quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ENTREVISTA / Fábio Mandingo

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ENTREVISTA/ Fábio Mandingo

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Autor de Salvador Negro Rancor (contos)


Fábio Mandingo está relançando seu livro de contos Salvador Negro Rancor. Trata-se de uma versão ampliada do livro que publicou numa versão artesanal bem cuidada com a arte*risco. Quem vê esse sempre quieto, centrado e aparentemente tranquilo não imagina o que se passa em suas ideias avançadas e muito menos sua importância para a história cultural divergente da Bahia. Conheci o Fábio há algum tempo atrás ainda no auge do Quilombo Cecília. Não sei se ele me conhecia então, mas o que seu coletivo representava para a cena cultural de Salvador seria difícil eu não ter notícias concretas - por sua importância, principalmente no enfrentamento natural a um estereótipo de baianidade que congela, reduz ou simplesmente apaga a diversidade africana local. De lá para cá, muitas águas rolaram. Fomos nos conhecendo mais, e reciprocamente, o que só aumentou a amizade e credibilidade de um para com o outro. Passando pela experiência do Punk, morando algum tempo na rua e vivendo outras experiências radicais, Fábio acumulou uma carga considerável de informações e vivências do que chamamos cultura da RUA. Tudo isso, somado à sua formação acadêmica, principalmente enquanto historiador focado nas vivências - local e mundial - da Negritude, estabelece nesse irmão uma voz única, forte e convincente no tratamento de nossas demandas pelo viés que nos intreressa . Isso tudo está bem colocado ideológica, política e esteticamente no livro Salvador Negro Rancor, que é composto de contos que tematizam o cotidiano da cidade, com certeza, seu principal personagem. E é sobre suas vivências, leituras, palestras e, logicamente, sobre seu livro que passamos, agora, a trocar ideias com esse cara muito massa: Fábio Nascimento, o Fábio Mandingo... ou simplesmente Mandingo... ou então Mendigo... ou ...

Nelson Maca
Poeta Exu Encruzilhador de Caminhos

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Nelson Maca - De vital importância para saúde mental da cultura rebelde local, o Quilombo Cecília faz parte da história recente da cultura divergente na Bahia. Aliás, é uma história que precisa ser conhecida dos que dizem que fazem produção cultural na cidade. Você pode falar um pouco da gênese e atuação do Quilombo Cecília?

Fábio Mandingo - O Quilombo Cecília é uma história!!! A gente acreditava na possiblidade de juntar os nossos (daquela época) ideais anarquistas à nossa realidade de descendente de africanos, ou seja, realizar atividades que tivessem ao mesmo tempo caráter autogestionário e caráter afro-brasileiro. Felizmente, o processo de trabalho nos mostrou que não é possível conduzir a luta e organização da comunidade negra, partindo de nenhum “ismo” europeu, seja anarquismo, marxismo, capitalismo, e sim que temos que consolidar (conhecer, estudar, pesquisar, adaptar) vias próprias de construção e transformação social. Isso causou um certo mau estar entre as pessoas envolvidas no processo inicial do Quilombo, que logo assumiu uma postura exclusivamente afrocentrada. Então foram dez anos atuando enquanto biblioteca comunitária, realizando eventos musicais, saraus poéticos, grupos de estudos, mostras de vídeos, palestras, encontros, cooperativas de panificação e moda afro, rodas e aulas de capoeira angola, lançamentos de livros, jornais e revistas, shows de Rap, Reggae e Rock, cursos os mais diversos, de línguas, teatro, etc..., numa época em que Salvador atravessava uma carência de espaços culturais e atividades com esse caráter. Então o Quilombo acabou por se tornar uma grande referência de cultura alternativa e afrocentrada na cidade, pra uma galera jovem que hoje é quem está movimentando a cultura local. Eu penso em logo mais estar construindo algum material que resuma os dez anos de existência do Quilombo. Por enquanto, tem um pouco no www.quilombo37.blogspot.com

Nelson Maca - Você se considera um cidadão do Bairro do Pelourinho? Comente um pouco desse espaço social tão paradigmático no imaginário coletivo baiano, pro bem e pro mal (rsrs)?

Fábio Mandingo - Meu pai morava no Pelourinho, e minha mãe trabalhava lá. Filho de mãe solteira é dureza, eu morei em Periperi, Ribeira, São Caetano, Beiru, Liberdade, mas o Pelourinho sempre foi referência, já que a gente sempre estava na casa de meu pai, ou no trabalho de minha mãe. Uma vez, entrevistando o Mestre Lua Rasta pra uma revista do Quilombo, ele disse que era “ um menino criado com vó, que a rua chamou”. Eu acho que vou assim, rsrsr. O Pelourinho era pra mim o contraponto das realidades vividas em família e nos bairros, porque no Pelourinho tudo acontecia, tudo existia, tudo podia, tudo era exposto, todas as hipocrisias caíam por terra diante da realidade daqui. Eu vivenciei criança o Pelourinho brega, mangue, depois o Pelourinho em reforma, com a expulsão da comunidade, o Pelourinho reformado e agora o Pelourinho em decomposição. É coisa que cabe em MUITOS livros. De todo modo, acho que o bairro era mais comunidade antes da reforma. Uma comunidade louca, mas uma comunidade. O fato é que todo mundo que mora aqui sabe que o Pelourinho é um lugar pesado, é um lugar de tristeza, de maldade, de sofrimento, onde muita gente sofreu e que toda gente com sensibilidade sente isso. Isso convivendo com uma comunidade altamente criativa, bela e resistente. O belo e o criativo aqui convivem e dialogam com a miséria e a violência. Isso é louco, viver em resistência é um exercício que ás vezes cansa e que vai derrubando muita gente pelo caminho. Eu vivenciei muita coisa impressionantemente bonita aqui, mas também vi muita coisa feia. Isso foi importante pra minha formação e eu me sinto muito à vontade aqui.

Nelson Maca - Em quase tudo que você faz, de alguma forma, a capoeira está presente. O que representa, política e simbolicamente, a capoeira em sua vida?

Fábio Mandingo - Seguindo a resposta do Pelô, minha “criação” foi muito louca. Em verdade, enquanto os pais de nossos amigos iam buscar eles nas ruas, eu e meus irmãos é que íamos buscar nossa mãe nos botecos, nos bares, nas serestas, rsrsrs, então a gente ia se criando, descobrindo as coisas do mundo, e isso é realmente perigoso. Depois veio o movimento Punk, que me ensinou muita coisa, mas que também foi um aprendizado fragmentado, muitas vezes incoerente. O que eu chamo de minha verdadeira educação enquanto homem negro afroconsciente foi na Capoeira Angola, com o Mestre Jogo de Dentro, e no Candomblé, Com minha Mãe Marlene Rodrigues. Foi onde eu aprendi a me direcionar, me disciplinar , me fundamentar e me centralizar. Então hoje eu posso te dizer que eu vejo o mundo através da Capoeira e do Axé, e isso é o que eu sou.

Nelson Maca - Falando francamente, quem faz a cultura das ruas da cidade hoje a seu ver?

Fábio Mandingo - Bom, a gente está vivendo o momento da cultura de rua, ocupar espaços nunca antes ocupados, sendo usada, em alguns casos, mas também ocupando, invadindo, conquistando, e isso é muito bom. Se a gente concordar que a cultura das ruas não é necessariamente a cultura nas ruas posso dizer que o Blackitude, o povo dos saraus, o Reaja, o povo do Hip Hop, o povo da Capoeira, o povo que tá chegando nas universidades e que já traz o discurso da rua pra o ambiente acadêmico, tem muita coisa boa sendo feita em Salvador, e melhor, a gente tá começando a se dar o respeito e o profissionalismo que a gente merece.

Nelson Maca - Consta em sua biografia, experiências “radicais” como morar na rua ou em espaços ocupados. Você pode resenhar para nós um pouco dessa itinerância e as razões profundas que o levaram a tais experiências?

Fábio Mandingo - Nelsão, minha mãe e meu pai, ainda que desde sempre separados, eram pessoas insuportáveis. Num nível realmente doentio e pesado, ainda que hoje eu esteja buscando um reconciliação mental com os dois. Mas eu passei os dias de minha adolescência contando os momentos pra dar o ninja o mais rápido possível. Saí muito cedo de casa e rodei o Brasil todo, chegando mesmo a morar na rua, mas vivenciando isso com muita tranquilidade graças a Deus, a loucura do Pelourinho facilitou muito essa caminhada.

Nelson Maca - Depois de uma longa estrada por movimentos socioculturais de alta contestação, hoje você é historiador graduado e professor de história. Por que essa virada na sua maneira de atuar?

Fábio Mandingo - Professora Maísa Flores me enquadrou num canto e disse: Tome consciência que vc é um homem negro, um pai de família e vamos tratar de conquistar o espaço que é nosso. Quem conhece Dona Maísa, sabe o quanto a negona é contundente e convincente na missão pegar pretos com a cabeça meio na Lua e transformar, ajudar, apoiar. Ela foi muito especial nesse primeiro direcionamento. Também foi muito importante ver o Professor de Literatura da UCSal, Nelson Maca, palestrando pra um monte de doutor branco e dizendo pra uma plateia lotada, que o melhor poeta do Brasil atual, é Mano Brown. Eu disse: rapá, eu quero fazer isso aí também!!!! No mais, as mãos dos Orixás abriram todos os caminhos.

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Nelson Maca - Recentemente, assisti uma palestra muito boa sua sobre a trajetória política de Marcus Garvey. Inclusive colocando em cheque a imagem propagada por parcela do movimento rastafariano. Que face de Garvey você julga imprescindível conhecermos hoje?

Fábio Mandingo - A de afro-empreendedor, que não tinha medo de crescer e nem de conquistar espaço social, político, econômico, cultural e militar.

Nelson Maca - Você tem estudado o pan-africanismo com afinco. A partir de suas reflexões sobre essa bela história de resistências negra, como você percebe a realidade da África e da diáspora hoje? Há esperanças de virada no “jogo social planetário”?

Fábio Mandingo - Isso é complicadíssimo. A gente tem lutado contra forças muito grandes, num combate muito desigual e que chegou a um ponto de desigualdade de forças tremenda. Mais ainda quando a gente sabe que muitas vezes os próprios irmãos e irmãs são agentes da desestruturação do nosso povo. Eu vejo isso de maneira quase religiosa: continuar fazendo o que eu acho certo, por todos os meios necessários e possíveis, vendo cada pequeno resultado e a própria luta, como uma vitória. Mas se a gente analisa o contexto Africano, diaspórico e internacional, as perspectivas são muito tenebrosas. Eu tenho estudado um pouco o processo das independências africanas, e é impressionante como uma movimentação continental daquela nobreza pôde se dissolver de maneira tão radical. Nós somos muito ricos e poderosos pra sermos deixados livres...

Nelson Maca - Quando e como a leitura de tornou presente e contínua em sua vida? Em termos ficcionais em que leituras você tem viajado mais?

Fábio Mandingo - Sempre fui viciado em leitura, do tipo que lê até bula de remédio e isso desde que eu me entendo por gente. Lá em casa podia não ter televisão nem comida, mas livro sempre tinha. A leitura funcionava então como uma saída de emergência da realidade, e quando eu fugia, era pra me esconder nas bibliotecas públicas e passar o dia todo lendo tudo o que chegasse em minhas mãos. Eu sempre gostei de literatura que falasse sobre a rua, li muito os beatnicks, Henry Miller, Bukowski, Pedro Juan Gutierrez, Richard Wright, Jorge Amado, Gabriel Garcia Márquez. Autores que falam dos mundos marginais, obscuros e sem hipocrisias. Recentemente li o Abutre, de Gil Scott-Heron, que me impressionou muito. Toni Morrison tem dois dos livros mais impressionantes que eu já li: Amada e Paraíso, que são quase perfeitos. Tem uma frase de Henry Miller que eu gosto muito, que é: “Só me interessa o que se escreve sobre a rua. O resto é só literatura”.

Ler o livro “O Terreiro e a Cidade” de Muniz Sodré, foi uma experiência extraordinária e importantíssima na minha vida, foi a primeira vez que eu vi um autor dominar completamente as categorias e paradigmas acadêmicos e ao mesmo tempo a essência subjetiva da rua e da forma afrobrasileira de ser e de lidar com esse outro que é a elite normativa. Ler aquilo ali foi o que me despertou a possibilidade de se jogar Capoeira com a filosofia, com a história e com a visão eurocêntrica da literatura.

Nelson Maca - E a escrita literária, como aparece? Desde quando você sentiu que poderia escrever, com começou e o que te deu a convicção que deveria publicar?

Fábio Mandingo - Vem junto com a leitura, eu sempre pensei que poderia escrever. Mas o determinante foi o período do movimento Punk. A ideologia do faça-você-mesmo, que nos levava a acreditar que todos nós poderíamos ser escritores, músicos, atores, e que até mesmo olhava com maus olhos aquele que não produzia nada. Foi um período muito forte da contracultura em Salvador, quando você encontrava bandas, fanzines, pinturas, poesias, em qualquer bairro da cidade, em qualquer subúrbio, E ISSO NOS LEVAVA A PRODUZIR CULTURA. Então venho escrevendo desde essa época, juntando cadernos e mais cadernos. Uns anos atrás, lembro que você me convidou pra participar de uma coletânea de contos sobre o Pelourinho, que terminou não saindo. Depois que eu escrevi o primeiro, percebi que ainda tinha muita coisa pra escrever sobre o Centro Histórico.

Nelson Maca - Pra variar (risos), a primeira versão de Salvador Negro Rancor chegou às ruas através do envolvimento do Robson Veio, que assina o prefácio daquela e da nova edição. Lembro-me do lançamento: hardcore, rap e poesia, tudo junto. Qual foi o impacto daquela primeira versão sobre você e qual o peso positivo do Robson Veio nisso tudo?

Fábio Mandingo - Foi Róbson quem deu a idéia de publicar e que mobilizou todo o processo da primeira edição. Róbson é uma das pessoas mais inquietas que eu conheço e que está sempre se reinventando e não tem medo nem de romper com ele mesmo, nem de lutar pelo que acredita, mesmo que seja a custo de amizades e conveniências. Então você vê o Véio envolvido em tudo o que é de conspiração... e com o livro não foi diferente, mobilizou o Túlio, que diagramou, fez o prefácio, ele foi determinante pra que esse livro se tornasse realidade. Pra mim, foi ao mesmo tempo muito bom, pelo impacto positivo que o livro causou, mas ao mesmo tempo muito frustrante, porque agente não teve condiçõe$$$ pra continuar com a edição e distribuição de um trabalho que tinha muita gente interessada.

Nelson Maca - Agora você lança uma nova versão de Salvador Negro Rancor, com mediação do grande ativista Marciano Ventura, com o selo Ciclo Contínuo, de São Paulo. Como você chegou a esse selo e como tem sido a relação de vocês?

Fábio Mandingo - Marciano também é amigo de longa data, uma pessoa profundamente envolvida com as construções culturais periféricas em São Paulo. Em uma de suas vistas a Salvador, teve contato com a primeira edição do livro. “ Então era isso que você ficava escrevendo em seus cadernos, né?”. Dois meses depois ele pediu pra incluir o lançamento de uma segunda edição ampliada, em um projeto junto à prefeitura de SP. Aí deu tudo certo e o livro foi o segundo a ser publicado pela Cíclo Contínuo nesse projeto. Marciano é parceiro, amigo, família, a relação é de parceria, amizade e irmandade. Extremamente sério e profissional, mas, como ele diz, suave...

Nelson Maca - Não tem como ler o título Salvador Negro Rancor sem nos reportar à exposição Salvador Negro Amor de Sérgio Guerra. Aliás, você e o Sérgio Guerra representam bem uma cidade partida. Marcelino Freire diz que escreve para se vingar! O que você quis exatamente com esse trocadilho que me agrada demais!?

Fábio Mandingo - A exposição foi realmente muito bonita, linda, cheia de nossa beleza, e isso me incomodava tanto, cada vez que eu passava, saber que todo o esforço possível é feito pra destruir essa beleza, que nós não temos os meios pra explorar nossa própria beleza, e que a gente termina sendo sempre objeto das percepções dos outros... Isso é realmente revoltante. Eu vivo cheio de rancor, que é mesmo um sentimento muito doentio, eu sei, mas que é um ódio que vai se acumulando até o momento que estoura. Mas quando estoura faz estrago. Eu preferi soltar esse rancor, multiplicando-o, envenenando, contando outra história. Tem amor também no meu rancor, pra quem souber ver. A gente é obrigado a esconder nosso amor diariamente, e viver deformado de raiva pra sobreviver, então deixa esse amor entre a gente, e vamos liberar o rancor, que é o mais saudável a fazer.

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Nelson Maca - Seu livro traz uma série de contos que tematizam o lado “b” da cidade se comparados aos estereótipos tradicionais da baianidade. Capoeira, carnaval, gringos, etc, aparecem em novos ambientes e abordagens. Com certeza, podemos dizer que a cidade é o seu principal personagem. Que Bahia exatamente você tenta mostrar aos seus leitores? Por quê?

Fábio Mandingo - Eu costumo dizer que a Bahia extrapola todos os estereótipos. Todos os estereótipos construídos sobre Salvador são extremamente reais, intensamente verdadeiros, muito mais do que se pode imaginar de longe, ou a partir de uma visão de fora. Eu acho que a mudança no que eu escrevo é justamente do Lugar de onde parte a VISÃO, que é um lugar totalmente diferenciado da classe que tradicionalmente se ocupou de escrever, pesquisar, cantar e retratar Salvador. É um escrita que parte do povo, de uma perspectiva afropopular e que, portanto. se distancia e entra em choque com a perspectiva tradicional que busca conquistar conforto em relação ao perigo do que é essa “baianidade”. Essa “ baianidade”, que é o modo afrobaiano de viver a vida, é extremamente perigoso pra as pretensões normativas da elite. Por isso, foi feito um esforço tremendo por essa elite, na busca de enquadrar, acomodar, domesticar e simplificar essa realidade. Salvador Negro Rancor é literatura “afrocapoeiristicacandoblecísticamente” centrada. A cidade é a mesma, que encanta e que apavora, mas eu me sinto em Salvador, eu SOU em Salvador.

Nelson Maca - O novo lançamento de Salvador Negro Rancor aconteceu em São Paulo, principalmente num rolê loco pelos saraus periféricos. Como foi sua experiência, circulando os saraus das quebradas de São Paulo na condição de escritor e com seu próprio livro debaixo do braço?

Fábio Mandingo - Foi impressionante, impressionante mesmo chegar naquela cidade e encontrar lá, o que a gente considera como a Bahia: pretos e pretas fazendo batuque, cinema, política, poesia, literatura, bebendo, comendo e celebrando juntos, em todos os cantos da cidade. Até sol fez lá. Conquistando e ocupando os espaços onde o nosso acesso sempre foi dificultado. A diversidade das expressões culturais negras em São Paulo é muito forte, foi muito bom circular nos saraus das 5 Zonas de São Paulo, sendo MUITO bem recebido por todos e todas irmãos e irmãs que se sentem fortalecidos com os que chegam pra somar. Muito bom também pra perceber a extrema precariedade das políticas culturais daqui da Bahia e de Salvador e sentir que chegamos em um momento que precisamos nos posicionar de forma mais contundente a respeito do descaso público do governo e da prefeitura em relação às expressões culturais populares.

Nelson Maca - Finalmente, o lançamento chega em Salvador, onde há uma expectativa considerável em se tratando de um livro independente e contestador. Como está sua expectativa para o lançamento no Sarau Bem Black no dia 19/10/11?

Fábio Mandingo - Rapaz, é mais fácil circular numa cidade estranha, onde vc é franco atirador, rsrsrs. Aqui eu sei que dá um frio na barriga danado, mas pior é na guerra. Espero ver todos os irmãos e irmãs que fazem parte de minha vida e que fazem parte de mais essa conquista. O Sarau tem sido pra mim um espaço de constante refortalecimento. Coincidiu de as últimas vezes em que eu fui, não estar muito bem, e terminei saindo de lá extremamente renovado. O Bem Black é realmente um lugar de fluxo afrocêntrico de alta voltagem, rsrsrs a gente precisa muito disso.

Nelson Maca - Êa, Fábio Mandingo, muito obrigado pela entrevista. Fica aí o espaço para o salve final ou o que desejar.

Fábio Mandingo - Gostaria mesmo de agradecer a todos e todas que tornaram possível a concretização desse trabalho: Exu, Xangô, meu Pai, e todos os Orixás. Róbson Véio e Arterisco, Túlio, Nelson Maca e Blackitude, Marciano e Ciclo Contínuo, Márcio Folha & Elis Regina, Fernanda (que sofreu na revisão dos textos e com a equipe de trabalho batendo na casa de madrugada pra comprar cerveja), Pedrão – Pedro Henrique (responsável pela capa maravilhosa do livro) , Rômulo Paulino, Rubão e André, RECEBA!!! (responsáveis pela hospedagem), o mano lá que fez a arte final que eu não recordo o nome, Ojuoyn e o 211, e os Saraus Perifatividade, Sarau da Brasa, Sarau Elo da Corrente, Sarau do Binho, Suburbano Convicto, e aos irmãos e irmãs que seguraram a onda em SP e os que seguram minha onda aqui em Salvador, em especial, Yá Marlene, Mestre Jogo de Dentro, minha família, Diana Milena e os meus alunos das escolas e da Capoeira. Axé a todos e que nossas lutas se concretizem.!!!

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4 comentários:

Anônimo disse...

fIRMEZA

SALVADOR NEGRO RANCOR É LETRA VIVA

VALEU PELO FORTALECIMENTO MANDINGO

MICHEL ...
SARAU ELO DA CORRENTE

Anônimo disse...

fIRMEZA

SALVADOR NEGRO RANCOR É LETRA VIVA

VALEU PELO FORTALECIMENTO MANDINGO

MICHEL ...
SARAU ELO DA CORRENTE

Lande Onawale disse...

Mandinga de escravo em ânsia de liberdade...assim disse Pastinha -nosso Mestre atemporal - sobre a Capoeira Angola. Relendo o livro de Fábio Mandingo reparo que a definição de Pastinha se estende a todo angoleiro, todo capoeirista, todo negro ou negra numa sociedade racista como a nossa. Mandingar pra viver, Mandingar pra ser livre...Mandingo escreve o que quer. Assim vem a prosa do camará. Gingando. O povo PRETOPOLITANO gritando aos berros e em silêncio. Sofreno e amando assim.
Essa navalha na carne não faz mal. É sangue fundamental.

Não rolou essa fita, mas me sinto sendo curado pela vibração da cena - turbinas ainda aquecidas pela última quarta...Fico na dívida com Mandingo, com o Bem Black. Vamo pra Volta ao Mundo...
Salve, salve parceiros! Êa!
Lande Onawale

Róbson Véio disse...

Comentar o quê? Sou supeito..melhor dizendo réu confesso deste rapaz Fábio Mandigo!!!