quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Lázaro, MC do Opanijé, manda seu recado

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"Não me chame de irmão!"

Ontem um cara que eu admirava muito me disse esa frase com toda a veemência. Não imaginei q fosse ouvir isso de alguém novamente. A última vez que tinha ouvido essa frase foi há anos atrás, quando encontrei uns vizinhos que tinham vindo de um culto evangélico e sabiam q eu estava começando a frequentar o terreiro no qual hoje sou Ogã suspenso (engatinhando ainda...), o Ilê Axé Oxumarê.

Até aí nada de anormal, afinal de contas a maioria das igrejas evangélicas construiu sua história malhando as religiões alheias, principalmente, as de Matriz Africana. Só que o que espantou foi ouvir essa frase de gente de meu convívio, que eu achava que estava pronta pra me defender das "bruxas" que rolam nessa cidade bela e traiçoeira. Gente de movimento negro ou "movimentos negros" ou "que movimenta aos negros", etc e tal... No começo achei engraçado, porque apesar de estar afastado durante algum tempo de movimentações, palestras, debates e afins, eu admiro e apóio (da forma que me é possível) o trabalho q vem sendo feito pelas organizações negras (sérias) dessa cidade. Mas aí me bateu um pensamento:"Como é que eu comecei essa zorra toda mesmo? Ah, sim! foi fazendo rap e me reunindo com uns parceiros numa sede de entidade negra! Que é que tou fazendo aqui? Fora disso tudo, afastado desse convívio, dessas pessoas, dos holofotes que elas trazem consigo e tentando sobreviver numa 'empresa de brancos' como eles mesmos definem?".

Na mesma hora, como um vídeo clip, me passaram pela cabeça centenas de imagens: entre elas a de camarada todo enfeitado de contas, batas e trançados num show de rap na Sussuarana ou no Cabula, (não importa) sem nem se preocupar com quem tava tocando ou não e esperando uma brecha p subir no palco e gritar palavras de ordem, pois estava lá para ser visto e não para ver um bando de pivetes falando em cima de uma batida. Outra de um outro rapaz também cheio de indumentárias "afro" fazendo piadinhas ao passar por uma menina negra que estava de mãos dadas com um cara (mais ou menos) branco , mais uma visão rápida de uma ou outra militante... vamos dizer asim... fora dos padrões da Globo, na mesa de um bar falando sobre a "exploração sexual da mulher nas propagandas de cerveja" e mandando em seguida descer mais uma da mesma marca que trazia uma atriz (vixxx!!!Dentro dos padrões, não só da Globo!!!) Seminua no cartaz. Aliás, marca essa que um mesmo amigo (amigo mesmo!) também se encharcou no carnaval o ano passado gritou p outro: " - Vai beijar sua branca pra lá!", acrescentando mais uma cena estranha nesse meu vídeo clipe.

Por incrível que pareça, compreendo e até apóio (também da forma que me é possível) todas essas atitudes. Afinal de contas (no pescoço, é claro), vejo todos como irmãos se não política, religiosamente com certeza. Mas sei o porque do meu afastamento e sei o porque vivo acompanhado os fatos a uma "distância segura". A gente tenta se equilibrar de tantas formas pra sobreviver, que não dá pra acumular funções nesse circo que amamos e chamamos de cidade. Muitos partilham da minha opinião, outros preferem ser mais radicais e passam sem pensar duas vezes para o outro lado, ou os "outros lados" se preferirem, mas independente disso continuo amando e admirando a atitude daqueles e daquelas que fazem as coisas acontecerem e, mesmo estando nos bastidores, mesmo sem reivindicar as luzes da ribalta pra si, trabalham e trabalham sério para o bem de nosso povo negro já saturado de tantos estereótipos. Quero, mas quero muito mesmo, que nós negros sejamos destaque pelo nosso trabalho, pela nossa criatividade e inteligência que temos de sobra e conquistemos respeito com ou sem holofotes nos cegando, pois os assassinos agem no escuro. São covardes, mas infelizmente guardam uma grande vantagem sobre nós.
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"Eu sou aquele que esnoba sua fama, eu sou aquele que tenta ser diferente. Organização Popular Africana Negros Invertendo o Jogo Excludente." Axé

Opanijé
O que se pode esperar quando se junta RAP, Consciência Negra e os Samplers mais inusitados? Um grupo q não poderia ter outro nome: Opanijé. O grupo de RAP Opanijé (Organização Popular Africana Negros Invertendo o Jogo Excludente) surgiu no final de 2005, tendo como integrantes, Lázaro Erê (voz e letras), Rone Dum-Dum (voz e letras) Dj Chiba D (toca-discos) e Bell Prata (percussão. Com a proposta de fazer um estilo próprio de RAP, com letras que exaltam a cultura negra e a ancestralidade africana, a banda une o que há de mais moderno nas tendências musicais, como: samplers, efeitos e batidas eletrônicas ao que temos de mais tradicional na cultura afro-baiana, como o uso de berimbaus, instrumentos percussivos e cânticos de candomblé, transformando, fé, aprendizado, amizade e consciência em música.

"Não importa o que você pensa. Não importa qual é a sua crença.
Quem sabe a cura, nunca teme a doença." Axé!!

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=1719916

2 comentários:

Blequimobiu disse...

E assim segue o ataque, chega de reações reacionárias!

Liberdade é um conjuto de ações de respeito mutuo ninguém precisa de um frustado querendo levar jovens a seu próprio buraco.

Salve Lázaro!

[tabita] disse...

vida lôca. nossa sociedade é mesmo cheia de muitas contradições. o racismo e a intolerância estão em todos os lugares! um inferno!
mas o caminho é o orgulho mesmo, o orgulho de ser o que se é, e o respeito sempre. e a luta... a organização... a resistência... contra os brancos racistas, sua polícia e seu sistema...
axé!
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