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Parte 1: Movimento ou Cultura hip hop?
Além da complexidade de se pensar uma cultura jovem em processo, falar do hip hop traz logo uma problemática conceitual, que é a tentativa de definir limites entre cultura e movimento hip hop. Fazer distinções ou aproximações entre os conceitos, irremediavelmente, envolve tanto uma postura ideológica como juízos estéticos.
Do que tenho lido, refletido e praticado, vejo a cultura hip hop como construção de comunidades marginalizadas socialmente que teve seu formato, digamos, “tradicional”, nos guetos negros americanos, principalmente no bairro do Bronx, a partir da convivência entre jovens afro-americanos, jamaicanos e de países da América Latina, todos desprezados pelo sistema sócio-racial norte-americano.
O hip hop nasce da experiência cotidiana, artística ou social dessas comunidades, centrando-se na articulação de linguagens das artes plásticas, dança e música. São os falados quatro elementos: o breaking, o graffiti, o dj e o mc. Os dois últimos são responsáveis pelas linguagens do hip hop que mais têm se adequado às exigências da indústria da música e do entretenimento, enquanto as demais, embora expandidas e mundializadas, mantêm vínculos mais efetivos com o underground.
A junção desses quatro elementos num todo organicamente estabelecido através das práticas cotidianas forma o lastro da chamada cultura hip hop. Esta, embora com gênese estabelecida conforme disse acima, tornou-se um patrimônio de todos, estendendo-se desde os EUA até países de realidades sócio-políticas e culturais tão distintas como a Austrália, Índia, Angola, Japão, Palestina, Alemanha e Cuba. E também praticada, admirada ou cultuada pelas diversas realidades de classe, raça ou gênero, seja pobre, rico ou miserável; livre ou encarcerado, preto, branco, amarelo ou vermelho, homem ou mulher.
O hip hop também é compreendido como movimento a partir do momento que promove articulações estéticas e críticas no campo artístico, social e político. Seja como fruição estética ou discurso engajado. Há uma linha de pensamento corrente no âmbito dos adeptos da cultura que estabelece como condição obrigatória, para que a experiência coletiva do hip hop seja aceita como movimento, a presença de um quinto elemento, a responsabilidade social, chamado genericamente de trabalho social. Quando os ativistas do hip hop, além de respeitar a articulação complementar dos quatro elementos artísticos em suas ações, mantêm compromisso com ou idênticos aos dos movimentos sociais, buscando colocar seus corpos, experiências, expressões e práticas, individuais ou coletivas, a serviço de transformações sociais de base comunitária.
Já pensei diferente, mas , hoje, assumo o conceito que estabelece os 4 elementos. Comungo com concepções como a do GOG que entendem o "5º elemento" não como algo específico e individualizado, porém como algo transversal, que deve funcionar como combustíivel, dando vigor e oxigenando os demais.
Outro comportamento que percebo como definidora do ativista social integrado no movimento hip hop é um sentido de “pertencimento”. Isso estabelece uma identidade que pode ou não ser fator de integração do indivíduo no movimento. Por aí, justifica-se os conflitos que atingem, por exemplo, certos rappers de carreira comercial, de camadas sociais abastadas ou sem a presença da negritude. O mesmo se aplica para os dançarinos de break, b.boys, grafiteiros ou djs que não se integram em coletivos ou não são aceitos na cena pelos mesmos motivos apontados acima e outros tantos mais. (Continua)
Semana que vem:
Parte II: A “Posse” como forma de agrupamento
Nelson Maca - Blackitude.Ba
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