Hip hop x Poder Público:
Enquadrando a rebeldia ou fortificando a obediência?
“Projetos” envolvendo governos oficiais, artistas e ativistas do hip hop me deixam sempre com a pulga atrás da orelha. Vivo o problema por dentro, pois a Blackitude também tem dialogado com eles.
Geralmente, jovens são contratados para realizar performances, trabalhos..., recebendo estrutura, material, remuneração, etc. Porém não têm autonomia para determinar locais, estabelecer horários, escolher temas, exigir valores.
Tudo parte sempre de um pacote “democrático” que já vem pronto.
O principal intuito dessas "parcerias", segundo as belas falas dos "especialistas em juventude, principalmente negra", que "assessoram" e "intermediam" o poder público é a busca de socialização e incentivo à juventude carente, como salvar da criminalidadae, afastardas drogas, etc e muita xurumela!
Historicamente, "eles" se aproximam, principalmente, de linguagens e atividades emergentes, que crescem com tendências mais rebeldes – e mais perigosos se tornam quanto mais independentes permanecem.
No hip hop, essas "amizades" já não são novidade também, pois, há um bom tempo, artistas, grupos e coletivos de hip hop participam, oficialmente, das comemorações, propagandas, campanhas, conselhos, etc.
O grande sonho de grande parte dos “ativistas” são as tais “Casas do Hip hop”.
Então...
Mesmo rapidamente, é preciso incentivar a polêmica, colocando-a na perspectiva das motivações dos dois lados dessa moeda: o poder e o povo (governantes de um lado, ativistas e artistas do outro).
Antes de mais nada, tais iniciativas geram “renda”, embora, quase nunca, garantam às condições estabelecidas nos contratos nem obedeçam uma pauta trabalhista. Com certeza, a possibilidade de remuneração, mesmo arbitrária e injusta, é o maior “incentivo” na hora de estabelecer certas parcerias. Quem não quer “trabalhar”, ter “salário“ e, ao mesmo tempo, estar fazendo uma coisa que “ama”? Como se sabe: há os que vivem para isso e os que vivem disso. Difícil, a princípio, é perceber as diferenças a olho nu!
Falo aí, sempre por nós, apenas, de renda, não de ideologia e estética.
Nesse sentido, penso que os opositores que afirmam que os jovens estão se equivocando ao participar de tais projetos devem apontar possibilidades que tragam renda sem que eles precisem se enquadrar em exigências alheias à negociação de sua arte.
Eu, por exemplo, preciso dar respostas e apontar alternativas, pois minhas desconfianças são eternas!
Já declarei, publicamente, para matérias da grande imprensa, que vejo como até incoerente esta aproximação. O hip hop nasceu das contradições de nossa realidadade. Fazer hip hop dentro do sistema vigente é o nosso maior contra-senso.
Olhe bem: “nosso”!
Não me boto fora deste paradoxo!
Para mim, ideal e politicamente, o contexto vital para a rebedia social e a transgressão artística das linguagens e ações do hip hop ainda são as ruas, praças, pátios, mantendo sua característica social peculiar: o enfrentament0.
Julgo muito difícil conciliar, harmoniosamente, rebeldia com política partidária sem perdas efetivas para o hip hop - Sempre!
Nelson Maca - Acima de tudo, refletindo-se!!
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3 comentários:
"quem era tijolo hoje é vidraça" contra-fluxo
penso que a essência continua a mesma, pra quem continua no mesmo habitat, como você falou na rua, com os da rua, mas também outro grande pensador perguntou "que tal rua é esta?"
mais que reflexões o público hoje quer reflexos.
"fortaleço a fortaleza que me guarda" versu2
ontem pude comprovar no show da Versu2 no Boca do Rap que uma nova proposta é possível sim, e mas que nunca ser original é ter origem, é ter a base para estar no topo, é isto!
"quem é de verdade sabe quem é de mentira..." M.S.S
A dialética africana é a do conflito! Que bom!!
Nelson Maca
nós! sempre! guerreiro!
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