segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Só para os Malucos

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Que tudo o mais vá pro inferno!!


Não foi sem perplexidade que ouvi um africano velho de cachimbo incandecente, dizendo para as pedras do caminho que não invejassem os homens.

Elas estavam, desde sempre, livres, desde toda a eternidade humana, de sujeição ao objeto maior em que se inscreve o poder, ou seja, a linguagem: tanto seus decretos certeiros quanto seus papos-furados.

Segundo o ancião alucinado anunciava, mais precisamente o mal é uma língua afiada, rasgando as orelhas dos que se acreditam bem aventurados.
Uma faca, sangrando a descomunicação planejada, para o molho pardo do sucesso das retóricas que convergem.

Fingi-me de pedra e fiquei ali, imóvel, como sem sangue para o caldo dos eruditos, escutando como seria complexa e inatingível a minha liberdade verborrágica.

O coroa, doidão, foi mais longe, revelando, à sua maneira ancestral, que os vazios imperceptíveis da língua formam o mecanismo que não nos permite, mas sim nos obriga a dizer.

Quando já visualizava meus anseios de liberdade perdendo a força, o ancião pegou-me na sua mão esquerda calejada, num afago que delatou minha frieza de pedra mentirosa.
Olhando para o fundo de minha superficie lisa de mineral raso de tão ordinário, falou-me, ao ouvido, do bom jogo da trapaça saudável como única possibilidade de sustentar a utopia da liberdade que eu, novamente, buscava.

E me apontou, na divergência do código arbitrário, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem.

Depois me atirou, certeiro, no peito do pombo besta que, alheio, mariscava descaminhos de bico aberto e ouvidos cerrados!
Sujei-me de sangue!

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A literatura divergente, finalmente compreendi, reafirma esse trânsito em direção à elaboração dos interstícios, do infiltramento nos brancos da forma estabelecida.
Corrói a rede cristalina da língua reta da beleza oficial justamente nas trincas de sua fadiga, manchando-lhe a página.

O vigor maior das forças da liberdade que diverge não se localiza na orientação política do escritor, sei bem. Esse é um ser humano entre outros.

A utopia da liberdade reside no tecido textual, na carne do verbo, no trabalho de subversão na linguagem.
No verme essencial que rumina os modelos.
Fazer literatura revolucionária não se trata de tematizar a revolução, mas sim escrever de maneira revolucionária.
Agora eu sei de fato.

Agora não sei mais se quero, mesmo, interlocuções inteligentes; ou se me eternizo pedra suja, para ter o inequívoco e milenar direito de ouvir velhos poetas em transe de oralidade africana, babando versos alucinados sobre o cano do cachimbo que equilibra a brasa incandecente de seus vaticínios endiambrados!

Enquanto aguardo a solidificação do tempo que nos dá a dureza final, curto meu banzo sentado à beira do caminho!
Respiro so sangue seco do pombo alheio!

"Nada como um dia atrás do outro", sempre diz a minha mãe!

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- E tudo o mais?
- Que tudo o mais vá pro inferno!!

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Nelson Maca - Exu Restaurado!

Hoje, só para para os Malucos!!

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- E os saudáveis?
- Esses já conquitaram o céu, não conquistaram?

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rsrsrsrrsrsrsrrsrrsrsrsrs

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