segunda-feira, 23 de julho de 2012



         Criança, escola e candomblé: uma relação delicada

    Jornalista Stela Guedes Caputo lança em Salvador, em uma série de eventos, o livro Educação nos Terreiros: e Como a Escola se Relaciona com as Crianças de Candomblé 

Durante duas décadas, a jornalista e professora carioca Stela Guedes Caputo acompanhou um grupo crianças iniciadas nos candomblés da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. E investigou como elas se relacionavam com questões como fé, tradição, preconceito e  educação. O resultado deste longo e interessante trabalho culminou numa tese de doutorado na UFRJ e no livro Educação nos Terreiros: e Como a Escola se Relaciona com as Crianças de Candomblé (FAPERJ-Pallas), que a autora lança em Salvador numa série de atividades entre os dias 29 de julho e 04 de agosto.  

O roteiro baiano de Stela prima pela diversidade, com encontros com públicos de diferentes perfis e com pesquisadores, educadores, ativistas e religiosos baianos. No domingo (29) ela estará na Bilbioteca Infantil Monteiro Lobato, em Nazaré, dentro da programação do Sarau Bem Legal. Na terça (31), vai à UNEB-Cabula, e no dia seguinte, quarta (01/08), participa do Sarau Bem Black, no Sankofa African Bar, Pelourinho. Na quinta (02/08), o encontro será no CEPAIA-UNEB no Santo Antônio. Nos dois últimos encontros a autora se encontra com o povo de santo: na sexta (03), ela conversa com a comunidade da Casa de Oxumaré, na Federação, e na sexta (04), na Casa Branca, situada na Vasco da Gama.

Além do lançamento, o objetivo geral da semana é debater a questão da intolerância religiosa nos meios educacionais oficias e os paradigmas que orientam a educação nas comunidades religiosas de origem africana. O primeiro contato direto de Stela com o tema começou no ano de 1992, quando ela escreveu a reportagem Os Netos de Santo para o jornal O Dia. A partir de então, afirma, duas questões básicas passaram a acompanhá-la: a diversidade na escola e a importância de outros espaços de educação fora da escola formal.  

“Nunca mais saí dos terreiros e me tornei amiga do tempo, porque foi preciso tempo para gestar esse livro. Muita gente maravilhosa escreveu sobre candomblé, mas sobre crianças em candomblé eu nunca achei livro algum. As crianças cresceram e tenho orgulho e gratidão por ter estado nessa caminhada. No livro partilho um pouco do que me ensinaram nas casas de candomblé, tanto as crianças e jovens como suas famílias. Partilho também o que vi de discriminação e racismo nas escolas”, afirma.

O ciclio de eventos é uma iniciatva do coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia e tem o apoio estratégico da Fundação Pedro Calmon e da Secretaria de Cultura da Bahia. Conta com parceria essencial da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, do Centro de Estudos da População Afro Índia - CEPAIA, dos Terreios Oxumaré e Casa Branca, além do Sankofa African Bar.

O livro - Educação nos Terreiros: Como a Escola se relaciona com Crianças de Candomblé 

Seguir a religião de seus pais é um dos primeiros caminhos que uma criança toma em sua existência. A integração de uma família em uma religião, no caso, o candomblé, revela a essa criança a razão de sua existência e a auxilia a superar obstáculos. "Educação nos Terreiros" abre um caminho para analisarmos a herança religiosa familiar e o candomblé como uma religião que marca o encontro de pessoas de vários matizes, adultos e crianças, compondo um núcleo de trabalho social e religioso.
Stela Caputo realizou uma pesquisa cuidadosa e detalhada, produto de vários anos de contato com a realidade do candomblé do Rio de Janeiro. Neste livro, ela discute a inserção dessas crianças na escola pública brasileira e a perspectiva de uma ação pedagógica deseducativa no que refere ao trato da diversidade religiosa nas salas de aula. Grupos religiosos hegemônicos e de matriz cristã, apoiados no artigo 33 da Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases, têm extrapolado o que diz a própria lei e implantado um clima de opressão à liberdade de expressão para muitas crianças, adolescentes, jovens e adultos negros e brancos, praticantes do candomblé e de outras religiões cuja base não é a judaico-cristã.  
(Divulgação - www.pallaseditora.com.br)

A autora - Stela Guedes Caputo

Jornalista, trabalhou no Jornal O Dia e em jornais sindicais. Fez mestrado e doutorado na PUC-Rio e pós-doutorado na UERJ. Hoje é professora da Faculdade de Educação da UERJ. No jornal O Dia, em 1993, recebeu com a equipe em que trabalhei, o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Em 2006 publicou o livro Sobre entrevistas (Vozes). 


PROGRAMAÇÃO

Domingo 29/07 10h - Biblioteca Infantil Monteiro Lobato – Nazaré
Coordenação: Rosane Rubim (3117.1433)
Mesa: Stela Guedes Caputo (UERJ), Maria Anória (UNEB), Jaime Sodré (UNEB), Nelson Maca (UCSal)

Terça-feira 31/07 14h - Universidade Estadual da Bahia (UNEB) - Campus do Cabula
Auditório Jurandyr Oliveira – DEDC1
Coordenação: Carla Liane (UNEB)
Mesa: Stela Guedes, Estélio Gomberg (UFBA), Ricardo Freitas (UNEB)
Inscrições: http://www.uneb.br/salvador/dedc/eventos/

Quarta-feira 01/08 19h - Sarau Bem Black - Sankofa African Bar – Pelourinho
Coordenação: Nelson Maca (9130.4618)
Lançamento e bate papo com o público

Quinta-feira 02/08 15h - Centro de Estudo das Populações Afro-Índias (CEPAIA-UNEB) 
Coordenação: Claudia Rocha (3241 0811\ 0840\0787)
Mesa: Stela Guedes, Claudia Rocha (UNEB), Valdélio Santos Silva (UNEB)

- 03/08 – Terreiro Casa de Oxumaré, Federação, 19h 
Coordenação: Rita Santos (9198.5923)
Mesa: confirmar participantes
*Traje: roupa branca ou de tonalidade clara

- 04/08 – Terreiro Casa Branca, Vasco da Gama, 17h 
Coordenação: Rita Santos (9198.5923)
Mesa: confirmar participantes

Realização: Blackitude: Vozes Negras da Bahia
Coordenação geral: Nelson Maca / Contato 91304618
Parcerias: Biblioteca Monteiro Lobato; Casa Branca; Casa de Oxumaré; CEPAIA – UNEB; Sankofa African Bar
Apoio: Fundação Pedro Calmon; SECULT-BA

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3 comentários:

Eneia Virginia disse...

Quanto custará o livro?

Anônimo disse...

É mio complicada essa relação da escola com a religião. No Brasil desenvolvemos uma consciência de que o cristianismo deve ser banido das escolas enquanto as religiões afro são até incentivadas. Eu não acho isso correto. A escola deve ser absolutamente laica, sem influência de nenhuma religião.

Pablo Moisés Pascitti

Nelson Maca disse...

"No Brasil desenvolvemos uma consciência de que o cristianismo deve ser banido das escolas enquanto as religiões afro são até incentivadas". Nossa Pablo, de que Brasil você fala? Se puder, dá uma olhadinha no livro da Stela Guedes!

Nelson Maca