sexta-feira, 22 de maio de 2009

Carta ao Poeta!

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Ôpa GOG, como vai, parceiro?

Passados os primeiros dias do lançamento, repito-lhe, sinceramente, as impressões que me trazem Cartão Postal Bomba, teu primeiro e efetivo DVD.

Gosto muito do resultado!

Não só gosto como sinto-me, realmente, meio cúmplice de tudo que vejo. Claro que não quero aqui assinar nada: artístico nem logístico. Mas sinto-me também responsável porque este trabalho foi gerado no ventre de nossa aproximação política, poética e afetiva.

Sinto-me responsável porque reconheço, em parte de tuas inquietações e buscas, também uma parte de minhas inquietações e buscas. Desde o início deste processo, emano minhas Positive Vibrations para este sucesso em curso…

Tuas vitórias também são as minhas vitórias, Irmão!

Vi apropriado lá, nos interlúdios que teus sóbrios comentários que dão ritmo e significação maior à grande celebração que sustentam a coluna do DVD, minha “Guerra Preta… Estratégia Quilombola”. Gosto de ver minha expressão poética citada por você quando mantém a Negritude Bélica que a determinou originalmente. Você mantém a provocação efetiva e o acirramento do conflito saudável ao nosso crescimento - de nós, negros.

Sinceramente, mesmo algumas letras tuas já tocando no assunto antes, percebo a demanda racial mais presente e articulada do CD Aviso às Gerações pra cá. Quanto mais espontaneidade você apresenta no tratamento do tema, nos identificamos mais, com certeza! Questão não só de gosto, mas também enquadramento.

No DVD, você colocou bem a questão do binômio Raça x Classe Social, sem receio de se posicionar! Sem a síntese mítica tão ao gosto da tradição confortável do pensamento “cordial-mestiço” brasileiro. Você assume que cada problema é um problema que precisa ser enfrentado a partir de suas especificidades. Riqueza não apaga melanina como muitos humanistas universalistas pregam... ora com ora sem maldade! Também a cor da pele preta não nos redime de nossas pisadas na bola... na rua ou em família!

Tenho assistido o Cartão Postal Bomba inteiro ou em partes. Como da primeira vez, vago entre a sala da televisão e a cozinha, entre imagens desconcertantes, sons redondos, pensamentos centrados e cafés fortes. Gosto mais de ver quando estou sozinho. Ligo o DVD assim que a casa se acalma.

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GOG, sem dúvida, teu DVD lança novos paradigmas de produção estética para o hip hop nacional. Tua produção é de um cuidado modelar, tanto para os que rasgam elogios (como eu), como para os que comentam comedidamente... ou aqueles que se silenciam por vários motivos, entre eles ter outras opções estéticas válidas, outros gostos, ou, simplesmnete, para não dar Ibop, abafar o caso.

Eu gosto mesmo: tudo bem sincronizado: áudio e imagens, boca e voz. Câmeras alternando pontos de vista, ângulos. Edição deslocando-se entre cores vivas, preto e branco e sépia.
Imagens alucinantes das ruas da cidade, de outras cidades, países. Animações, negativos, letreiros em movimento. Música e mais música. Participações perfeitas. Presença de dois Reis da música preta. Banda MBP Black com presença orgânica-harmônica em tudo!

Em tudo, muita emoção, nas músicas e nas pessoas: flow e feeeling!

Algumas passagens marcantes:

1- Dona Sebatiana ali, falando bem. Com saúde, para ver tudo! Lembrei-me dela no hospital; você virando ela na cama; conversando como se ela estivesse na mais perfeita saúde.

2- Segunda sequência de GOG empurrando e dançando em câmera lenta atrás da cadeira de rodas do incrível Paulo Diniz. Uma voz de ancestral! Você parecia um menino discípulo em êxtase pela presença do mestre em vida ao lado. Lembrei-me imediatamente do dia que encontramos ele aqui na Bahia Preta. Primeira coisa que me veio à cabeça, tipo vingança do tempo: levar um DVD para aquele empresário que tentou impedir que falássemos com o Paulo Diniz no hotel.

3- Isaias cantando Assassinos Sociais – o cara canta muito e entrou arrebentando a porta do peito, do coração, não, entrou suavemente forte no espírito da música. Muito bom!

4- Rapadura e Lindomar em Periferia tem Talento. Lindo demais! Lindomar uma voz massa e um sotaque desconcertante - primordial para contrastar em equilíbrio com o virtuosismo de Rapadura. Química perfeita. Quando os dois revezam o mesmo microfone, viiixe, gritei de empolgação como se estivesse acontecendo ao vivo na minha pequena sala!

Apenas quis citar aqui algumas das passagens que me tocaram acima da minha média geral de expectativa contemplada!

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Poeta, parabéns pelo resultado!

E obrigado por dar este presente aos que não somente gostam do Rap, mas que acreditam e apostam nele como instrumento de transformação e boa música ao mesmo tempo e sem hierarquia!

Com Respeito,
Nelson Maca –
do QG da Revolução
Permanentemente em Guerra Preta... Estratégia Quilombola!

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Um comentário:

r.c. disse...

Mano,
Enquanto leio o seu blog, estou ouvindo novamente o DVD, exatamente na música Assassinos Sociais.
O Isaías quebrou tudo também.
Eu já nem sei quantas vezes já ouvi e vi este DVD. Algumas vezes em partes, outras inteiros.
E não canso. Quando crescer, quero ser como o GOG. E como ti.
Grande abraço de um aprendiz,
Ciríaco