sábado, 1 de dezembro de 2007

Alessandro Buzo: Um Suburbano Convicto

Alessandro Buzo mapeia as quebras do mundaréu
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Alessandro Buzo com o "inquieto" e inseparável Evandro

A vida das guerreiras, o cotidiano dos subúrbios e o vai-e-vem dos improváveis trens que maltratam as comunidades menos favorecidas de São Paulo compõem o universo dos livros que li do antenado e inquieto Alessandro Buzo.
Por culpa do poeta Sérgio Vaz, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a figura simpática e forte do Buzo em dezembro passado, lá no bar Zé Batidão. Ele recebia o II prêmio Cooperifa. Pude, finalmente, apertar sua mão e aplaudi-lo de perto, pois, à distância, venho acompanhando e aplaudindo seus corre através do blog “suburbano convicto” - também título genial de um de seus livros.
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Buzo com seu Prêmio Hutuz 2007 - por Guerreira (novo romance)

Nas duas edições da premiação da Cooperifa, Buzo foi contemplado. Para mim isso é o melhor sinal de que o cara merece nosso respeito. Se tem moral na quebrada dele, nada será forte o bastante para subtraí-lo. Se sua comunidade e cotidiano são a razão de ser de seus escritos, demonstra raiz, não é tronco à deriva.
Por isso deve ser lido, porque é e representa, pois sua carreira, além da busca da elaboração do texto jornalístico e poético, tem sido uma luta em busca de mais respeito e pela melhoria material das populações periféricas. Estejam onde estiver. O quintal é grande e disperso, mas a família é uma. O principal viés de acesso do autor a essa causa tem sido a palavra: escrita, declamada, cantada ou conversada. E ele é bom nisso tudo, seja na condição de autor, editor ou produtor cultural. Na ficção, no relato antropológico ou no mundo do hip hop.
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Buzo com a inseparável mãe do Evandro, Marilda Borges

Adquiri, em suas próprias mãos, três de seus quatro livros publicados: “O trem: contestando a versão oficial”; “Suburbano convicto”; e “Guerreira”. Pedi para que ele autografasse os três na moral... ele o fez. Li tudo num tapa. Não é caô, não. Li os três em uma semana. Leitura rápida e prazerosa. Texto sem proselitismo e sem querer aparentar o que não é. Ou seja: palavras retas, simples, mas com tensão suficiente para seqüestrar o leitor. Que faz rir, se enraivecer e chorar. Minha crítica mais sincera: simplesmente gostei.
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Buzo apresenta o Conduta de Rua e produz o Favela Toma Conta

O que mais me surpreende é sua sinceridade e o despojamento narrativo. “O trem” foi o que mais me tocou. Percebi de maneira aparente seu estilo: objetividade, condução jornalística das crônicas, relatos e críticas que nos coloca in loco. Parece que estamos ouvindo o sambão da sexta, paquerando as meninas, adquirindo produtos dos camelôs, tomando um trago, respirando o aroma forte da erva, ou mesmo nos esquivando das mãos malandras que tentam bafar nosso bonés, relógios, carteiras. São dramáticas as histórias de acidentes, a descrição dos pingentes e dos inacreditáveis remendos de folhas de madeira de segunda linha do chão do trem. E, é claro, suas severas críticas aos órgãos públicos que “organizam” todo o caos relatado.
. Poética Periférica Nata: Buzo, Sérgio Vaz, Dinha e Sacolinha

Os relatos de “Suburbano Convicto” é totalmente familiar para todos que, como nós, respiram o ar suburbano e continuam sujando os sapatos na lama rude dos becos e vielas do mundaréu. Repito o poeta: periferia é periferia em qualquer lugar. Não sei onde começa e onde termina, ou até aonde vai o relato biográfico, mas soa muito sincero esse livro. Bem lido, observado e respeitado, temos aí um verdadeiro documento sobre a realidade do povo humilde.
Alessandro Buzo não precisa título acadêmico para traçar um mapa preciso de parte das mazelas que afligem os jovens das comunidades de baixa renda. Mas também mostra a dignidade e a alegria presentes e possíveis em tais comunidades, e quanta vida pulsa no “lado b” das grandes cidades. Seu lar. Seu lado. Seu Laudo. Seu maior amor. Sua alegria. Sua dor. Seu suor. Sua missão. Sua família.
. Guerreira pela Global: em todo Brasil - Brinque!!!

Em “Guerreira”, Buzo ensaia sua iniciação no romance, traçando a linha de uma personagem típica das metrópoles. Do consumo de drogas pesadas à prisão injusta, do amor sincero à prostituição chic, relata a vida movimentada de uma mulher que vai à luta com todas as armas que a sobrevivência lhe permite. O autor pesa a mão quando o assunto é sexo e drogas, apimentando sua narrativa com passagens eróticas explícitas e toda sorte de vícios e violências que preenchem o submundo; e que botam em contato ou choque os dois “m” extremos da balança social: milionários e miseráveis. O enredo, repleto de peripécias, dá altas guinadas na vida da protagonista, que circula da liberdade à prisão, do homo ao hetero, do lixo ao luxo.
Destaco dois traços em “Guerreira”: a busca de neutralidade no relato e a condução cinematográfica da narrativa. Li o romance, imaginando um filme terrível sobre nossas verdades mais íntimas. Porque Buzo traça um olhar desconcertante sobre o Brasil num realismo de causar náusea aos que idealizam ou mitificam nossa terra como o paraíso ao sul do Equador.
. Suburbano Convicto: um clássico periférico

Como eu disse no início, Alessandro Buzo tem moral na quebrada, e, logicamente, isso tem a ver com seu pertencimento ao ambiente. Isso tem a ver com o respeito pela sua gente. Esse mesmo pertencimento - e respeito mútuo - o coloca num lugar privilegiado para “observar” e relatar o trajeto da sua guerreira. Daí a sua capacidade de narrar uma série de fatos genéricos ao cotidiano de grandes cidades sem correr no risco de um julgamento leviano. Em seus textos jornalísticos e ficcionais todos são humanos. Nem drogada nem prostituída, mas, antes de tudo, sua personagem é observada e representada na sua dimensão mulher possível.
. O trem - livro que consagrou Buzo

Essas são minhas primeiras impressões da leitura deste autor que merece ser lido com mais cuidado. Menos apressadamente. Sua literatura revela um pouco mais de nós que, em muitos casos, nos assustamos com nossa imagem no espelho. Mas, em outros, nunca nos refletimos tão humanos. Nunca fomos tão nós mesmos.
Eu, que cheguei a comprar um livro nas mãos de Plínio Marcos, sei bem da importância da contra-literatura de “O trem”; “Suburbano convicto” e “Guerreira” para minha condição humana.
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Guerreira na versão rua - leia e depois me diga!!


E você, leitor, o que já leu ou está lendo de Alessandro Buzo?

Nelson Maca - Blackitude-BA - Liga Africana Atual

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