sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Nelson Maca Local

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Nelson Maca: Antes de Global, Local!


Antes mesmo de ser, eu, Nelson Maca, não sou mais da Global! (rsrsrs)


Outro dia, o Eleilson Leite, da Ação Educativa e articulador da Coleção Literatura Periférica da Global, mandou-me
um e-mail, dizendo que devido à minha exigência de sair publicado ainda este ano, e com a impossibilidade de a Global Editora atender minha demanda-exigência, eu ficava livre para publicar meu livro, Gramática da Ira, aqui mesmo em Salvador ou por outra editora.

Nunca me senti tão poderoso, uma das maiores editoras do Brasil não tem condições de botar meu livro na rua tão rapidamente!

Fiquei aqui pensando como é difícil enquadrar-me em qualquer sistema estranho a mim; principalmente quando sei que sou um Exu problemático convicto!
Na verdade, os sistemas são contra mim; e eu contra eles, lógico! (rsrsrs)
No fundo mesmo, comecei a me sentir como negociado num mercado adverso.
Alguma coisa daquele passado que não quer nos anbandonar vinha cutucando meu sono....
Eu era, na real, não um homem-escritor, mas um livro-mercadoria.

Um livro pronto, já organizado e digitado.
Menos de cem páginas em Times New Roman, fonte 12, espaço entre-linhas 1,5...

Além de, poeticamente, elogiado em vários momentos do processo inacabado.

Mas, realmente, eu poderia quebrar as finanças da editora!
Sim, a primeira previsão, era lançá-lo no início de 2008.
Quem tava no Sarau da Cooperifa da ocasião do lançamento do livro "Suburbano Convicto: Pelas Periferias do Brasil", organizado pelo Alessandro Buzo, deve ter ouvido o anúncio em viva-voz, do próprio Eleilson Leite, que eu e o Irmão GOG éramos as mais novas “aquisições” da coleção Literatura Periférica!

Então, pensamos, inicialmente, em lançar o Gramática da Ira no início de 2008.
Depois, passou-se para junho; então fixou-se a data para agosto, na Bienal de São Paulo; uma nova possibilidade foi Dezembro e, enfim, 2009...

Foi quando falei:
- Pra mim, deu... ou lançamos ainda na segunda metade de 2008, ou vou caminhar com outras pernas..
Cá estou...
Por enquanto, sem as outras pernas! (rsrsrs)

Acabei virando, na realidade, a primeira dispensa da coleção mesmo antes de assinar o contrato (rsrsrs).

Ainda bem que nunca tive e continuo não tendo pressa, pois a literatura, para mim, tornou-se bem mais que folhas impressas em formato elegante.

A vontade-vaidade de ver meu nome globalmente estampado na capa do livro por aí lembrou-me, desde o início, o capítulo “Emplasto” de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
O herói machadiano, no fundo, se interessava mais na publicidade de seu nome estampado no rótulo do frasco que na possibilidade de cura do remédio que tentara inventar.
Sede de nomeada, como diz ele!
Mas sempre li essas páginas num misto de riso e desespero, pois é tão verossímil que me faz sentir certo desânimo de ser escritor na vida social miserável que herdamos.

Mas... sei que ainda consigo relativizar o Brás Cubas que me habita, desfocando um pouco o rótulo e perseguindo, com sinceridade, não a cura, mas a possibilidade de incitar inquietação e rebelião com minha poética que não deixa de ser também minha droga.

Realmente, não posso esperar muito de um pré-contrato oficial que, dentro da lógica do mercado, me garante 8% do valor da capa do livro e promete me adiantar R$ 2.000,00 de advance, a ser descontado nas vendas futuras do livro.

Ainda assim, depois da primeira conversa, a presidencial, só tenho notícias através do mediador, e começa a fase de limagem: questiona ou veta-se os nomes escolhidos para escrever orelha e apresentação, esquece-se da promessa de uma discussão mais profunda acerca do estudo da capa original, esquece-se do compromisso de manter as ilustrações do projeto, etc e etc.

De fato, não dá para pensar em ganhar dinheiro com poesia.
Porém, negada a integridade da obra...
adiada, reiteradamente, baseado nas demandas do patrão, a publicação efetiva do livro...

- O que me resta?

A literatura que faço é uma coisa tão íntima e pessoal e, ao mesmo tempo, tão coletiva e engajada nas minhas lutas sociais, que o simples fato de ter que entregar meus originais a alguém estranho, para uma publicação comercial, dói-me profundamente.

- Resta-me escrever ainda mais!

Não o nego, quero sim publicar meus textos em livro, com bom tratamento gráfico, para toda e qualquer pessoa que me queira ler por motivo qualquer que seja!
Mas toda e qualquer publicação possível será sempre uma agressão para mim, mesmo independente!

- Pois é, gente...
Tô aqui tão triste que vocês nem imaginam. (rsrsrs)

Enfim, resta desejar aos parceiros que ficam toda sorte na empreitada, e afirmar, com toda sinceridade, que tudo o que digo, aqui, trata única e exclusivamente de minha relação com a Global Editora a respeito da publicação do livro Gramática da Ira, mediada por Eleilson Leite, que, no fim das contas, não fez mais do que me apresentar e, depois, seguir estritamente as orientações do editor, não sei se por convicção, impotência ou por subordinação trabalhista.

A todos os escritores que já publicaram na Coleção, todo meu respeito e admiração.
Já li seus respectivos livros e sei do merecimento literário de cada um:
Alan da Rosa, Alessandro Buzo, Sacolinha, Sérgio Vaz.

Aos que estão por vir, toda sorte que não tive!

No mais, tô aí, para o que der e vier, porém mais LOCAL que nunca!


Nelson Maca - Blackitude Ba


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13 comentários:

Anônimo disse...

Maca,

O local não te faz global
se tua literatura é universal.
Como sei disso?
Te admirando aqui do meu local.

Tamo junto!

Abs.

Sérgio Vaz
Blackitude-SP

Anônimo disse...

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É isso aí, poeta!
Tamo junto mesmo!
É tudo nosso!

Nelson Maca - Cooperifa.Ba

Anônimo disse...

Puxa mano, que fita essa, mas firmeza, sem alimenta conversa nóis queremos mesmo ler o Gramatica da Ira, com certeza, num deixe de publicar, certo! e o mais importante, do seu jeito blacktitude de ser.

Michel

Anônimo disse...

Com certeza, Michel!
Pessoas como você nos fortalecem!
Fique tranquilo que o livro vai sair!
Do nosso jeito, do jeto da Blackitude como vocêr diz!
O que a poesia une, ninguém sapara!

Juntos!

Blackitude + Elo-da-Corrente!

Nelson Maca

Marcus Gusmão disse...

Caro Nelson,
Pelo que li no conto Morcego, pelo que leio aqui, quem perde é a Global.
grande abraço.

Anônimo disse...

Valeu Marcus!
Tô tentando sobreviver com lógica!
Há posturas na vida que se tornam traço de nossa personalidade inquieta!
Obrigado pelas palavras!

Nelson Maca

r.c. disse...

Nelson Maca,

Cada vez mais sou teu fã, nêgo.
Seu texto é elucidativo para quem está caminhando ou chegando na pegada literária. É um alerta pra gente se ligar quando se trata do "deus-demônio-mercado", não deixar que ele nos engula como faz com qualquer outra mercadoria.
Parabéns pela clareza, firmeza e sinceridade das palavras. E não desanime, estamos ansiosos aguardando a publicação do seu livro. E depois da experiência-vivência maravilhosa que tive ao criar o meu pela tão respeitada-respeitosa edições Toró, em que pude opinar, debater, dialogar sobre tudo, da fonte as fotos, das ilustras a capa, é algo que digo: faça, mas faça com calma, paciência, tranquilo. Nossos filhos tem que sair bem acabados, bonitos. Da nossa cara.
É isso nêgo.
Grande Abraço,

Rodrigo Ciríaco

Anônimo disse...

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É isso Rodrigo Ciríaco.

Que legal seu comentário, irmão!
Você captou exatamente o sentido e objetivo político de meu texto, além de perceber, inclsusive de experiência própria, nossos livros como nossos filhos. Nossa subjetividade permanente!

Publicar pela Global Editora, com certeza, é uma vitória para cada um dos nossos que publicaram, como seria também para mim.

Não sei como foi para eles...
Porém, no meu caso, aceitar todas as demandas do "patrão" pesou demais.

Não digo, categoricamente, que eles são os demônios e estão, em tudo, errados, mas, realmente, a lógica capiltalista ainda me fere as convicções e dói de verdade na boca do estômago. Mas não acho que o remédio entrará pelo bolso. No meu, não!

Mais de uma vez, ouvi do Eleilson Leite que eu estava "vendendo" meus textos, mas que o livro em si, o produto material final, seria propriedade da editora.

O mais grave não é ter que ouvir e entender esta verdade, pois sempre soube que é assim...
O mais louco é vivê-la por dentro.

Uma cruel verdade!

Vazar, a tempo, foi mais lógico, e ainda me dá um certo tom heróico de resistência; e que eu gosto!

No mais, é aplaudir as experiências de publicação, independentes ou não, que respeitam, acima de tudo com elegância, os escritores enquanto produtores de conhecimento e provocadores de posturas com arte e diversão!

Valeu!

Nelson Maca - do Local

Sílvio Oliveira disse...

É, meu irmão, também sinto pela global e, sinceramente, restritos em "locais" estão eles, pois você, do seu local, é interessante para muita gente no mundo todo. É claro que isso não invalida o espaço conquistado por nossos poetas. Mas acho que, por vários motivos outros, devemos procurar caminhos alternativos para dialogar e publicar. Alternativos, e não excluídos. Seu texto não rima com vaidade, apesar de que um pouco dela sempre precisamos. Seu texto expressa vera necessidade da palavra conjugada a ação. Isto que ocorreu não foi perda, é mais maturidade. Grande abraço, Sílvio Oliveira.

Anônimo disse...

Salve Silvio,
cara, vindo de você esas palavras, só tenho a me fortalecer mais ainda!
Vocês, que estão se manifestando, aqui, só me dão mais convicção da necessidade que temos de dizer alguns nãos!
"Até formar um nome;
até formar um homem".
Digo que vocês me fortalecem porque são pessoas que tenho conhecido através do ofício da palavra em liberdade.
Da plavra conjugada à ação - bem lembrado por você, Irmão Silvio!
Com certeza, já estamos contruindo nossas alternativas, mesmo quando dentro de editoras de outrém!
Esses Irmãos todos que comentaram aí em cima fazem parte dessa nossa fauna sempre em busca do equilíbrio ecológico!
Nós, por nós, continuamos esquentando o Aquecimento Global... pelo afeto, pela determinação e pela cumplicidade!

Nelson Maca - Do Local

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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Sílvio Oliveira disse...

Maca, não vou perder a oportunidade de te convidar a ler a notícia sobre o Ponto da mangueira publicada hoje em www.troplof.blogspot.com
Sua opinião me importa. Afora isso, você e Gog são sujeitos presentes nos ensinamentos, aprendizagens e memórias lá de Alagoinhas. Saudações.