terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Blackitude + Zumbi - por Ana Cristina Pereira

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A rede se fortalece


A trajetória de Zumbi dos Palmares e de todos os outros guerreiros rebelados serviu de inspiração ao Blackitude + Zumbi – Estratégia Quilombola, nosso evento do Mês da Consciência Negra, que aconteceu de 21 a 24, em alguns pontos centrais da cidade.

Da idealização à execução, tudo aconteceu através de pequenas (e importantes) parcerias. Uma verdadeira estratégia quilombola, que ganhou reforço com a participação inspiradora dos haitianos Vox Sambou e Diegal, que trouxeram notícias do trabalho e da arte que fazem no Canadá.

Em vários momentos, os visitantes afirmaram que Salvador os fazia lembrar do sofrido Haiti – pelo povo, luz, calor, comidas...

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No primeiro encontro deles com a comunidade local, no sarau político-poético no Quilombo 37, no sábado, o país foi o foco do debate. Depois do documentário O que se passa no Haiti?, do jornalista Kevin Pina, e de clips dos artistas - que também remetem à realidade haitiana - Vox e Diegal contaram um pouco de suas histórias e de suas posições - contrárias à intervenção da ONU no Haiti.

“Se o Brasil quer mesmo ajudar, deveria mandar médicos, professores e engenheiros e não soldados”, disse Vox Sambou.

Eles também falaram da atuação do grupo de hip hop Nomadic Massive, que reúne artistas de várias partes do mundo, como eles dois, e que tocou em São Paulo na mesma semana. Vox também falou do trabalho comunitário no Canadá – voltado para jovens pobres, muitos deles imigrantes latinos.

Vale destacar a colaboração integral ao longo do Blackitude + Zumbi da intérprete-cinegrafista-produtora faz tudo Liliane Braga, de São Paulo.

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A emoção, que já estava forte, foi às alturas com o recital no qual a interação foi total, independente de línguas. Nelson Maca e Negra Íris, Giovane Sobrevivente e as meninas do Choque Cultural fizeram a sala, com acompanhamentos luxuosos de Lázaro Erê na tumbadora, dos anfitriões Mandingo e Jocélia, de Robson Véio e muitos que entraram na roda, a exemplo dos rappers Cremilson do grupo Um Konto e Deivison de Minas Gerais.

Não estava programado, mas Vox Sambou e Diegal recitaram e improvisaram na mais fina sintonia.

No domingo, o tradicional Goethe Institut mudou, literalmente, de cor. Na parceria com o projeto Remixe-se, o Blackitude + Zumbi levou ao espaço uma mostra vigorosa do hip hop de Salvador, com artistas e público vindos, em sua maioria, das quebradas da cidade.

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Foram cinco horas intensas com RBF, Afrogueto, Daganja + Versu 2 e Opanijé, com encerramento da dupla haitiana, que se apresentou com o DJ Bandido. Tudo emoldurado pelos graffittis de Neuro, Lee27, Tito Lama e Bigod, embalado pela discotecagem de Joe e pelos movimentos sinuosos de Ananias, Tina e Cia do Independente de Rua.

O evento contou, ainda, com a audição em primeira mão do CD Entre Versos e Prosas, de Daganja (sexta 21, também no Quilombo 37) numa parceria com o Positivoz Rec. Além do bate papo com Daganja e o depoimento de amigos e parceiros, a noite de contou com os embalos Dj Leandro.

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Os haitianos, aproveitando cada momento, visitaram o Bloco Afro Okanbi, no Engenho Velho de Brotas, num encontro afro-musical-poético-político inesquecível com o "comandante" Jorjão Bafafé. Após esse momento, a visita deslocou-se para o Terreiro Oxumaré, no Engenho Velho da Federação, agora ciceroneada por Lázaro Erê, do grupo Oapanijé, que é filho da casa.

Fica a certeza de que as trocas foram muitas e que o encontro não vai ser esquecido, nem por eles nem por nós. E a parceria estabelecida por aqui, Salvador, e por lá, São Paulo-Haiti-Canadá, não pára por aí...

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Por: Ana Cristina Pereira - Blackitude.Ba

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Foto1: Panorama do Goethe Institut (23.11) - por Ricardo Soares
Foto2: Diegal e Vox Sambou: no Quilombo 37 (22.11) - por Menna
Foto3: Negra Íris: no Quilombo 37 (22.11) - por Menna (Egito)
Foto4: Dj Bandido: no Goethe Institut (23.11) - por Fernando Gomes
Foto5: Jorjão Babafé e grupo Okanbi Mirin: (24.11) -por Nelson Maca
Foto6: B.boy Ananias: no Goethe Institut (23.11) - por Ricardo Soares

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2 comentários:

Opanijé disse...

Simplesmente inesquecível. Tanto para nós, quanto para os caras, que alías deram um show, não só de bom rap, mas de humildade, simplicidade, profissionalismo e consciência política. Sem sombra de dúvida o evento que mais nos agradou participar esse ano. E que 2009 venha nesse padrão: Menos marra, menos blábláblá, e mais trabalho! Valeu, Blackitude!

Anônimo disse...

Isso mesmo, Opanijé,
também curti pra caramba a apresentação de vocês.
Espero, sinceramnete, ampliar e amadurecer esta parceria em 2009.

Nelson Maca