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ENTREVISTA / Érica Peçanha do Nascimento
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Nesta semana, a Blackitude: Vozes Negras da Bahia recebe a antropóloga e escritora Érica Peçanha do Nascimento para uma série de ações e debates em torno de seu recorte de pesquisa: a "Literatura Marginal" feita nas periferias de São Paulo (e do Brasil).
Esta será sua primeira visita a Salvador, mas não vai ser maresia, viu, pois, ao contrário da maioria dos passantes que inauguram suas pisadas em solo soteroplitano, ela não vem para curtir o carnaval ou as praias (pelo menos oficialmente - rsrs).
Ela chega com uma agenda cheia, incluindo palestra, mesa redonda, minicurso e sarau literário. Tudo em torno da "Literatura Divergente"! Seu itinerário fará paradas obrigatórias na UCSal (Lapa), Biblioteca Monteiro Lobato (Nazaré) e Sankofa African Bar (Pelourinho).
Serão momentos importantes para os artistas, ativistas, produtores e estudiosos da literatura e das culturas populares.
Somando esforço com o Projeto Rasuras (UFBA), Projeto Teafro (UNEB - Alagoinhas), Centro Acadêmico de Letras (UCSal - Lapa), Biblioteca Monteiro Lobato (Nazaré) e PROLER-Salvador , o que pretendemos é intermediar para que a cidade conheça e/ou se encontre com essa pesquisadora pioneira em seu seu campo de estudo.
Esta será sua primeira visita a Salvador, mas não vai ser maresia, viu, pois, ao contrário da maioria dos passantes que inauguram suas pisadas em solo soteroplitano, ela não vem para curtir o carnaval ou as praias (pelo menos oficialmente - rsrs).
Ela chega com uma agenda cheia, incluindo palestra, mesa redonda, minicurso e sarau literário. Tudo em torno da "Literatura Divergente"! Seu itinerário fará paradas obrigatórias na UCSal (Lapa), Biblioteca Monteiro Lobato (Nazaré) e Sankofa African Bar (Pelourinho).
Serão momentos importantes para os artistas, ativistas, produtores e estudiosos da literatura e das culturas populares.
Somando esforço com o Projeto Rasuras (UFBA), Projeto Teafro (UNEB - Alagoinhas), Centro Acadêmico de Letras (UCSal - Lapa), Biblioteca Monteiro Lobato (Nazaré) e PROLER-Salvador , o que pretendemos é intermediar para que a cidade conheça e/ou se encontre com essa pesquisadora pioneira em seu seu campo de estudo.
Conheci pessoalmente a Érica em eventos de literatura divergente em São Paulo meio às loucas ações desenvolvidas pela Cooperifa do grande poeta Sério Vaz. A última vez que nos encontramos foi em outubro de 2010 no Rio de Janeiro, quando participamos juntos de uma mesa no evento Poesia Favela (UERJ).
Ali, não me restou dúvida da importância fundamental da Érica Peçanha ao nosso movimento. Ela é arguta na percepção, disciplinada na pesquisa, respeitosa com os escritores e generosa com o público. Fala de maneira objetiva e convincente.
Porém a qualidade que mais me impressionou nela foi a Humildade! Com H maiúsculo, viu (Não me confunda isso com inocência distraída, cordialidade hostil ou submissão deprimente, tá, cara pálida!?)
Tudo isso me fez comentar comigo mesmo:
- Olha só, Maca, está surgindo uma teórica orgânica que se aprofunda em seu tema sem tirar os pés do chão. Por que será que ela não está ficando "metidinha à Uspiana" como uns e outros de nós que também crescem e depois.... FUMAÇA!?
Não... não podemos deixar ela nos escapar!!! (rsrsrs)
Ainda no Rio de Janeiro, comentei com ela minha vontade de tê-la em Salvador. O quanto seria importante a vinda dela para aqueles que ainda conseguem vislumbrar as vozes que correm por fora dos cânones... ou que rasuram os pergaminhos da tradição letrada... ou que trafegam nas margens... ou nas periferias...
Ou simplesmente que mantém um jeito diferente de corpo!
Ali, não me restou dúvida da importância fundamental da Érica Peçanha ao nosso movimento. Ela é arguta na percepção, disciplinada na pesquisa, respeitosa com os escritores e generosa com o público. Fala de maneira objetiva e convincente.
Porém a qualidade que mais me impressionou nela foi a Humildade! Com H maiúsculo, viu (Não me confunda isso com inocência distraída, cordialidade hostil ou submissão deprimente, tá, cara pálida!?)
Tudo isso me fez comentar comigo mesmo:
- Olha só, Maca, está surgindo uma teórica orgânica que se aprofunda em seu tema sem tirar os pés do chão. Por que será que ela não está ficando "metidinha à Uspiana" como uns e outros de nós que também crescem e depois.... FUMAÇA!?
Não... não podemos deixar ela nos escapar!!! (rsrsrs)
Ainda no Rio de Janeiro, comentei com ela minha vontade de tê-la em Salvador. O quanto seria importante a vinda dela para aqueles que ainda conseguem vislumbrar as vozes que correm por fora dos cânones... ou que rasuram os pergaminhos da tradição letrada... ou que trafegam nas margens... ou nas periferias...
Ou simplesmente que mantém um jeito diferente de corpo!
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Senhoras e Senhores, pois eis aqui, com a gente, nossa querida Érica Peçanha!! Mas nem precisa apertar os cintos, tá, pois ela pratica a direção segura.
Leiam a entrevista numa boa; e podem deixar que dos solavancos eu tomo conta!
Com Respeito, Nelson Maca
Poeta Exu Encruzilhador de Caminhos
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Gramática da Ira (GI) - Opa, Érica, essa é sua primeira vez na Bahia? Quais suas expectativas para essa jornada sócio-literária pela Bahia Preta com a Blackitude e parceiros?
Érica Peçanha do Nascimento (EPN) - Salve, Maca! Sim, é a primeira vez, mas vou com grande expectativa de conhecer alguns dos escritores, músicos, ativistas e intelectuais que a movimentam social e culturalmente. Também será uma oportunidade de estreitar contato com os produtos literários e projetos de ação cultural desenvolvidos pelos baianos.
GI - Fale um pouco de você e de sua história na cidade de São Paulo. O que há de fato e o que há de poética naquele belo prefácio que o Ferréz fez para “Vozes Marginais na Literatura”?
EPN - Moro na mesma casa desde que nasci, há 30 anos. Meus pais migraram de Minas Gerais para São Paulo nos anos 1970 e se estabeleceram no bairro do Jaraguá. É neste bairro também que atuo como professora de um curso pré-vestibular para alunos de baixa renda.
Com relação ao prefácio do Ferréz, este, talvez, tenha sido o trecho do livro que mais tenha despertado curiosidade e manifestações dos leitores e acho sempre importante explicar como se deu o processo. Meus primeiros contatos com Ferréz foram, no mínimo, conturbados. Ele era bastante desconfiado e resistente à ideia de haver uma pesquisa acadêmica sobre literatura marginal, além de ter se esquivado por mais de um ano até me conceder uma entrevista.
Quando terminei a dissertação, em 2006, procurei os doze escritores que entrevistei para oferecer uma cópia a quem estivesse interessado. Ferréz foi um dos poucos que manifestou interesse e o único que leu e criticou prontamente o texto. Para minha surpresa, ele gostou do trabalho e sugeriu que eu o publicasse, oferecendo-se, inclusive, para intermediar meu contato com editoras e escrever o prefácio. Ele queria participar do livro não só como tema do estudo, mas como sujeito que iria imprimir suas impressões sobre a pesquisa e a pesquisadora – e esta ideia me agradou. Para isso, ele fez uma longa entrevista comigo, com perguntas de variadas ordens.
Ferréz conhecia o meu trabalho, estava acostumado a me ver em suas palestras e a responder minhas perguntas, mas nunca tivemos uma relação pessoal ou uma conversa de foro íntimo, de modo que as informações que ele tinha a meu respeito reduziam-se à pesquisa que eu estava fazendo e ao nome do bairro onde eu morava, porque essa foi a primeira pergunta que ele me fez quando eu me apresentei como pesquisadora.
Na minha leitura, ele transformou a mim numa personagem e a minha história em mais uma de suas estórias. O que há no prefácio, portanto, é a ficcionalização de algumas de minhas experiências, a partir da seleção, do olhar, da sensibilidade e do talento literário do próprio Ferréz.
GI - Você pode nos dizer como foi sua aproximação com a Antropologia? Como você vê sua inserção no mundo da literatura por esse viés?
EPN - Escolhi ser cientista social quando tinha 14 anos, por conta do ímpeto juvenil de querer produzir ideias que pudessem modificar a realidade social. A escolha pela especialização em Antropologia se deu já nos primeiros anos da graduação, até pela especificidade da disciplina, que se volta à compreensão da diferença cultural com metodologias que privilegiam o ponto de vista dos próprios sujeitos de pesquisa.
Quando elegi meus objetos de estudo, tanto no mestrado quanto no doutorado, também me senti motivada pela oportunidade de lidar com livros, eventos e produtos culturais variados, que sempre fizeram parte dos meus hábitos de lazer. Já havia uma aproximação pessoal e antiga com a literatura, mas, academicamente, o que sempre me interessou são as relações dos produtos literários com o momento histórico ou dos autores e obras com os condicionamentos sociais.
GI - Mais especificamente, como você descobre e como se dá o início de sua relação afetivo-acadêmica com as chamadas - por você - “Vozes Marginais na Literatura” e suas amplas demandas sócio-literárias?
EPN - Desde a época da minha graduação em Sociologia e Política, tenho acompanhando como pesquisadora as movimentações na periferia paulistana. Por conta disso, em 2003, estava em um evento sobre hip hop que também discutiu a literatura produzida por escritores periféricos. Foi assim que descobri as edições especiais Caros Amigos/Literatura Marginal: a cultura da periferia e passei a me dedicar à pesquisa do tema.
A minha relação com a produção literária das margens periféricas nasceu, portanto, de uma aposta acadêmica: havia ali uma novidade e pouquíssimos artigos que se debruçavam sobre seus rendimentos teóricos e metodológicos.
Com o trabalho de campo e a convivência com muitos escritores e ativistas pude perceber também os desdobramentos deste tipo de literatura (ou da produção cultural com as marcas da periferia, de um modo geral) no cotidiano desses sujeitos, nas suas relações com o espaço onde moram e nas suas perspectivais pessoais e profissionais. Para mim, que almejo que meu trabalho possa gerar mais do que prestígio pessoal, estudar a produção cultural periférica é uma maneira de satisfazer meu desejo de abordar, no âmbito acadêmico, assuntos que têm também grande relevância política.
GI-Você pode nos informar como foi a aceitação de seu tema de pesquisa no programa de mestrado e doutorado na USP? Como sua comunidade acadêmica tem reagido aos seus estudos?
EPN - Eu ingressei no mestrado em 2003, época em que apenas o escritor Ferréz tinha alguma visibilidade, havia menos de uma dezena de livros publicados pelos escritores da periferia que eu iria investigar e nenhuma pesquisa sobre a literatura marginal produzida pelos escritores da periferia estava publicada. De certa maneira, tratava-se também de um tema marginal na universidade, como tem sido há muitos anos o tratamento dado às expressões e produtos tidos como populares.
Meus professores e colegas das ciências humanas dividiam-se entre aqueles que nunca tinham ouvido falar deste tipo de produção, os que a conheciam e criticavam a “falta de qualidade literária” dos textos ou mesmo de um corpus que legitimasse seu estudo, e os que se entusiasmavam, sobretudo, com o impacto político do fenômeno. Mas essas impressões deram lugar a investimentos acadêmicos sérios, para além do campo das ciências sociais, onde situo minhas reflexões.
Obras e escritores tidos como marginais foram incorporados na bibliografia obrigatória de cursos de graduação e pós-graduação em Letras, linhas de pesquisa foram criadas para estimular o estudo das narrativas periféricas, mais de uma dezena de dissertações e teses foram produzidas sobre este tema e dificilmente há um evento acadêmico da área de Letras ou Ciências Sociais que não dedique ao menos um grupo de trabalho para discussões acerca da produção cultural das periferias e favelas.
Quanto ao meu trabalho, há um reconhecimento do pioneirismo na abordagem do tema e do fôlego do trabalho documental e de campo, e críticas quanto aos rendimentos e alcance do olhar antropológico sobre os textos.
GI - Faz uma resenha pra nós do que consta disso tudo no seu livro “Vozes Marginais na Literatura”. Você consegue sintetizar nele todas as principais constatações da dissertação?
EPN - O livro é uma versão revista e ampliada da dissertação, com a atualização de alguns dados, visto que há três anos de diferença entre a finalização da pesquisa de mestrado e a publicação. Mas o texto integral da dissertação está no livro, acrescido do prefácio do Ferréz, de um posfácio do professor Heitor Frúgoli Jr, que é especialista em discussões sobre o espaço urbano, e de fotografias de escritores, apoiadores e espaços citados.
De maneira muito resumida, o meu trabalho de mestrado foi realizado na área de Antropologia e tem como mote a atribuição do adjetivo marginal, por alguns escritores da periferia, para caracterizar a si ou aos seus produtos literários no limiar do século XXI.
Tomo como referência as três edições especiais Caros Amigos/Literatura Marginal: a cultura da periferia para refletir sobre a relevante cena literária que se constituiu nas periferias de São Paulo, além de investigar o perfil sociológico dos autores, as principais características dos seus textos e suas conexões com o movimento hip hop e o terceiro setor para alcançar visibilidade no cenário cultural.
Para refinar as discussões, dou ênfase às carreiras e obras de três escritores, Ferréz, Sérgio Vaz e Sacolinha (Ademiro Alves).
Escolhi esses autores, que se diferenciam entre si com relação à faixa etária, trajetória literária e de militância social, produção e apropriação do termo literatura marginal, também no intuito de mostrar as complexidades presentes no movimento. Com esta escolha, pude me ater também ao ativismo dos escritores da periferia por meio da análise dos projetos de ação cultural que eles idealizaram, como o movimento 1daSul, a Cooperifa e o Literatura no Brasil.
Esses diferentes projetos serviram à discussão das estratégias de circulação, consumo e legitimação da produção literária periférica que sucederam o lançamento das revistas Caros Amigos/Literatura Marginal, ao mesmo tempo que subsidiaram a reflexão acerca da ideia de cultura da periferia.
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GI - Quais foram os paradigmas centrais de sua dissertação e quais as constatações que mais te impressionaram nos resultados da pesquisa?
EPN - Minha pesquisa foi realizada no âmbito da Antropologia, num esforço de ressaltar o ponto de vista e a vivência dos próprios escritores estudados. A investigação centrada em São Paulo apontou que, embora alguns dos escritores que participaram das Caros Amigos/ Literatura Marginal não concordem com o uso do adjetivo marginal para classificar a si e aos seus textos, a maior parte deles faz uso de tal adjetivo para demarcar seu posicionamento diante de outros grupos de escritores, bem como as particularidades de suas criações literárias.
Neste sentido, a estigmatização como marginal ou periférico é o vetor das suas carreiras: tanto para atender a uma demanda do mercado editorial como para se aproximar do público que compartilha o mesmo perfil sociológico. Com relação aos escritores da periferia que investiguei, há um programa de ação estética ou um projeto literário, que consiste em retratar o que é peculiar aos sujeitos e aos espaços marginais (temas, práticas sociais, valores, modos de sentir e pensar o mundo, etc.), especialmente com relação às periferias, numa escrita singular.
Os textos desses escritores apresentam regras próprias de concordância verbal e do uso do plural que destoam das normas da língua portuguesa, tanto nas construções das frases como nos neologismos exibidos. A novidade aqui é que não são casos isolados de pobres, negros, operários ou presidiários que se lançaram no mercado editorial, mas de um coletivo de autores que protagoniza uma interessante movimentação cultural em torno das ideias de literatura marginal e periférica e que não se esgota em produtos literários, mas estende-se, por exemplo, à realização de saraus regulares de poesias, especialmente em regiões periféricas.
Acho importante enfatizar que escritores como Allan da Rosa, Alessandro Buzo, Claudia Canto, Elizandra Souza, Ferréz, Sacolinha e Sérgio Vaz abrem caminho para a diversificação do perfil sociológico dos escritores brasileiros, tendo em vista que são oriundos das classes populares, moradores de bairros da periferia, frequentadores de escolas públicas e que estão envolvidos com projetos culturais ou sociais. Do mesmo modo, contribuem para a pluralização do discurso literário que vem sendo produzido, uma vez que, mesmo utilizando recursos explorados por escritores de diferentes grupos sociais na atual produção literária brasileira – a saber: a seleção de temas, cenários e personagens relacionados a contextos de marginalidade –, os escritores da periferia se distinguem dos demais porque são também atores dos espaços retratados nos textos e, portanto, sujeitos marginais que estão inserindo suas experiências sociais no plano cultural.
Afora a amplitude e o entendimento quase sempre problemático da expressão literatura marginal, o que mais me impressiona, desde que terminei a pesquisa, é o crescimento do próprio fenômeno que eu observei no mestrado: dezenas de novas publicações de autores periféricos (inclusive por editoras de prestígio), o grande número de reportagens em periódicos e programas de televisão sobre tais autores e sua atuação, a multiplicação de saraus literários nas periferias paulistanas, a visibilidade, profusão e ampliação da ideia de cultura da periferia, a elaboração de editais públicos específicos para artistas e ativistas moradores de periferias e favelas, entre outros.
Só para citar um exemplo, entre 1992 e 2005, havia 15 livros publicados, enquanto até o início de 2011 consegui contabilizar 72 obras de escritores da periferia associados à ideia de literatura marginal.
EPN - Minha pesquisa foi realizada no âmbito da Antropologia, num esforço de ressaltar o ponto de vista e a vivência dos próprios escritores estudados. A investigação centrada em São Paulo apontou que, embora alguns dos escritores que participaram das Caros Amigos/ Literatura Marginal não concordem com o uso do adjetivo marginal para classificar a si e aos seus textos, a maior parte deles faz uso de tal adjetivo para demarcar seu posicionamento diante de outros grupos de escritores, bem como as particularidades de suas criações literárias.
Neste sentido, a estigmatização como marginal ou periférico é o vetor das suas carreiras: tanto para atender a uma demanda do mercado editorial como para se aproximar do público que compartilha o mesmo perfil sociológico. Com relação aos escritores da periferia que investiguei, há um programa de ação estética ou um projeto literário, que consiste em retratar o que é peculiar aos sujeitos e aos espaços marginais (temas, práticas sociais, valores, modos de sentir e pensar o mundo, etc.), especialmente com relação às periferias, numa escrita singular.
Os textos desses escritores apresentam regras próprias de concordância verbal e do uso do plural que destoam das normas da língua portuguesa, tanto nas construções das frases como nos neologismos exibidos. A novidade aqui é que não são casos isolados de pobres, negros, operários ou presidiários que se lançaram no mercado editorial, mas de um coletivo de autores que protagoniza uma interessante movimentação cultural em torno das ideias de literatura marginal e periférica e que não se esgota em produtos literários, mas estende-se, por exemplo, à realização de saraus regulares de poesias, especialmente em regiões periféricas.
Acho importante enfatizar que escritores como Allan da Rosa, Alessandro Buzo, Claudia Canto, Elizandra Souza, Ferréz, Sacolinha e Sérgio Vaz abrem caminho para a diversificação do perfil sociológico dos escritores brasileiros, tendo em vista que são oriundos das classes populares, moradores de bairros da periferia, frequentadores de escolas públicas e que estão envolvidos com projetos culturais ou sociais. Do mesmo modo, contribuem para a pluralização do discurso literário que vem sendo produzido, uma vez que, mesmo utilizando recursos explorados por escritores de diferentes grupos sociais na atual produção literária brasileira – a saber: a seleção de temas, cenários e personagens relacionados a contextos de marginalidade –, os escritores da periferia se distinguem dos demais porque são também atores dos espaços retratados nos textos e, portanto, sujeitos marginais que estão inserindo suas experiências sociais no plano cultural.
Afora a amplitude e o entendimento quase sempre problemático da expressão literatura marginal, o que mais me impressiona, desde que terminei a pesquisa, é o crescimento do próprio fenômeno que eu observei no mestrado: dezenas de novas publicações de autores periféricos (inclusive por editoras de prestígio), o grande número de reportagens em periódicos e programas de televisão sobre tais autores e sua atuação, a multiplicação de saraus literários nas periferias paulistanas, a visibilidade, profusão e ampliação da ideia de cultura da periferia, a elaboração de editais públicos específicos para artistas e ativistas moradores de periferias e favelas, entre outros.
Só para citar um exemplo, entre 1992 e 2005, havia 15 livros publicados, enquanto até o início de 2011 consegui contabilizar 72 obras de escritores da periferia associados à ideia de literatura marginal.
GI - Você não acha que, no livro, reduziu a abrangência das várias vertentes históricas da literatura “marginal” brasileira ao Rio de Janeiro e São Paulo? Não igualmente superdimensionadas as edições especiais da “Revistas Caros Amigos – Literatura Marginal”? Revendo a obra com certo distanciamento, isso não te parece que precisa ser relativizado?
EPN - Todo trabalho acadêmico precisa ter recortes – de tempo, espaço e fontes (literárias ou documentais) e o meu não foge a este preceito. Recortes metodológicos e aportes teóricos são escolhas que estão relacionadas não apenas às experiências, interesses e formação do pesquisador, mas também aos resultados que ele espera alcançar.
E embora a expressão literatura marginal seja polissêmica e sirva para caracterizar diferentes biografias isoladas ou grupos de escritores, em território brasileiro dois conjuntos de autores estiveram mais fortemente associados a ela. Um deles foi o dos poetas marginais dos anos 1970, majoritariamente instalados no Rio de Janeiro, originários da classe média e ligados às atividades de cinema, teatro e música. O outro diz respeito aos escritores oriundos das periferias urbanas que publicaram nas três edições da revista Caros Amigos/ Literatura Marginal: a cultura da periferia, nos anos de 2001, 2002 e 2004.
O meu objetivo de pesquisa foi, então, compreender a que se referia a apropriação recente da expressão literatura marginal por escritores da periferia e, do meu ponto de vista, as três edições especiais da Caros Amigos são fundamentais. Primeiramente, porque como publicação coletiva, a revista foi a primeira tentativa de reunir autores de diferentes perfis sociológicos em torno de um projeto literário comum de retratar o que é peculiar a sujeitos e espaços marginais, especialmente a periferia. Depois, por ter ampliado o debate e os discursos em torno do uso da expressão literatura marginal no cenário contemporâneo.
A Caros Amigos/Literatura Marginal foi também a primeira oportunidade de publicação de boa parte dos autores participantes, com isso, agregou prestígio a eles e permitiu a circulação nacional dos seus textos.
Por fim, por ter veiculado, predominantemente atuantes em São Paulo, as três edições estimularam a formação de novos laços de amizade e uma atuação cultural comum entre autores que estavam próximos geograficamente. Minha pesquisa foi finalizada em 2006 e, como todo trabalho acadêmico, registra um determinado momento ou aspecto do fenômeno: no meu caso, da entrada em cena de escritores originários ou atuantes na periferia de São Paulo.
Ou dito de outro modo, trata-se de um trabalho que registrou as características dos primeiros textos, as primeiras conexões que os escritores periféricos estabeleceram para se projetar no campo literário, o surgimento de um tipo de atuação cultural, além de ter se colocado em diálogo com as primeiras reflexões acadêmicas sobre a produção literária da periferia.
EPN - Todo trabalho acadêmico precisa ter recortes – de tempo, espaço e fontes (literárias ou documentais) e o meu não foge a este preceito. Recortes metodológicos e aportes teóricos são escolhas que estão relacionadas não apenas às experiências, interesses e formação do pesquisador, mas também aos resultados que ele espera alcançar.
E embora a expressão literatura marginal seja polissêmica e sirva para caracterizar diferentes biografias isoladas ou grupos de escritores, em território brasileiro dois conjuntos de autores estiveram mais fortemente associados a ela. Um deles foi o dos poetas marginais dos anos 1970, majoritariamente instalados no Rio de Janeiro, originários da classe média e ligados às atividades de cinema, teatro e música. O outro diz respeito aos escritores oriundos das periferias urbanas que publicaram nas três edições da revista Caros Amigos/ Literatura Marginal: a cultura da periferia, nos anos de 2001, 2002 e 2004.
O meu objetivo de pesquisa foi, então, compreender a que se referia a apropriação recente da expressão literatura marginal por escritores da periferia e, do meu ponto de vista, as três edições especiais da Caros Amigos são fundamentais. Primeiramente, porque como publicação coletiva, a revista foi a primeira tentativa de reunir autores de diferentes perfis sociológicos em torno de um projeto literário comum de retratar o que é peculiar a sujeitos e espaços marginais, especialmente a periferia. Depois, por ter ampliado o debate e os discursos em torno do uso da expressão literatura marginal no cenário contemporâneo.
A Caros Amigos/Literatura Marginal foi também a primeira oportunidade de publicação de boa parte dos autores participantes, com isso, agregou prestígio a eles e permitiu a circulação nacional dos seus textos.
Por fim, por ter veiculado, predominantemente atuantes em São Paulo, as três edições estimularam a formação de novos laços de amizade e uma atuação cultural comum entre autores que estavam próximos geograficamente. Minha pesquisa foi finalizada em 2006 e, como todo trabalho acadêmico, registra um determinado momento ou aspecto do fenômeno: no meu caso, da entrada em cena de escritores originários ou atuantes na periferia de São Paulo.
Ou dito de outro modo, trata-se de um trabalho que registrou as características dos primeiros textos, as primeiras conexões que os escritores periféricos estabeleceram para se projetar no campo literário, o surgimento de um tipo de atuação cultural, além de ter se colocado em diálogo com as primeiras reflexões acadêmicas sobre a produção literária da periferia.
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GI - E o hip hop, como ele se localiza nessa história toda que você conta em seu livro?
EPN - Creio que a primeira constatação relevante é que há, já na revista Caros Amigos/Literatura Marginal a presença de muitos rappers sendo apresentados como escritores e suas letras de rap valorizadas como literatura.
Além disso, muitas organizações e mídias ligadas ao movimento hip hop, tais como as posses, os jornais, revistas e sites especializados no tema, foram importantes para fazer circular a produção literária da periferia. Muitos escritores periféricos são tributários da tradição criada pelo hip hop, no que diz respeito aos pressupostos da atuação e na interpretação de certa realidade social em termos esteticamente válidos.
Mas penso que se trata de uma influência mútua, já que muitos hip hoppers passaram a publicar obras literárias, biografias e registros da história do movimento inspirados na produção dos escritores da periferia. Por vezes, ações conjuntas entre representantes das duas manifestações, como intervenções de escritores em shows de rap ou eventos que intercalam ambos os assuntos ou artistas (rappers e escritores), aproximam ainda mais a literatura marginal dos escritores da periferia do movimento hip hop.
É preciso levar em conta também as proximidades de perfil e de atuação entre os escritores da periferia e militantes do hip hop. Digo isso porque são muitos os elementos que são comuns entre eles: são originários da periferia, utilizam-se da arte para expressar os problemas, valores e práticas dos moradores da periferia, exercem profissões que se colocam como alternativas às profissões operacionais, comumente relegadas às pessoas que moram nas periferias, questionam os valores e os estilos de vida das classes privilegiadas, dão novo significado a termos que eram vistos como pejorativos como “favelado”, “periférico”, “preto”, “marginal”.
Ambos podem ser vistos como porta-vozes da periferia no plano artístico e como ativistas que contribuem para estimular a produção, o consumo e a circulação de bens culturais em espaços esquecidos pelo poder público. São dois movimentos artístico-culturais que, ao conseguir divulgar suas produções artísticas no campo cultural e na mídia, assim como por meio dos seus projetos de atuação cultural, dão nova significação ao espaço da periferia, ajudando a criar uma representação positiva do que antes só estava associado à falta, à violência e à precariedade.
GI - Afinal de contas que diferenças você detectou entre os principais conceitos que buscam definir as demandas literárias da periferia de São Paulo? Para você, qual o mais confortável ou menos escorregadio? Por quê?
EPN - Nas minhas pesquisas, tento demonstrar que a junção dos termos literatura e marginal produziu uma rubrica de múltiplos significados, variando de acordo com a definição de estudiosos, jornalistas ou dos próprios escritores. Mas não cabe a mim discordar ou não da eficácia/uso/pertinência das expressões que vêm ganhando força nos últimos anos – como literatura marginal, literatura periférica, literatura divergente, literatura suburbana, literatura hip hop e litera-rua – e tentam dar conta de classificar a produção que emerge das margens econômicas, políticas e sociais.
Possivelmente, esta pergunta faça mais sentido para um estudioso da área da literatura, porque este, amparado por teorias e métodos próprios da disciplina, poderá chegar a uma conclusão deste tipo. Já eu, que sou antropóloga, me interesso mais por saber “por que” escritores, grupos, jornalistas, estudiosos, etc. se valem dessas variadas expressões para classificar determinadas obras e autores, e como essa (auto)classificação pode se desdobrar em produtos literários e atuações culturais específicas.
GI - E o livro? Por que a Aeroplano, uma editora do Rio de Janeiro, quando tantos poetas da cena que você estuda publicam em São Paulo? Como você chegou lá? Conte aí essa caminhada.
EPN - Eu não tinha grandes expectativas com relação à publicação da pesquisa de mestrado, porque há pouco interesse comercial neste tipo de trabalho e a circulação é sempre reduzida ao âmbito acadêmico. Mas desde 2008 eu participo das reuniões do PACC (Programa Avançado de Cultura Contemporânea), coordenado pela Heloisa Buarque de Hollanda, que também é uma das proprietárias da editora Aeroplano. A Heloisa leu minha dissertação e considerou que ela se encaixava na proposta da Coleção Tramas Urbanas, que embora destaque as narrativas dos protagonistas de movimentos e coletivos culturais, visa divulgar reflexões sobre a produção cultural das periferias e favelas.
Havia interesse de outras duas editoras paulistas, que privilegiam trabalhos acadêmicos em seu catálogo, mas me senti atraída pelas próprias características da Tramas Urbanas e da possibilidade de atingir um público maior.
Além disso, muitas organizações e mídias ligadas ao movimento hip hop, tais como as posses, os jornais, revistas e sites especializados no tema, foram importantes para fazer circular a produção literária da periferia. Muitos escritores periféricos são tributários da tradição criada pelo hip hop, no que diz respeito aos pressupostos da atuação e na interpretação de certa realidade social em termos esteticamente válidos.
Mas penso que se trata de uma influência mútua, já que muitos hip hoppers passaram a publicar obras literárias, biografias e registros da história do movimento inspirados na produção dos escritores da periferia. Por vezes, ações conjuntas entre representantes das duas manifestações, como intervenções de escritores em shows de rap ou eventos que intercalam ambos os assuntos ou artistas (rappers e escritores), aproximam ainda mais a literatura marginal dos escritores da periferia do movimento hip hop.
É preciso levar em conta também as proximidades de perfil e de atuação entre os escritores da periferia e militantes do hip hop. Digo isso porque são muitos os elementos que são comuns entre eles: são originários da periferia, utilizam-se da arte para expressar os problemas, valores e práticas dos moradores da periferia, exercem profissões que se colocam como alternativas às profissões operacionais, comumente relegadas às pessoas que moram nas periferias, questionam os valores e os estilos de vida das classes privilegiadas, dão novo significado a termos que eram vistos como pejorativos como “favelado”, “periférico”, “preto”, “marginal”.
Ambos podem ser vistos como porta-vozes da periferia no plano artístico e como ativistas que contribuem para estimular a produção, o consumo e a circulação de bens culturais em espaços esquecidos pelo poder público. São dois movimentos artístico-culturais que, ao conseguir divulgar suas produções artísticas no campo cultural e na mídia, assim como por meio dos seus projetos de atuação cultural, dão nova significação ao espaço da periferia, ajudando a criar uma representação positiva do que antes só estava associado à falta, à violência e à precariedade.
GI - Afinal de contas que diferenças você detectou entre os principais conceitos que buscam definir as demandas literárias da periferia de São Paulo? Para você, qual o mais confortável ou menos escorregadio? Por quê?
EPN - Nas minhas pesquisas, tento demonstrar que a junção dos termos literatura e marginal produziu uma rubrica de múltiplos significados, variando de acordo com a definição de estudiosos, jornalistas ou dos próprios escritores. Mas não cabe a mim discordar ou não da eficácia/uso/pertinência das expressões que vêm ganhando força nos últimos anos – como literatura marginal, literatura periférica, literatura divergente, literatura suburbana, literatura hip hop e litera-rua – e tentam dar conta de classificar a produção que emerge das margens econômicas, políticas e sociais.
Possivelmente, esta pergunta faça mais sentido para um estudioso da área da literatura, porque este, amparado por teorias e métodos próprios da disciplina, poderá chegar a uma conclusão deste tipo. Já eu, que sou antropóloga, me interesso mais por saber “por que” escritores, grupos, jornalistas, estudiosos, etc. se valem dessas variadas expressões para classificar determinadas obras e autores, e como essa (auto)classificação pode se desdobrar em produtos literários e atuações culturais específicas.
GI - E o livro? Por que a Aeroplano, uma editora do Rio de Janeiro, quando tantos poetas da cena que você estuda publicam em São Paulo? Como você chegou lá? Conte aí essa caminhada.
EPN - Eu não tinha grandes expectativas com relação à publicação da pesquisa de mestrado, porque há pouco interesse comercial neste tipo de trabalho e a circulação é sempre reduzida ao âmbito acadêmico. Mas desde 2008 eu participo das reuniões do PACC (Programa Avançado de Cultura Contemporânea), coordenado pela Heloisa Buarque de Hollanda, que também é uma das proprietárias da editora Aeroplano. A Heloisa leu minha dissertação e considerou que ela se encaixava na proposta da Coleção Tramas Urbanas, que embora destaque as narrativas dos protagonistas de movimentos e coletivos culturais, visa divulgar reflexões sobre a produção cultural das periferias e favelas.
Havia interesse de outras duas editoras paulistas, que privilegiam trabalhos acadêmicos em seu catálogo, mas me senti atraída pelas próprias características da Tramas Urbanas e da possibilidade de atingir um público maior.
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GI - Como tem se saído o livro “Vozes Marginais na Literatura”? Quem o lê? Como se dá a relação autora-editora, considerando-se a obra também como produto duma cadeia comercial?
EPN - Penso que meu livro, ainda que seja produto acadêmico, se beneficia da linguagem etnográfica, que é mais acessível, e do meu desejo de circular para além dos muros universitários para chegar num público amplo.
Fiz oito eventos de lançamento até aqui, apenas dois deles em reuniões científicas, os outros foram em saraus, praça pública e na livraria Suburbano Convicto, especializada em literatura marginal e de propriedade do escritor Alessandro Buzo.
Por se tratar de uma pesquisa acadêmica, eu atinjo o público universitário e outros investigadores interessados nos temas abordados. Mas nos eventos de lançamentos nas periferias, quem compra são os ativistas, frequentadores de saraus, escritores e leitores que apreciam a literatura marginal e também têm interesse em conhecer os aspectos histórico-sociais que cercam essa produção.
A divulgação do meu livro é favorecida pela boa relação que mantenho com os sujeitos da minha pesquisa, pois eu sou frequentemente convidada para participar de bate-papos, debates e outros encontros que me dão a possibilidade de falar do meu trabalho e vender livros.
Como a Aeroplano é uma editora de pequeno porte e eu sou uma intelectual em início de carreira, a promoção e vendagem do meu livro também depende muito do meu empenho e da generosidade de amigos, familiares, professores, ativistas, parceiros e quem mais chegar.
GI - E agora, no doutorado, que relações você estabelece entre seu estudo atual e o desenvolvido no mestrado? Qual seu novo problema e objeto?
EPN - Minha pesquisa de doutorado visa discutir as representações sobre periferia, tanto no que se refere ao espaço social quanto à sua cultura peculiar, construídas por projetos de ação cultural protagonizados por artistas da periferia paulistana. E o lócus privilegiado da observação é o Sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia): evento dedicado à poesia e, eventualmente, à música, ao teatro e ao cinema que reúne semanalmente profissionais ligados ou não a atividades artísticas em um boteco na periferia de São Paulo.
Além do mapeamento dos artistas e grupos que desenvolvem ações conjuntas com a Cooperifa, a pesquisa tem por objetivo analisar suas estratégias de produção, circulação e consumo cultural. Assim, as pesquisas de mestrado e doutorado têm em comum a discussão sobre periferia, a partir da presença e visibilidade alcançada pelos moradores deste tipo de espaço social na cultura contemporânea.
GI - Érica, muito obrigado pela entrevista. Fica aí o espaço para suas considerações finais e, caso queira, seu salve aos baianos, que, muito em breve, terão a oportunidade de ouvi-la pessoalmente e trocar ideias diretamente com você.
EPN - Eu que agradeço as perguntas provocativas e o espaço que a Blackitude abre para me receber.
Obs. Escritores da foto (esq p dir): Sérgio Vaz, Alessandro Buzo, Dinha e Sacolinha
EPN - Penso que meu livro, ainda que seja produto acadêmico, se beneficia da linguagem etnográfica, que é mais acessível, e do meu desejo de circular para além dos muros universitários para chegar num público amplo.
Fiz oito eventos de lançamento até aqui, apenas dois deles em reuniões científicas, os outros foram em saraus, praça pública e na livraria Suburbano Convicto, especializada em literatura marginal e de propriedade do escritor Alessandro Buzo.
Por se tratar de uma pesquisa acadêmica, eu atinjo o público universitário e outros investigadores interessados nos temas abordados. Mas nos eventos de lançamentos nas periferias, quem compra são os ativistas, frequentadores de saraus, escritores e leitores que apreciam a literatura marginal e também têm interesse em conhecer os aspectos histórico-sociais que cercam essa produção.
A divulgação do meu livro é favorecida pela boa relação que mantenho com os sujeitos da minha pesquisa, pois eu sou frequentemente convidada para participar de bate-papos, debates e outros encontros que me dão a possibilidade de falar do meu trabalho e vender livros.
Como a Aeroplano é uma editora de pequeno porte e eu sou uma intelectual em início de carreira, a promoção e vendagem do meu livro também depende muito do meu empenho e da generosidade de amigos, familiares, professores, ativistas, parceiros e quem mais chegar.
GI - E agora, no doutorado, que relações você estabelece entre seu estudo atual e o desenvolvido no mestrado? Qual seu novo problema e objeto?
EPN - Minha pesquisa de doutorado visa discutir as representações sobre periferia, tanto no que se refere ao espaço social quanto à sua cultura peculiar, construídas por projetos de ação cultural protagonizados por artistas da periferia paulistana. E o lócus privilegiado da observação é o Sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia): evento dedicado à poesia e, eventualmente, à música, ao teatro e ao cinema que reúne semanalmente profissionais ligados ou não a atividades artísticas em um boteco na periferia de São Paulo.
Além do mapeamento dos artistas e grupos que desenvolvem ações conjuntas com a Cooperifa, a pesquisa tem por objetivo analisar suas estratégias de produção, circulação e consumo cultural. Assim, as pesquisas de mestrado e doutorado têm em comum a discussão sobre periferia, a partir da presença e visibilidade alcançada pelos moradores deste tipo de espaço social na cultura contemporânea.
GI - Érica, muito obrigado pela entrevista. Fica aí o espaço para suas considerações finais e, caso queira, seu salve aos baianos, que, muito em breve, terão a oportunidade de ouvi-la pessoalmente e trocar ideias diretamente com você.
EPN - Eu que agradeço as perguntas provocativas e o espaço que a Blackitude abre para me receber.
Obs. Escritores da foto (esq p dir): Sérgio Vaz, Alessandro Buzo, Dinha e Sacolinha
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