mãos e os fanáticos nos pés
Andar livremente sobre terra e mar
Recitando poesia em vez de sermão.
Onde não tiver milagres
Ensinar o pão
Onde faltar a palavra
Repartir a ação.


::Toda sorte
para GOG e Sérgio Vaz
Nelson Maca


meu sempre muito obrigado
pela moral que têm dado,
a esse neguinho aloprado
livre da marcação cerrada
voando baixo sem asa
driblando no campo da várzea
solto na pequena área
que solta a bomba descalço
dos dedo sem unha
dos joelho ralado
de tanto chutar errado
nos arranca toco animado
nas quatro linha do asfalto
das bola batida na trave
nos jogo de vida baldia
nos barro da periferia
da alegria que não distancia
das tarde passando vadia,
das rua nunca vazia
dos choque de toda energia
nas vidraça quebrada de dia
nas algazarra que vaza sadia
nos flagrante gozo da noite...
nos quase delírio do dia!
meu sempre muito obrigado
pela moral que têm dado,
a esse neguinho aloprado

Um comentário:

Colecionador de pedras disse...

Maca,

eita porra, será que isso e a tal da revolução que tanto se fala por aí?
Teu blog chegou com um abraço. Como um sopro de alegria que conhece os caminhos estreitos da emoção.
Tua passagem por São Paulo teve um significado muito importante para todos nós, nesta relação sampa/salvador, mas vista do lado certo, dos que não se entregam, nos dá a certeza que um dia... quem sabe... a queda da bastilha...
E o que é melhor? É que está sendo construída da forma mais verdadeira possível: com amor e raiva.
"Não tenho dó de quem sofre, mas raiva de quem faz sofrer".
"Sumemo" guerreiro, nóis tamo aqui no corre, c tá ligado que é nóis q tá, né não?

Este comentário pode ser um abraço?
Então sinta-se abraçado, você e aos irmãos da Blakitude.

Valeu irmão, você me dá a certeza que sou realmente uma pessoa privilegiada, porque me faz sentir, com a sua amizade, que tenho sempre mais do que eu mereço.

Até a eternidade,

SÉRGIO VAZ
BLACKITUDE-SP