sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Festejo meus mortos porque, em mim, eles vivem

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Luis Orlando.

meus mortos vivem em mim
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... mas sei, também, que choro pelos cadáveres adiados que procriam...
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A dor em mim derrama-se em lágrimas
Chorei muito pelo Luís Orlando.
Chorei inocente como criança inocente.
Acho que renasci um pouco!!
Estou chorando agora - de frente para o computador.
Ele é insubstituível onde esteve!!
Só isso: sem explicação.
Sem tese.
Sem ideologia.
Sem comparação.
Aliás, não tenho argumentos para sua morte que vi chegando.
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Dias atrás, ao entrar na Sala Valter da Silveira,
Chorei de saudade do guerreiro tão perto que eu podia tocá-lo.
Uma fortaleza, assim, ao meu lado na passagem do meio.
E eu fiquei meio só em alguns quesitos!
Precisando recompor minha lateralidade.
Sei que, realmente, amo-o muito.
Só depois descobri que, na realidade, ele não era um irmão para mim.
Ele sabia que era um meu ancestral presente.
Agora sei que vivi com meu mestre sem saber e sem hierarquias!!
Mestre também em saber ser invisível na hora certa.
Em conspirar na doçura.
Em triturar com sorrisos.
Em brilhar intensamente com luz baixa.
Em aquilombar-se feroz mesmo nas oficialidades.
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E como me disse um cineasta preto de fato
Ainda falta às homenagens incompletas
Lembrar que Luís Orlando era Negro.
Que era Rasta.
E, como Negro, e como Rasta,
Viveu para seu povo.
E, como Negro, e como Rasta,
Quase deixam-no morrer num corredor de hospital público.
Mas lá estavam seres humanos da envergadura de Paulo James e Lu Cachoeira.
Que deram ao epílogo do nosso mestre um resquício de dignidade.
E, pasmem!, sorrimos ao vê-lo entrando numa UTI.
Deixei para chorar em casa.
Não tínhamos quase esperança,
Mas vimos nosso homem tomado banho, num leito limpo e cercado de cuidados.
No mais, a vida segue.
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Com Saudade, Admiração e Lágrimas nos Olhos,
Nelson Maca

Um comentário:

Blequimobiu disse...

São realmente fortes os que morrem cedo, os que usam sua energia para anos em um dia, os que cumprem sua missão antes do tempo, espero ter cumprido a minha antes dos 50, espero ter um plano de saúde pra tomar uma boa dose de morfina e ir na lombra ao outro lado da vitória.