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Guardião
para os irmão-irmãos
Sei sim, irmão,
acredito em tudo que você me diz aqui!
Somos africanos
e isso nos dá uma perspectiva antiga
Nossa pele nos colocou em ângulo de reconhecimento
Quando penso em você
não penso como engenheiro ou pedreiro
Penso como saudade,
lembrança de um tempo antigo
De uma família destroçada,
Mas insistente,
resistente,
desde sempre lutadora
Penso que isso tudo nos irmana
independente dos dejetos
Nos aproxima
apesar do atrito que nos risca
Nossa herança arisca é coletiva
Suas vitórias são também as minhas vitórias
Os meus troféus irão paras as estantes de teu peito aberto
Tuas lágrimas regarão minha cova
Meu riso iluminará tua escuridão de cumplicidade
Aprendi a ser malandro o suficiente
para te ouvir quieto e atento em casa
Sei que na intimidade da família
teus dedos me alertarão em riste
Sei que no sol lá fora
frente aos vermes arejados de mundo
afagarei teus deslizes
Tudo em irmandade da boa vida,
para não dar sopa às piranhas
Para que nossa autodestruição deixe de ser
o espetáculo deste público sádico
Para que nossas desavenças
não engordem os olhos da praça pública
Você tem que ser o meu guardião, Mano
Eu o teu despertador, Brother
Simplesmente porque nos amamos
mesmo na divergência de momentos
mesmo na ira que nos atira aos rochedos um do outro
Mais tarde,
ancoramos em calmaria
no despertar desse doído aviso
Porque sobrevivemos na cautela um do outro
Simplesmente
porque nos amamos!
Sei que temos nossos motivos
razões para desconfianças
Mas quero que você me guarde,
e não me tente
Mas quero mesmo ser o teu guardião
A Águia aérea da serpente rastejante
de teu algoz
Porque os vermes mais nocivos
não têm coloração definida
São invisíveis aos olhos cegados
Se movimentam sorrateiros
Nos contaminam em silêncio
Sem alardes
Sem chamar a atenção para si
Corroem as colunas de nosso castelo de ignorâncias...
Ai de nós
sem as defesas antibiétnicas
nas entranhas de nossos organismos
Ai de nós
sem os olhos do espírito ancestral em lanterna diuturna
naqueles que nos querem guilhotinar
na paixão cortante do desprezo
a aliança tênue do pertencimento
Nelson Maca (livro: Salve o Rei!)
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terça-feira, 10 de março de 2009
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